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Como indica o título, "O diabo veste Prada", que estréia nesta sexta-feira, trata do mundo da alta-costura. E sobre as agruras de se ter um chefe infernal. Como se pode ver, a frase mais ou menos resume o roteiro todo.

Isso não importa. A ida ao cinema vale a pena só para ver como se diverte Meryl Streep no papel da diabólica editora de moda Miranda Priestley. Com certeza essa comédia - que tem no elenco a supermodelo Gisele Bündchen numa participação - terá sucesso junto ao público feminino.

"O diabo veste Prada" é baseado no best-seller homônimo de Lauren Weisbeger, jornalista recém-formada que trabalhou durante um ano como assistente da todo-poderosa editora da "Vogue" americana, Anna Wintour. Após ser obrigada a ingerir o pão que o diabo amassou, Lauren se demite e decide se vingar da chefe escrevendo um romance. O que se vê no livro - e agora no filme - é a visão de alguém que viveu dentro do ambiente insanamente tenso que uma chefe loucamente exigente é capaz de criar.

A trama do filme é a seguinte: Andy Sachs (a atriz Anne Hathaway) acaba de se formar pela Universidade Northwestern. Embora saiba muito pouco sobre moda, vai trabalhar como assistente de Miranda, editora todo-poderosa da revista "Runway".

Andy pensa que um ano trabalhando na "Runway" vai enriquecer seu currículo e ajudá-la a alcançar sua meta de conseguir um emprego de repórter na revista "New Yorker". O problema é que Andy é totalmente inapropriada para seu novo emprego.

Nigel (Stanley Tucci, perfeito no papel), o braço direito de Miranda, olha para Andy e percebe o que está por vir. Mas são justamente sua ingenuidade e sua falta de conhecimento de moda que acabam garantindo o emprego a Andy. Todas as assistentes anteriores de Miranda, fashionistas devotas que corriam para cá e para lá em seus saltos-agulha, a decepcionaram. Então por que não experimentar a nerd?

Instalada na revista como assistente nº 2, subordinada à assistente nº 1, Andy é rapidamente submetida aos rigores do temperamento de Miranda.

O problema é que a moda é um negócio sério nos Estados Unidos, e a "Runway" pretende se manter no posto de a bíblia desse mundinho. Os padrões elevados só poderiam ser mantidos por uma editora "assassina". Por isso, Miranda - e, por algum tempo, também Andy - priorizam o trabalho, sempre. Todo o resto - marido, gêmeos e qualquer vida social fora do mundo fashion, no caso de Miranda, e, no de Anne, seu namorado (Adrian Grenier), amigos (Tracie Thoms, Rich Sommer) e um escritor sedutor (Simon Baker), vêm em um segundo lugar muito distante.

Com o tempo, fica claro que existe uma razão por trás da atitude insana de Miranda. Suas exigências incessantes são testes que visam expurgar da revista os funcionários que não estiverem à altura de sua própria busca implacável pela perfeição.

De fato, a moral final do filme - de que isso não é maneira de se viver bem - parece vazia, porque "O diabo veste Prada" deixa transparecer uma ambivalência inequívoca em relação à "Runway". Com sua admiração relutante pelas criações fabulosas da alta-costura e o estilo de vida glamuroso associado a elas, o filme acaba idolatrando aquilo que, supostamente, se propõe a satirizar.

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