
Em meio aos versos da esotérica "Gita", faixa-título do segundo álbum de Raul Seixas, lançado em 1974, o cantor parecia já saber a importância de seu nome para a música brasileira, enquanto estava vivo e depois que já tivesse partido: "Eu sou o início, o fim e o meio". A profecia se concretiza agora, 20 anos após sua morte, data que motivou antigos fãs e admiradores da nova geração a vasculharem por novidades no famoso baú do Raul, dando origem a uma série de lançamentos sobre o roqueiro baiano.
Um livro sobre suas referências filosóficas, um audiobook com sua biografia, um DVD com imagens e canções inéditas, um documentário, uma exposição de fotos e um especial de tevê estão entre as novidades que chegam ao mercado brasileiro no embalo das duas décadas sem o Maluco Beleza em vida "a zumbizar" (leia mais no quadro ao lado).
Produzido por Marco Mazzola, amigo pessoal e produtor favorito de Raul, o kit CD + DVD 20 Anos Sem Raul traz boas novas à legião de fãs do cantor baiano. Entre elas a faixa inédita "Gospel", censurada durante a ditadura militar em 1974. Encomendada a Raul e Paulo Coelho pela Rede Globo, a música integraria a trilha sonora da novela O Rebu quando foi proibida. Mesmo assim , Raul gravou a canção em versão voz e violão e a esse material, guardado por Mazzola durante 35 anos, foram somadas a guitarra de Frejat, mais as participações dos músicos Chris Oyens (banjo), Marcelo da Costa (bateria), Maurício Barros (piano), Bruno Migliari (baixo) e Dirceu Leite (clarinete), além de um coro gospel. Junto com a faixa inédita, no CD que compõe o kit também podem ser ouvidas versões em inglês para "O Trem das Sete" ("Morning Train"), "S.O.S." ("Orange Juice"), "Asa Branca" ("White Wings") e "Ouro de Tolo" ("Fools Gold").
Já o DVD conta com uma reedição do documentário Raul Seixas Também É Documento, lançado em 1998, diretamente em VHS. Com apenas 30 minutos de duração, a produção é, na verdade, uma colagem de trechos de entrevistas concedidas a diversos programas da Rede Globo, entre 1976 (à Nelson Motta) e 1985 (à Marília Gabriela), junto a imagens de shows e videoclipes de Raulzito, incluindo a faixa "Maluco Beleza", interpretada em coro durante a última apresentação ao vivo do roqueiro, no Canecão, no Rio de Janeiro, em 1989.
Na sexta-feira também chegou às bancas de jornais de todo o país o livro Metamorfose Ambulante Vida, Alguma Coisa Acontece; Morte, Alguma Coisa Pode Acontecer, de Mário Lucena, Laura Kohan e Igor Zinza, que busca analisar as letras de Raul Seixas a partir de suas principais referências filosóficas, entre elas as de Jean-Paul Sartre (1905 1980), Aleister Crowley (1875 1947) e Arthur Schopenhauer (1788 1860), por quem o músico era obcecado.
No entanto, o lançamento mais aguardado da lista deve ficar disponível ao público apenas no fim do ano. Trata-se do documentário Raul Seixas O Início, o Fim e o Meio, de Walter Carvalho (Budapeste) e Evaldo Mocarzel (À Margem do Concreto), que registrou em filme vida e obra do cantor baiano a partir de depoimentos de amigos, parceiros musicais, familiares e ex-mulheres.
Encerradas no último fim de semana, as filmagens tiveram início no mês de abril, na Bahia, de onde a equipe seguiu para Rio de Janeiro, São Paulo, Estados Unidos e Genebra. A previsão é de que o filme seja finalizado ainda esse ano e que chegue aos cinemas no início do ano que vem.



