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Música

O prazer de estar próximo do público tem o seu preço

Gazeta do Povo reúne três músicos para discutir a situação de quem se apresenta em bares curitibanos, além de outras questões relativas à cena cultural

Fábio Elias, João Egashira e Hélio Brandão: músicos que sentem necessidade de se apresentar em público com alguma frequência | Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Fábio Elias, João Egashira e Hélio Brandão: músicos que sentem necessidade de se apresentar em público com alguma frequência (Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)

Todo músico já se apresentou ou ainda irá se exibir no palco de algum bar. É como o teste do pezinho para os bebês ou o exame da próstata para aqueles que caminham em direção à meia-idade. Não tem como escapar. Natural­­mente, a experiência pode agradar a gregos e franzir o cenho de baianos.

Em Curitiba, o cachê varia de R$ 7 a R$ 500, mas a média está entre R$ 100 e R$ 150 por quatro horas de exibição – os R$ 7 seriam o valor de uma única entrada, no caso de o local hipotético receber durante a noite apenas um cliente. O cachê médio, algo em torno de R$ 125, é – nas palavras do saxofonista Hélio Brandão – a realidade e o espelho da cultura da cidade e de como os curitibanos não valorizam o trabalho de um músico.

Brandão, no entanto, não reclama. Durante as últimas três décadas, período em que atua como profissional, ele sempre procurou, e encontrou, oportunidades para se apresentar pelo menos uma vez por semana em algum bar da cidade. Atual­­mente, é atração fixa às quartas-fei­­ras, no Blues Velvet (R. Trajano Reis, 314), e aos sábados, no Original Beto Batata (R. Prof. Brandão, 678). O músico diz sentir necessidade de tocar ao vivo, para "manter a forma" e pelo contato com o público.

João Egashira, a exemplo de Hélio Brandão, gosta de fazer música ao vivo em bares e não faz do cachê do bar a sua única fonte de renda. Egashira dá aulas de violão, participa de projetos variados, arranja e grava álbuns com outros artistas e não reclama do dinheiro que recebe quando toca chorinho nos bares curitibanos.

A remuneração pelas apresentações em bares foi um dos motivos que fez com que Fábio Elias investisse em uma carreira-solo. Depois de duas décadas à frente da Relespública, respeitada banda de rock de Curitiba, ele suspendeu as atividades do conjunto e radicalizou. No dia 9 de julho, Elias sobe ao palco da Vanilla (R. Mateus Leme, 3.960) para, pela primeira vez, apresentar em Curitiba o show inspirado no álbum de repertório sertanejo Me Dê um Pedaço Teu, que levou mais de 20 mil pessoas a apresentações em Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. Agora, o cachê (que ele não revela) é bem maior do que quando se apresentava com a Reles.

Burburinhos

Brandão observa que, atualmente, Curitiba tem restaurantes para todos os gostos e bolsos, mas, lamenta, a mesma variedade e diversidade não dizem respeito à música. A população aumentou sim. Hoje, a grande Curitiba soma quase 2 milhões de habitantes. Mas, apesar disso, o músico constata, desanimado, que não há qualquer bar em que o público possa apenas sorver música.

"Tem gente que diz: ‘A música no bar estava boa, dava até pra conversar’. É um absurdo. Ninguém vai ao cinema e diz: ‘O filme é bom, dava até para conversar", reclama, referindo-se ao fato de que a música costuma ser um "acessório" ou "pano de fundo" para paquera e ingestão de bebida alcoólica.

Brandão verbaliza o que muitos músicos, como Egashira e Elias, prezam: respeito.

Ou seja, não é apenas o valor do cachê que motiva, mas as condições gerais de trabalho. "Tem bar em que o cachê é de R$ 400, mas o dono desrespeita o músico, não oferece água e faz cara feia. Prefiro me apresentar até por um valor menor se o tratamento for digno", afirma.

O experiente músico analisa que cachê de bar é algo mais real, comparado, por exemplo, com verbas de editais e de leis de incentivo. "Por que o cachê de bar é dinheiro que sai do bolso de quem quer escutar, passa pelo dono do negócio e chega ao músico", argumenta.

Elias, por sua vez, lembra que toda vez que é publicada matéria em jornal, "principalmente na Gazeta do Povo", no dia seguinte já "chove" propostas para shows e não é incomum aumentar o valor do cachê. "Tomara que a nossa segunda-feira (amanhã) seja próspera", dizem os três, com sorrisos nos rostos.

Interatividade:

Você frequenta bares para ouvir música ou para namorar e beber? Já se incomodou com o burburinho e as conversas durante uma apresentação musical em um bar?

Escreva para:leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

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