• Carregando...

Cronologia

1825 – Nasce, no dia 2 de dezembro, d. Pedro II, sétimo filho do casamento de d. Pedro I com a imperatriz Leopoldina.

1826 – No ano em que o Brasil assina Tratado de Abolição do Tráfico, morre d. Leopoldina (em 11 de dezembro).

1834 – Morre, em Portugal, d. Pedro I do Brasil e IV de Portugal, no mesmo ano em que termina a Inquisição espanhola.

1840 – Golpe da Maioridade acontece em 23 de julho. Na França, nascem os pintores Claude Monet e Pierre Auguste Renoir.

1841 – A coroação de d. Pedro II se dá em 18 de julho. Na mesma época, termina a revolta da Balaiada no Maranhão.

1857 – D. Pedro II cria a Imperial Academia de Música e a Ópera Nacional. José de Alencar publica O Guarani.

1889 – República é proclamada em 15 de novembro. Dois dias depois, a família imperial parte para o exílio.

1891 – D. Pedro II morre no dia 5 de dezembro em Paris, meses depois de sua paixão mais duradoura, a condessa de Barral.

Fonte: Livro D. Pedro II – Ser ou Não Ser (Companhia das Letras).

Veja também

Um naco do fascínio provocado pela biografia D. Pedro II – Ser ou Não Ser está nos momentos em que José Murilo de Carvalho se dedica à vida amorosa do protagonista, um tópico bastante especulado que serviu (e serve) àqueles que esperam achar deslizes na trajetória do homem reconhecido como íntegro até por seus desafetos.

"Creio que a imagem pacata de d. Pedro II e sua incontestável honestidade não favorecem tanto o cultivo de lendas. Mas, certamente, os esforços para identificar possíveis amantes fazem com que alguns autores comentam impropriedades", diz Isabel Lustosa, autora de D. Pedro I.

Apesar de ter sido muito mais comportado que o pai, Pedro de Alcântara também teve seus momentos de amante febril.

"O único caso documentado e assim mesmo ambíguo de uma relação afetiva de d. Pedro II com outra mulher fora do casamento foi com a condessa de Barral. A menos que o livro do José Murilo nos revele mais alguma coisa", emenda Isabel.

O fato é que Carvalho deslinda, sim, vários detalhes. Além da correspondência com Barral – por quem sustentou uma "paixão eterna, sem deixar de ser chama" –, o historiador cita originais de cartas guardados na Biblioteca Nacional, escritas por Eponine Otaviano, Clair d'Azy, condessas de Villeneuve e de La Tour, e Anne de Baligand.

Um correspondente dedicado, o monarca era capaz de conduzir discussões intelectuais, tratando de política e de livros, mas também sabia ser romântico. Em uma resposta à Villeneuve, surge um d. Pedro II "quase irreconhecível, tomado por paixão violenta quase aos 60 anos de idade" e capaz de fantasiar uma cena de amor tórrida no sofá da casa da condessa, "imaginando corpos entrelaçados, desfalecendo de prazer". Em outra carta, ele atinge o clímax: "Não consigo mais segurar a pena, ardo de desejo de te cobrir de carícias".

Por mais de um século desde a morte de d. Pedro II – e mesmo antes dela –, existiram especulações relacionadas às suas vidas pública e pessoal. "Não gosto das versões que vêem o século 19 brasileiro como uma espécie de grande brincadeira de brancos europeus no jardim de infância tropical", afirma o professor Carlos Alberto Medeiros Lima, da Universidade Federal do Paraná.

Para Miriam Dolhnikoff, da Universidade de São Paulo, um erro comum é o de "conferir ao imperador toda a iniciativa política no império, como se de sua vontade pessoal emanassem todas as decisões importantes do período".

De marionete da Inglaterra a semideus, d. Pedro II foi pintado de várias maneiras. Talvez a mais comum e (quase) consensual seja a do "imperador mecenas", adotada, por exemplo, na enciclopédia Saga, publicada pela Abril Cultural no início dos anos 80.

O avô, d. João VI, realizou mudanças que definiram o Brasil – da criação do Conselho de Estado (1808) à inauguração do Teatro São João (1813), passando pela abertura da Real Biblioteca (1811). "D. João deu ao Brasil 800 anos de História em um", afirma o colecionador de antigüidades Alberto Abujamra Asseis.

Já o neto, primeiro governante a nascer no país, apaixonado por artes e ciências, assumiu para si a responsabilidade de incentivar a criação de escolas, de profissionalizar os cientistas e artistas brasileiros, bem como de importar figuras respeitadas de ambas as áreas.

Citando trabalho da historiadora Maria Alice Rezende de Carvalho, o professor Lima aponta, como uma das influências de d. Pedro II, Félix Emílio Taunay, por sua vez, muito ligado à Missão Francesa que veio ao Brasil, formada por pintores e arquitetos, cujos trabalhos fazem parte de uma exibição temporária no Museu Oscar Niemeyer.

"Taunay comunicava ao imperador, no final do Império, uma ênfase meio napoleônica, de reforço do Estado englobando aristocratas em alguns projetos de mudança", explica Lima.

Isabel Lustosa vê em d. Pedro II um governante empenhado em incluir o Brasil no contexto mundial. "Ele se dedicou ao progresso das artes, das letras e das ciências e estimulou a formação de muitos intelectuais, cientistas e artistas de seu tempo", diz.

Além de desempenhar uma função próxima à que o CNPq tem hoje – fomentando pesquisas, ajudando na formação de cientistas e na publicando de livros –, d. Pedro II usava suas viagens para conhecer escolas estrangeiras e trazer obras de arte ao país, abrigadas hoje pela Quinta da Boa Vista, parque público onde fica o Zoológico do Rio de Janeiro e o Museu Nacional do Brasil. Este instalado no Paço de São Cristóvão, palácio que serviu de residência à família imperial. No acervo do museu, estão utensílios indígenas, múmias egípcias, objetos arqueológicos, entre outros artefatos.

Com "longas barbas brancas e penetrantes olhos azuis", Pedro de Alcântara destoava da população mestiça, negra e indígena do Brasil. Dá para entender seu carisma quando se sabe, por exemplo, que costumava usar uma murça de penas de tucano e um manto com ramos de café e tabaco, símbolos da nação, de acordo com descrição de Lilia Moritz Schwarcz em As Barbas do Imperador.

Em Pedro II e o Século XIX (Nova Fronteira, 1975), Lídia Besouchet escreve que a orfandade de pai e mãe, a precipitação da maioridade e o casamento decepcionante com a "feia" Teresa Maria Cristina de Bourbon fizeram os brasileiros "derramarem todas as suas reservas de ternura sobre d. Pedro II".

Hoje

Para Isabel Lustosa, a imagem do imperador derradeiro do Brasil inspira uma espécie de nostalgia de uma época em que "havia homens públicos realmente movidos por um sentimento cívico".

Menos saudosista, Miriam Dolhnikoff acredita que a história de Pedro II pode mostrar que a política nacional ainda é influenciada pelo culto aos indivíduos que ocupam os principais cargos públicos, como se fossem senhores do destino do país. "Superamos a monarquia, vivemos hoje em uma república democrática, mas temos com nossos políticos, em especial aqueles que ocupam a presidência da república, uma expectativa de que sejam capazes de resolver todos nossos problemas, como se também não fôssemos responsáveis pelo que acontece no país."

Para o professor Carlos Alberto Medeiros Lima, o Segundo Reinado ensina muito sobre as dificuldades na construção de um Estado moderno, período em se misturaram autoritarismo, corporativismo e instituições liberais. "Essa mistura ter sido necessária para refundar o Estado e para conduzir ou ser conduzida pela crise da escravidão ensina muito sobre o Brasil, sobre problemas que ainda temos que enfrentar."

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]