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Cinema

O poder do ziriguidum

Documentário de curitibano radicado em Nova Iorque retrata o impacto e a influência da música brasileira nos Estados Unidos

Samba no Harlem: bairro negro de Nova Iorque, historicamente ligado ao jazz, oferece aulas do ritmo brasileiro a jovens americanos interessados na cultura do país | Artur Kummer/Divulgação
Samba no Harlem: bairro negro de Nova Iorque, historicamente ligado ao jazz, oferece aulas do ritmo brasileiro a jovens americanos interessados na cultura do país (Foto: Artur Kummer/Divulgação)
Cena do filme: norte-americano compra disco da banda O’Seis por US$ 5 mil |

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Cena do filme: norte-americano compra disco da banda O’Seis por US$ 5 mil

Guto Barra (esquerda) e Béco Dranoff |

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Guto Barra (esquerda) e Béco Dranoff

Afinal, o que é que a baiana tem? A inserção da música brasileira e o interesse por ela despertado no cenário internacional é o mote do documentário Beyond Ipanema, do diretor e jornalista curitibano Guto Barra. Codiri­gido por Béco Dranoff, o filme fará sua estreia nos Esta­­dos Unidos no prestigiado Mu­seu de Arte Moderna (Mo­­MA), em Nova Iorque, no próximo dia 17.

Há 12 anos morando na terra do jazz, Barra teve a ideia de rodar um filme sobre o poder da música brasileira em conversas que duravam o tempo de se ouvir um disco. A máxima "amigos, amigos, negócios à parte" não vale para os responsáveis pelo longa de 96 minutos – que deve ser lançado também no Brasil daqui a algum tempo.

"Eu e Béco somos amigos e sempre tivemos o costume de ouvir música juntos e conversar sobre o assunto. Como jornalista, acompanhei bastante o crescimento de atenção que a música brasileira teve nos últimos anos. O Béco fez parte de muitos epi­­sódios importantes envolvendo a música brasileira aqui fora, como o projeto Red Hot + Rio, os discos de Bebel Gilberto, e o selo Ziriguiboom, que lançou as carreiras internacionais de Cibelle, Trio Mocotó e Apollo Nove", ex­­plica Barra.

Foram quatro anos de trabalho. Quase 50 entrevistados, entre artistas, produtores e jornalistas, brasileiros e norte-americanos. A "dream list" (lista dos sonhos) do diretor foi preenchida. Além de depoimentos dos músicos David Byrne, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e da cantora M.I.A., há importantes conversas com o produtor Creed Taylor (da Verve Records, um dos primeiros a "descobrir" a bossa no­­va) e com o saxofonista Bud Shank (pioneiro ao misturar jazz com ritmos brasileiros, ainda nos anos 1950).

"Tivemos de acomodar as agendas de muitos dos artistas, o que é natural em um projeto deste tipo. No final, o longo período de produção acabou nos favorecendo e foi possível incluir muitas coisas bacanas no filme, como a volta dos Mutantes e a história de uma escola pública no bairro nova-iorquino do Harlem, onde todo o programa de música é baseado em samba", explica Barra.

O filme também trata das diversas características que tornam a música brasileira – de Carmem Miranda ao "funk favela" – camaleônica, no sentido de conseguir se misturar com outros gêneros, principalmente os norte-americanos. "Conta­­mos um pouco da história da entrada da bossa nova nos Es­­tados Unidos, mas também mostramos o impacto que a Tro­­picália tem hoje e as misturas eletrônicas dos anos 1990", diz o curitibano.

A equipe de Barra e Dranoff é quase toda formada por brasileiros radicados em Nova Iorque. Vários são de Curitiba, como o diretor de fotografia Artur Kum­­mer e a coeditora Lilka Hara. A tru­­pe se dividiu. Entrevistas fo­­ram feitas em Los Angeles, Chi­­cago, Washington, São Paulo, Rio de Janeiro e Nova Iorque.

Surpresas

Algumas cenas reveladas pelo diretor demonstram o tamanho do alcance da música brasileira nos Estados Unidos. No meio do bairro do Harlem, intimamente ligado ao jazz no passado e ao hip-hop nos dias de hoje, existe uma escola em que o samba é a principal atração. Barra também conta que filmou americanos dançando forró no meio do East Village e testemunhou a venda de um disco da banda pré-Mutantes por US$ 5 mil. "Isso não acontece com a cul­­­­tura de outros países. É uma coisa muito única manter diversos gêneros musicais recebendo atenção ao mesmo tempo em um país como os Estados Uni­­dos, onde a concorrência musical é tão grande", justifica o brasileiro.

O também brasileiro Sandro Fiorin (sócio da FiGa Films, que vai distribuir o documentário nos EUA) tenta justificar o interesse dos norte-americanos. "No Brasil, as influências são inúmeras, vindas de todos os lados, e o que eles recebem aqui é uma cacofonia de todas essas influências. Para quem está desse lado, o som é bem mais interessante e inovador do que se julga aí", comenta o distribuidor.

Responsável por entrevistar o jornalista Nelson Motta e o crítico de música do The New York Times Jon Pareles para Beyond Ipa­­nema, a curitibana Bia Moraes espera o melhor para o filme. "Acompanhei o processo desde o começo. Acho que primeiro o Guto [Barra] tem o mérito de ter conseguido realizar o documentário e acredito que ele vá causar um bom efeito em circuitos e festivais pelo mundo", diz a jornalista.

Beyond Ipanema está sendo lan­­çado no mesmo momento em que outros documentários sobre músicos brasileiros ga­­nham as telas e o público no Bra­­sil. Loki, sobre Arnaldo Baptista, e Simonal – Ninguém Sabe o Duro que Dei, filme a respeito de Wilson Simonal, já ganharam sua parcela de crítica e audiência".

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