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Slideshow | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Slideshow| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

A platéia entra na pequena arena do Teatro Paiol e assusta-se com a figura de um homem apertado em roupas de menino, suspenso em uma carteira de escola, nas sombras. Trata-se da composição de cena que perdurará até o final de O Incrível Menino Preso na Fotografia, espetáculo de São Paulo escrito e dirigido por Fernando Bonassi, apresentado ontem e anteontem no Teatro Paiol como parte da Mostra Oficial do FTC.

O personagem é um menino de mais, ou até muito mais, de 40 anos, preso em uma daquelas clássicas fotografias dos alunos de escola pública, típicas dos anos 70. Ele está sentado em uma escrivaninha, que tem sobre ela material escolar, duas bandeiras (a nacional e a do Paraná), um globo e uma placa com os dizeres "6.ª série A -13".

Mas, não pense que se sentirá entediado só porque o personagem mantém seu traseiro, antes pequeno e redondo, agora gordo e flácido, sentado na carteira e posando para a foto ao longo de todo o espetáculo, de 50 minutos. Sua mobilização ao invés de cansar, provoca incômodo, porque nos faz enxergá-la em nós mesmos. A esperança vã de que ela se quebre, a qualquer momento, nos faz ficar suspensos na ponta da cadeira, tensos. Mas, aí ele vem com a frase que é pra rir e chorar: "Muito do que acontece acontece porque a gente se mexe...". O tema é a justamente essa imobilização de um personagem (e, nas entrelinhas, nem tão sutis, de um país chamado Brasil) que por mais que se agite, está paralisado, apropriando-se das falas do próprio autor.

O texto de Bonassi já é por si só irônico, cômico, trágico, amargo. Na verdade, suas palavras são tudo o que é dito no espetáculo. Mas, ele não seria teatro sem a presença acachapante do ator Eucir de Souza e sem o eficiente projeto de iluminação de Davi de Brito. A cada reação de Souza, a luz se altera, dando novos tons à fotografia, e o público se surpreende com a capacidade do ator de variar matizes de voz, de expressão facial e de olhar para interpretar uma mesma fala.

Quando a luz se acende, só para citar um dos inúmeros bons momentos da peça, é de arrepiar o rosto pálido do "menino" sob uma luz de geladeira. Um fantasma congelado apresentando-se aos berros: "Eu sou o incrível, fantástico, impensável e indescritível menino preso na fotografia!". A apresentação é feita três vezes, primeiro com raiva, depois com dois tipos de calma – só vendo para entender. Afinal, teatro é o autor expressando no palco coisas que transformam e superam as palavras. GGGG

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