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Jamie Foxx e Robert Downey Jr.: encontro marcado pelo destino | Divulgação
Jamie Foxx e Robert Downey Jr.: encontro marcado pelo destino| Foto: Divulgação

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Em março de 2005, o jornalista Steve Lopez tropeçou, sem querer, na grande pauta de sua carreira. Colunista do diário Los Angeles Times, o repórter buscava na cidade, na vida que ninguém vê da metrópole, matéria-prima para seus textos. E acabou conhecendo Nathaniel Ayers Junior, um sem-teto negro, com visíveis problemas mentais e que tinha como singularidade o fato de tocar um violino de duas cordas. Fã de Beethoven, o homem lhe contou que havia estudado Mú­­sica em Nova York, na Juilliard, uma das maiores escolas dos Es­­ta­­dos Unidos. Se fosse verdade, o jornalista teria encontrado um per­­sonagem e tanto.

O Solista (assista ao trailer e veja as fotos), filme baseado no livro que resultou desse encontro marcado pelo destino, busca discutir um tema delicado – e da maior importância. É legítimo a imprensa se apropriar da vida de um indivíduo, por melhores que sejam as intenções do profissional em ques­­­tão, para transformá-la em conteúdo para suas reportagens? Se depender da experiência vivida por Lopez, essa é uma questão difícil de ser respondida.

Na pele de um Robert Downey Jr. (de Homem-de-Ferro) em grande forma, o colunista é um tipo intrigante. Verborrágico, porém blindado emocionalmente, ele convive no trabalho com sua ex-mulher, Mary (Catherine Keener, de Ca­­pote), editora do L. A. Times. Mais do que um bom desempenho no trabalho, ela lhe cobra o fato de ter sempre colocado sua paixão pelo jornalismo e por si próprio acima dos assuntos familiares. Parece ser verdade e sua obsessão por Natha­­niel (Jamie Foxx, de Ray, algo exagerado no papel) corrobora essa tese.

Em seu processo de apuração, Lopez descobre que Nathaniel não chegou a se formar, mas estudou mesmo na Juilliard. Só que seu instrumento não era o violino, mas o violoncelo, descoberto ainda na adolescência e abraçado com fervor quase doentio. Embora manifeste, desde cedo, sintomas de ser portador de algum distúrbio psíquico, o primeiro surto psicótico só se dá na idade adulta, quando já é aluno da escola nova-iorquina. Começa a ouvir vozes enquanto ensaia e não suporta a ideia de permanecer preso em um apartamento. Sente-se ameaçado, vigiado. É a esquizofrenia batendo à porta.

Tocante

Dirigido pelo competente diretor britânico Joe Wright (de Desejo e Reparação), O Solista é um filme digno, tocante, mas que padece de uma fragilidade que lhe é quase fatal. Não consegue decidir-se en­­tre focar em Lopez ou em Nathan, entre discutir os limites éticos do jornalismo e a doença mental (e social) de Nathaniel. Como é baseado no relato de Lopez, nesse em­­bate é mais consistente o questionamento sobre o perigoso envolvimento do repórter com seu personagem, que passa a vê-lo como uma espécie de deus salvador, capaz de resgatá-lo do estado de indigência em que vive e permitir-lhe viver o sonho de fazer música.

O jornalista, por sua vez, descobre que, com o privilégio de partilhar com Nathaniel uma história tão rica, vem a responsabilidade de ter interferido na já frágil existência de seu personagem. Uma constatação que altera sua forma de enxergar seu ofício. Essa discussão vale o filme. GGG1/2

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