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"Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife" é o nome do mais celebrado painel de Cícero Dias. É, também, uma alusão aos caminhos do artista recifense, morto em 2003, aos 95 anos, em decorrência de causas naturais. Sua vida de menino de engenho, uma rotina de traquinagens e trangressões ingênuas, com a presença do cangaço, das enchentes, da escola e dos primeiros amores, ligou sempre o criador à sua terra natal e suas cores. Sua morte encerrou oito décadas de produção que lhe garantiram um dos postos mais altos no modernismo brasileiro. Retomar esse legado é o propósito da mostra Cícero Dias – Oito Décadas de Pintura, abre para o público amanhã, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.

"Eu Vi o Mundo... Ele Começava no Recife", que mede 12 metros de extensão e dois de altura, é uma entre as 200 obras exibidas, que percorrem toda a carreira de Cícero Dias. De acordo com o curador, Waldir Simões de Assis Filho, trata-se da maior e mais abrangente mostra já dedicada ao artista. O percurso traçado abrange desde o primeiro quadro pintado pelo artista aos 14 anos, até um painel realizado para a Praça do Marco Zero, no centro histórico de Recife, em 1999. O curador destaca a importância de algumas peças, como a tela "Distante", de 1940, resultado de uma troca de pinturas entre Dias e Pablo Picasso. A obra faz parte do acervo que hoje pertence a Claude Picasso, filho do mestre modernista. É a primaira vez em que a tela sai da França.

O espaço expositivo foi organizado de maneira cronológica, em função das diferentes fases que marcaram a produção do pernambucano. O curador explica que essa medida permite ao visitante não apenas um passeio didático, mas a oportunidade de desenvolver um diálogo com as obras expostas.

A mostra inicia com a produção dos anos 20 e 30, com seu modernismo e surrealismo pioneiro pautado em um clima "sensual e onírico muito forte, espontâneo, que canta muito a sua aldeia", nas palavras do curador. "Cícero teve uma das maiores e mais complexas produções da arte brasileira no século 20. Ele surge dentro do modernismo, nasce moderno, não fez o caminho que muito outros artistas precisaram fazer, o de cursar a academia para atingir a identidade própria. Na sua primeiro mostra no Rio de Janeiro, em 1928, ele já é celebrado e acolhido pelo grupo integrante da semana de 1922", comenta o Assis Filho. .

A exposição segue reunindo os trabalhos de fase figurativa, que se estende até os medados dos anos 40, período em que Dias morou em Paris. Também estão incluídas as telas de Lisboa, realizadas no exílio, no decorrer da Segunda Guerra Mundial. "Essa é uma fase de reflexão, uma linha de passagem, em que um jovem cheio de criações oníricas, líricas, surreais, deixa essa pintura um pouco de lado para buscar um novo caminho na abstração", afirma Assiso.

O abstrato marcaria sua produção dos anos 50, no envolvimento com o grupo Espace e a École de Paris. No final da década, Dias retomou a figuração das cenas de pernambucanas, que resultam nas obras do que é conhecido como sua "Figuração Lírica". Assis explica que entre os anos 70 e 90, o recifense trabalharia variações e formas geométricas e figurativas, mas nunca deixando de flertar com a abstração.

Serviço: Cícero Dias – Oito Décadas de Pintura. Museu Oscar Nimeyer (R. Mal. Hermes, 999), (41)3350-4400. 3.ª a dom. das 10 às 18h. R$4 (adultos), R$2 (estudantes), livre (crianças até 12 anos, maiores de 60 e escolas públicas pré-agendadas). Até setembro. Informações: www.museuoscarniemeyer.org.br

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