
David Lynch já havia ingressado no seleto time dos diretores autorais do cinema norte-americano, quando, em fins da década de 1980, surgiu a possibilidade de ele criar uma série para a televisão, em parceria com Mark Frost, roteirista do aclamado seriado policial Hill Street Blues, exibido nos Estados Unidos entre 1981 e 1987, pela rede NBC.
O Homem Elefante (1980) e Veludo Azul (1986) haviam rendido a Lynch duas indicações ao Oscar de melhor direção. Os críticos estavam fascinados tanto pelo depurado rigor estético de seu cinema, algo evidente desde o longa-metragem de estreia, Eraserhead (1977), quanto com a evidente habilidade do cineasta em criar tramas desconcertantes, provocativas.
O olhar lançado sobre a típica vida suburbana norte-americana, revelado em Veludo Azul, até hoje um dos maiores sucessos na carreira do diretor, intrigou o público e a indústria, que, de alguma forma, queria trazê-lo para o entretenimento de massa.
Dessa busca por inovação e choque, nasceu a série Twin Peaks, que fará 25 anos em 2015, mas começa a ser celebrada desde já, com o lançamento em Blu-ray de Twin Peaks: o Mistério. No box estão, em alta definição, as duas temporadas produzidas no início da década de 1990, bem como o filme Fire Walk with Me/ Os Últimos Dias de Laura Palmer (1992), cuja trama reconstitui fatos cronologicamente anteriores à ação do seriado e também alguns acontecimentos ocorridos após o seu desfecho.
A caixa, que acaba de chegar às lojas brasileiras, contém 90 minutos de cenas inéditas, excluídas na edição final, e takes alternativos feitos para o piloto da série, que teve duas edições, uma para o mercado norte-americano e outra para o internacional, com um desfecho mais claro e fechado, para que pudesse ser lançada como uma obra independente, caso o seriado não emplacasse. O pacote também apresenta um novo minifilme com Lynch e os atores que viveram a família Palmer, incluindo um retorno às vidas dos personagens hoje.
Melodrama
Há, no entanto, uma razão ficcional para que Twin Peaks: o Mistério tenha sido lançado um ano antes de seu 25.º aniversário. Em um dos episódios da trama, que se desenrola em 1989, a personagem central, Laura Palmer (Sheryl Lee), cujo assassinato é o ponto de partida da história, aparece em um dos sonhos do agente do FBI Dale Cooper (Kyle McClachlan), encarregado de investigar sua morte, e sussurra em seu ouvido: "Verei você em 25 anos". A promessa foi cumprida.
Embora Twin Peaks gire em torno de um crime e, a rigor, possa ser classificada como uma obra de suspense e mistério, Lynch e Frost beberam de outras fontes ao criar a série. Uma das influências inegáveis são as soap operas, telenovelas exibidas no horário vespertino pelos canais norte-americanos.
São tramas mirabolantes, muitas vezes inverossímeis, exibidas anos a fio, que têm fortes conexões com o cinema melodramático norte-americano dos anos 1950 e 1960. Sabe-se que uma das grandes inspirações da série foi o filme A Caldeira do Diabo (1957), de Mark Robson, que fez enorme sucesso em todo o mundo ao retratar a vida de uma pequena cidade norte-americana, cuja aparente calmaria esconde segredos, intrigas e escândalos.
O êxito do longa, que chegou a ser indicado ao Oscar de melhor filme, foi tamanho, que daria origem a um seriado televisivo homônimo, exibido entre 1964 e 1969, revelando os jovens Ryan ONeill (de Love Story Uma História de Amor) e Mia Farrow (O Bebê de Rosemary).
De A Caldeira do Diabo, veio a ideia de contar, em Twin Peaks, uma história que envolvesse personagens de uma pacata localidade no estado de Washington, no noroeste dos EUA, que da noite para o dia, em decorrência de um crime traumático, visse seus segredos mais terríveis virem à tona. GGGGG





