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Arte

O grafite nas telas

Documentário Cidade Cinza, em cartaz no Espaço Itaú, discute o papel da arte urbana e escancara a falta de planejamento das grandes cidades para lidar com o tema

(De cima para baixo) Obras dos artistas Nunca, Nina e Os Gêmeos na cidade de São Paulo: queda de braço com a prefeitura é tema de documentário | Divulgação
(De cima para baixo) Obras dos artistas Nunca, Nina e Os Gêmeos na cidade de São Paulo: queda de braço com a prefeitura é tema de documentário (Foto: Divulgação)

Qual a influência que o grafite exerce sobre uma metrópole cinza como São Paulo? Apesar de a street art ter ganhado espaço no país e no exterior, a arte feita nas ruas ainda tem muitas barreiras e preconceitos para quebrar. E é esta a discussão proposta pelo documentário Cidade Cinza, de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, em cartaz desde a última sexta-feira, 22, no Espaço Itaú de Cinema (veja o serviço completo no Guia Gazeta do Povo).

Os diretores partem do trabalho de artistas consagrados, como a dupla Os Gêmeos (Otávio e Gustavo Pandolfo), Nina Pandolfo, Nunca, Ise, Finok, Zefix, entre outros, para refletir sobre como o grafite interfere positivamente no caos urbano.

O filme traça, ainda, um rápido resgate histórico sobre o movimento no Brasil e traz algumas particularidades interessantes. Pela falta de material nos anos 1980, por exemplo, muitos artistas utilizavam (e usam até hoje), tinta e rolo ao invés de apenas o spray, o que tornou o grafite nacional único.

Entretanto, o que Cidade Cinza consegue apontar é ainda mais amplo: a carência cultural e a falta de planejamento urbano nas grandes cidades.

Um dos episódios retratados no filme é um impasse que o então prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, teve com a dupla Os Gêmeos e outros artistas em 2008. Parte de um painel pintado pelos artistas na ligação entre as zonas leste e oeste da cidade, patrocinado, foi apagado pela prefeitura. Detalhe: a obra tinha sete metros de extensão.

No documentário, esse embate está presente o tempo todo. De um lado, os artistas, a maioria consagrados internacionalmente – Nina, Os Gêmeos e Nunca pintaram obras públicas por todo o mundo, como o castelo medieval de Kelburn, na Escócia. Curitiba também já teve a oportunidade de ver obras da dupla em 2008, quando a exposição Vertigem passou pelo Museu Oscar Niemeyer. De outro, a patrulha da prefeitura e seus terceirizados, que buscam uma "cidade limpa", mas não conseguem definir o que apagam ou não.

Sem critérios definidos, eles escolhem o que é "bonito ou feio" de forma subjetiva, e até cômica, mostrando o total despreparo e a incoerência do poder público ao tratar do assunto. O que é considerado pichação pelas equipes ganha uma camada tosca de tinta cinza. Por baixo, ainda se veem os resquícios da arte e a discussão dos próprios trabalhadores. Muitos divergem sobre o que merece ser apagado, e outros até dão palpite no grafite alheio.

Os depoimentos dos artistas e de moradores de São Paulo, além de flagrantes das reações de motoristas que, no meio dos engarrafamentos estressantes da capital paulista, se deparam com grandes painéis ajudam o espectador a refletir sobre o que é arte urbana, e como ela interfere positivamente no cotidiano cercado pelo concreto sem cor.

Mais impasses

Infelizmente, o "grafita-apaga" persiste na nova gestão da prefeitura de São Paulo, do prefeito Fernando Haddad. Em maio, foi apagado novamente (por três vezes, em poucas semanas) um painel feito pelos Gêmeos no Viaduto do Glicério, centro da capital paulista. GGG

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