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Música

O outono de Caetano

Compositor baiano fala sobre novo disco em parceria com a banda Cê, cita Curitiba e afirma que “entra na velhice”

Caetano Veloso, aos 66 anos de idade, anuncia: “Entro na velhice”, em texto escrito à mão para a imprensa | Divulgação/ Universal Music
Caetano Veloso, aos 66 anos de idade, anuncia: “Entro na velhice”, em texto escrito à mão para a imprensa (Foto: Divulgação/ Universal Music)

A chuva que caia de um céu cinza na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, parecia ter sido encomendada para aquele fim de tarde de terça-feira. O clima soturno e intimista da entrevista coletiva que Caetano Veloso concedeu no Bar D'Hotel aliou-se à aura de Zii e Zie (Universal Music), seu mais novo disco.

Antes de dizer palavra, Caetano se sentou em um sofá vermelho entre Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria). Os músicos formam a banda Cê, que iniciou a parceria com o baiano em 2006 ao gravar o disco homônimo. Com Zii e Zie, novamente um álbum de sambas feitos por uma banda de rock, a parceria parece ser definitiva.

Depois de reclamar do frio do ar-condicionado, suas primeiras palavras, Caetano Veloso falou sobre "A Base de Guantánamo", música de protesto, a sexta do disco, e sobre as últimas ações do presidente dos Estados Unidos barack Obama em relação à base norte-americana em solo cubano.

"Eu fiquei contente com as notícias de que o Obama liberou as viagens e as remessas de dinheiro. Vinha sendo mantida uma relação desagradável de ambos os lados e agora relaxou mais a situação", diz o músico, antes de tomar um gole de Coca-cola.

Durante todo o processo de composição do álbum, o 29º de estúdio de sua carreira, o baiano manteve o blog Obra em Progresso (www.obraemprogresso.com.br) no ar. No espaço, comentava sobre suas novas músicas, fazia entrevistas e pedia a opinião de seus fãs em relação às composições. Virou um "botequim virtual".

"Com o blog você conversa com as pessoas. Lê os comentários. Isso muda o ânimo da gente." Mas Caetano avisa: o blog acabou. "Ele já cumpriu sua função. Agora pretendo começar a ensaiar com esses caras e apresentar shows", diz, referindo-se aos jovens companheiros. O primeiro show da nova turnê será no dia 8 de maio no Canecão, no Rio de Janeiro.

Velhice

Os músicos da Cê têm entre 28 e 34 anos. Caetano Veloso, 66. Em release que escreveu de próprio punho à imprensa, lê-se "Entro na velhice". "É isso mesmo, uma constatação. Essa frase é bem objetiva quanto a isso", comenta, para logo depois afirmar que não existe um possível conflito de gerações.

"Conheço Pedro desde menino. Tanto no Cê quanto no Zii e Zie não tivemos momentos de incompreensão, o que acontece frequentemente em bandas." Foi o guitarrista quem indicou os dois outros músicos para as gravações.

O compositor ainda reverencia sua condição, com base na experiência de vida. "Eu também tenho vantagens por ser velho. Algumas experiências concretas que eu vivi, eu conto para eles."

Lobão tem razão

Há dez anos, Lobão lançou o disco A Vida É Doce. Uma das músicas é "dedicada" a Caetano Veloso. Desde então, os músicos vivem um embate quase silencioso, via imprensa e comentários esparsos. A réplica musical do baiano veio agora, com a faixa "Lobão Tem Razão".

"A música que ele fez para mim, eu acho linda. O Lobão é um dinossauro e eu estou seguindo os passos dele", diz Caetano. Há semelhanças inclusive nos encartes dos discos, que retratam um Leblon frio e com certa tristeza. A bela foto da capa do novo disco foi feita por Pedro, que clicou o Rio chuvoso a pedido do baiano.

Zii e Zie

"Eu queria que o título fosse meio absurdo, meio ininteligível à primeira vista, que não dissesse nada do conteúdo do disco." Em italiano, zii e zie significam "tios" e "tias" respectivamente. Caetano afirmou que tem grande presença na Itália, mas a causa maior pela escolha do título do disco foi outra. "Tios e tias é o que todos somos hoje. Quando te pedem algum dinheiro no sinal, todos te chamam assim."

Curitiba

A capital paranaense também está em Zii e Zie. A faixa "Lapa" relembra a Curitiba de 1970. "Samba Canal 100 no meio dos 60/ E nos 70 era o Largo da Ordem/ Tudo vinha desaguar na Lapa". Caetano diz ter gostado da "obra de maquiagem" realizada na região central da cidade, e que esse era um tema constante em suas "discussões políticas amigas" com Paulo Leminski. Ao final, uma revelação. "Curitiba ficou sendo minha cidade favorita durante os anos 1970."

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O jornalista viajou a convite da Universal Music.

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