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Cinema

O enigma de Ledger

Sai no Brasil biografia póstuma do ator, cujo último filme poderá estrear no Festival de Cannes, em maio próximo

Heath Ledger em uma das cenas de The Imaginarium of Doctor Parnassus: três outros atores completaram o filme | Divulgação
Heath Ledger em uma das cenas de The Imaginarium of Doctor Parnassus: três outros atores completaram o filme (Foto: Divulgação)

Em meio a boatos de que The Imaginarium of Doctor Parnassus, o último trabalho do australiano Heath Ledger (1979-2008), estará na seleção do 62º Festival de Cannes, em maio, uma biografia do astro que assombrou o cinema como o Coringa de Batman — O Cavaleiro das Trevas remove as sombras de uma trajetória interrompida por uma overdose de medicamentos.

Fragilidade e rebeldia é o binômio usado por Heath Ledger – O Astro Sombrio de Hollywood (Panini Books), de Brian J. Robb, para descrever o ganhador do Oscar de melhor ator coadjuvante de 2009. Robb apresenta o filho do casal Kim (engenheiro de mineração) e Sally (professora de francês) como alguém que se deparou com uma bifurcação rara na indústria do entretenimento, "podendo escolher tanto o caminho para o estrelato internacional quanto para o domínio completo de sua arte".

Tal cisão gerou uma força dramática comparada à de Mar-lon Brando. Batizado com o diminutivo de Heathcliff, protagonista do romance O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Brontë, Heath Andrew Legder, que teria completado 30 anos no último dia 4 de abril, morreu em meio a um processo de descobertas estéticas dissecado nas 248 páginas do livro.

Ao longo delas o autor tenta refazer o percurso profissional (e existencial) que conduziu Ledger à morte por um coquetel de ansiolíticos, analgésicos e pílulas para dormir – seu corpo foi encontrado em um apartamento no SoHo, em Nova Iorque, no dia 22 de janeiro do ano passado.

Revirando entrevistas do astro, ouvindo parentes e entrevistando as mulheres que Ledger amou, Robb compõe um perfil pontuado pela inquietação. "Muitas pessoas só pensam em ambição ou sucesso. Elas pensam em dólares... Para mim, sucesso é conseguir ficar à parte disso. No fim das contas é a única coisa que você vai levar quando morrer", disse Ledger em entrevista após a consagração de O Segredo de Brokeback Mountain (2005), de Ang Lee, que valeu sua primeira indicação ao Oscar.

Segundo Robb, Ledger atuava a partir de uma lógica que, para teóricos de interpretação, pode ser insalubre: "Sempre vou me fazer em pedaços e dissecá-los", dizia o ator. "Não há perfeição no que fazemos. Filmes pornôs são mais perfeitos do que os nossos porque eles estão trepando de verdade".

Para perseguir uma interpretação "verdadeira", que imprimisse em cena angústias sinceras, Ledger tratava a si mesmo como se fosse uma fraude a ser desmascarada a cada novo filme. "Sempre passo pelo processo de odiar o papel, odiar a mim mesmo, pensando que enganei a todos". Nem os elogios que conquistou como Ennis Del Mar, um caubói atormentado pelo desejo homossexual em Brokeback Mountain, arrefeceram sua verve autocrítica. Criador do Coringa nas HQs do Batman, o cartunista Jerry Robinson diz que considera fascinante o desempenho de Ledger na pele do "Palhaço do Crime". "Ele trouxe novas dimensões ao Coringa. Embora tenha dado seu tempero pessoal ao personagem, ele se remeteu ao conceito original do vilão dos anos 1940", diz Robinson.

Terry Gilliam convocou Jude Law, Colin Farrell e Johnny Depp para se revezarem nas sequências de The Imaginarium of Doctor Parnassus que Ledger não completou. Gilliam vê no ator a alma do filme, que é uma fantasia sobre uma trupe teatral. "Todos estavam tão empenhados em fazer o longa funcionar que o fizemos de uma maneira que ele pode ter ficado ainda mais extraordinário. Eu não quis que nenhum momento de Heath se perdesse. Isso é a essência de Parnassus", disse Gilliam à imprensa dos Estados Unidos.

Serviço

Heath Ledger – O Astro Sombrio de Hollywood. Panini Books, 248 págs., R$ 38.

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