• Carregando...
 |
| Foto:
  • Traços rápidos e sujos ajudam a criar o clima da HQ de S. Lobo e Odyr
Veja também

Chuva, escuridão, maltrapilhos à espreita, mortes. O cenário descrito poderia remeter a algum conto soturno de Edgar Allan Poe, mas é a pura realidade de uma praia do Rio de Janeiro. As mãos do roteirista S. Lobo e do desenhista Odyr criaram Copacabana (Desiderata), HQ que mostra as entranhas do cartão-postal carioca.

Em traços sujos, personagens do submundo são a atração dos quadrinistas gaúchos. Prostitutas, drogas e assassinatos surgem em preto-e-branco ao longo de 14 capítulos. Os olhos desfocados de Odyr ainda dão vida a travestis, traficantes, estrangeiros, meninos de rua e velhos que vivem naquele microcosmo sórdido.

A protagonista da história é Diana, que disputa esquinas na Avenida Atlântica. Seu habitat é no circuito Help-Cicciolina, duas boates, onde ela "ganha o pão comendo a carne". Diana é forte, mas vive com graça e tem estranha dose de charme. A história – quase um policial noir – se desenrola acompanhando o trabalho da moça.

Para a mãe, que pede dinheiro constantemente, Diana é uma mulher que trabalha em um hospital carioca. Mas, nas ruas de Copacabana, a mulher vira mercadoria. Usa óculos escuros para esconder hematomas no rosto. Faz vários programas por dia. E, mesmo assim, tem problemas para pagar seu cafetão e as visitas regulares ao ginecologista.

A solução para arranjar a grana é dar um golpe em um estrangeiro – que fracassa de forma quase patética. Aí entram em cena gangues, tiros, vilões e o ritmo do livro aumenta, acompanhando os traços que já extrapolam seus quadros. Entre um programa e outro, e tentando resolver a situação que criou, a prostituta se apaixona por um escritor marginal.

Romântico, Álvaro agrada sua amada e ignora seu trabalho. Chega até a fazer programa com uma de suas amigas, como se quisesse fazer parte daquele mundo. Provoca a ira da companheira e ganha um copo de chope na cabeça.

Pelos olhos de Diana, a narrativa apresenta o sexo de forma banal e até engraçada, como quando finge ter prazer com clientes ou atende um pedido inusitado de uma dupla de jovens.

Para dar vida à história, Lobo burilou as informações acumuladas ao longo dos anos, filtrando o que via, ouvia e intuía pelas ruas em um trabalho que se assemelha a de um cronista urbano. A isso, somou lendas urbanas e imaginação.

Odyr conheceu o roteiro de Copacabana e viu-se atraído por suas possibilidades. "Em alguns casos, quando a história é criada pelos dois, há quase coautoria, mas, no caso de Copacabana, Lobo já tinha o roteiro pronto por alguns anos antes de me conhecer. E, claro, são duas sensibilidades diferentes que se juntam", explica o quadrinista.

As primeiras letras que aparecem no livro podem servir como resumo dessa ópera marginal que traz o avesso de um cartão postal. "Alguém disse uma vez que, se Copacabana fosse murada, virava um hospício e se fosse cercada virava um zoológico".

Serviço

Copacabana. Roteiro de S. Lobo. Desenhos de Odyr. Editora Desiderata, 200 pág., R$ 39,90.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]