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Muro com  a imagem de Che Guevara, nos arredores de Havana, Cuba: breve passagem por Curitiba | EOC/YL/ENRIQUE DE LA OSA
Muro com a imagem de Che Guevara, nos arredores de Havana, Cuba: breve passagem por Curitiba| Foto: EOC/YL/ENRIQUE DE LA OSA

Na segunda metade da década de 1960, antes de seguir para a morte na guerrilha boliviana em 1967, o guerrilheiro Ernesto “Che” Guevara teria passado alguns dias entre Curitiba e o norte do Paraná.

Durante esta viagem, Che dedicou-se a leitura de uma Bíblia em cujas páginas fizera anotações sobre um “cristo guerrilheiro”.

Cinquenta anos depois, esta bíblia virou um objeto de disputa entre ex-militantes da esquerda que hoje se tornaram figuras proeminentes da sociedade que combateram.

Este é o argumento de “A Bíblia do Che”, novo romance do escritor Miguel Sanches Neto lançado nesta semana pela Cia. Das Letras.

Para resgatar a bíblia, “fetiche” dos esquerdistas endinheirados, Sanches revive o professor Pessoa, personagem de seu romance “A Primeira Mulher” (Record, 2008) .

Arranha-Céu símbolo de Curitiba, edifício ASA é cenário do livro “A Bíblia do Che”

Novo romance de Miguel Sanches Neto é ambientando nos corredores de prédio misterioso do centro da cidade.

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Pessoa vivia recluso em uma sala comercial do edifício ASA (leia mais abaixo), no centro de Curitiba, quando se vê dentro de uma trama em que políticos, empresários corruptos e mulheres fatais se misturam num pastiche do gênero policial.

Para o próprio autor, o livro é um romance híbrido em que “os códigos do entretenimento e o ritual narrativo do romance policial é usado para fazer literatura”.

Escrito entre o segundo semestre de 2014 e o primeiro de 2015, a maior parte da ação se passa em Curitiba e tem como pano de fundo as agitadas primeiras fases da operação Lava Jato.

Sanches conta que foi impossível tirar da ambientação os bastidores da Lava-Jato, a instituição que “abriu o intestino político brasileiro” ao escancarar uma “estrutura corrupta e corruptora do sistema político, forte também no Paraná”.

Trilogia

A Bíblia do Che

Miguel Sanches Neto

Cia. Das Letras

288 páginas

R$49

Romance

A ideia do livro surgiu, segundo Sanches, de uma conversa com um médico que foi da luta armada nos anos 1970 e que teria ficado de posse de uma bíblia em que Che Guevara fizera anotações. “Uma informação no mínimo curiosa, um guerrilheiro apegado a uma bíblia”, observa.

Ainda que tenha ares de folclore, há registro oficiais da polícia da época sobre a passagem de Che pelo Paraná no Arquivo Público do estado, mas esse não é o aspecto que interessa ao autor.

Ele diz que figuras como Che povoam o imaginário coletivo por que são mártires que trocaram histórias de vidas possíveis por suas convicções. “O romancista trabalha mais com o imaginário do que com a história. O que me interessa é pensar como esta figura legendária foi e é cultuada e negada no Paraná e no Brasil”, diz.

Ele observa que seu romance não defende “nenhuma ideologia ou sigla, apenas coloca personagens em ação, como suas grandezas, suas misérias. Um livro de ficção vale em qualquer latitude”.

Sanches, que vive há um ano em Portugal, usa viagens no livro (para Cuba e Bolívia) para refletir sobre o tema que tem pesquisado.

Ele conta que “A Bíblia do Che” é o primeiro romance de uma trilogia sobre o turismo. “Aqui é a revolução como turismo. Gostaria de escrever um sobre a literatura como turismo e outro sobre o sexo como turismo”.

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