
O desenhista e ilustrador Ramon Muniz era um adolescente curitibano normal no final dos anos 1980, até que teve uma epifania: descobriu o universo "estranho e genial" da música de Frank Zappa (1940-1993).
Desde então, todo o trabalho e até a vida pessoal do "zappafanático" têm influência deste universo. "Comprei discos, gravava fitas de álbuns de amigos... Devorei tudo o que ele produziu, desde as várias dezenas de discos e obras póstumas, até os filmes, livros, o trabalho dele como produtor de outros artistas, tudo", conta.
A fisionomia peculiar de Zappa, seu cavanhaque inconfundível, o nariz adunco e as sobrancelhas expressivas se transformaram em material recorrente para os desenhos de Muniz. "Era o personagem que eu desenhava naturalmente. Um dia eu comprei um VHS e ficava pausando e desenhando Zappa", lembra.
Em 1994, um ano após a morte do ídolo, Muniz manteve o primeiro contato com o músico Dweezil Zappa, filho e herdeiro do legado musical do pai. Ele encomendou e recebeu em Curitiba fitas de vídeo com apresentações da banda de Dweezil, a Z Band.
Quase 20 anos depois, em dezembro de 2013, numa manhã difícil na agência de publicidade em que Muniz trabalhava, em São Paulo, ele decidiu enviar um dos milhares de desenhos de Zappa que produziu para o endereço eletrônico de Dweezil.
"Foi algo bem despretensioso. Mandei o e-mail e fui almoçar", conta. "Quando voltei, ele tinha me respondido: Grande material. Será que algum dia poderemos fazer alguma coisa juntos? Fiquei nas nuvens", revela.
Os dois começaram a colaborar, on-line, nas peças de publicidade da turnê internacional da banda Zappa Plays Zappa, em que o filho recria com alguns antigos parceiros de seu pai músicas de várias fases do universo de Zappa. "O prazo era curto e ele é um cara superdetalhista e exigente, mas também é aberto e agradável."
Muniz conta que Dweezil sugeriu como referência "algo na linha" de Tanino Liberatore, ilustrador italiano autor da capa do álbum The Man from Utopia, de 1983.
Sobrancelhas
"Eu falei para ele [Dweezil]: este cara é um mestre, vou tentar... Demorei mais para pesquisar o que iria desenhar, escolher qual foto, idade, cabelo, guitarra que tinha de aparecer", conta Muniz.
Com carreira longa na comunicação e na publicidade trabalha atualmente na agência WMcCann, em São Paulo, já ilustrou na Gazeta do Povo e Editora Abril e faz colaborações para o jornal literário Rascunho desde a primeira edição o ilustrador considera este seu trabalho mais importante.
"Tinha uma responsabilidade tripla: fazer a melhor ilustração possível para o Dweezil, para o Frank e para um dos caras mais fanáticos pela sua música do Zappa, que sou eu."
O resultado agradou em cheio o seu cliente. A parceria deve continuar na capa do próximo disco de Dweezil. "O Zappa dizia que a música só ficava pronta depois de colocar a sobrancelha nela. Eu acho que consegui colocar a sobrancelha nos desenhos", ri.




