Uma sala vazia exceto por um joystick e óculos de realidade virtual. Ao colocá-los, passa-se a habitar dois universos, o real e o virtual, com a diferença de que, no ambiente visto através das lentes, é possível mover-se sem de fato deslocar-se na realidade e sente-se a presença sutil de "entes" misteriosos, imperceptíveis sem os óculos. O cenário é a sala Theodoro De Boa, no Museu de Arte Contemporânea (MAC), onde o artista curitibano Jack Holmer apresenta a partir de hoje, às 19 horas, a exposição Compilação 0.7.
"A consciência é projetada para o espaço virtual, livra-se do corpo físico e suas limitações, com a ampliação dos sentidos, e pode-se ver coisas que não seriam vistas na realidade concreta", diz Holmer. As relações humanas com a virtualidade inspiraram o artista a criar Compilação 0.7. Além de "Espaço Expandido" a experiência de imersão virtual através dos óculos a exposição conta com outros dois projetos concebidos para questionar o fascínio e a dependência provocados pela tecnologia.
Em "Pele Aberta", Holmer reflete sobre as representações pessoais nos universos virtuais por meio de máscaras e texturas, os avatares. Ele fotografou o tórax de quatro homens (inclusive o próprio) e montou imagens em 360 graus, algumas destituídas de mamilos e umbigos. São homens-híbridos, ou clones, que, por não amamentarem ou parirem, dispensam as duas partes da anatomia humana. Holmer transporta a tridimensionalidade do corpo para a impressão bidimensional. A resolução mais baixa das fotos, as sobreposições e os erros de recortes ficam aparentes para atestar que se trata de fotografias digitais.
A robótica e a inteligência artificial aparecem em "Seres de Luz". São quatro "pseudo-robôs pseudo-inteligentes", confeccionados para confrontar o deslumbramento com a "inteligência" de celulares, notebooks e outras geringonças mecânicas. Um deles possui uma placa de captação de luz e move-se quando iluminado.
"Criei robôs que, além de feios, não fazem muita coisa. Para desmitificar o encanto, são inacabados, com movimentos toscos e barulho de engrenagens. As pessoas associam sentimentos humanos, como o sofrimento, ao que não é humano. Máquinas não sofrem", afirma Holmer. Com os robôs de luz, o artista mostra como os seres artificias também se debatem na realidade.
Serviço: Compilação 0.7, exposição de Jack Holmer. Museu de Arte Contemporânea (Rua Desembargador Westphalen, 16), (41) 3323-5337. Visitação de terça a sexta-feira, das 10 às 19 horas, aos sábados, domingos e feriados, das 10 às 16 horas. Abertura hoje, às 19 horas. Até 24 de junho.



