
Todo músico já se apresentou ou ainda irá se exibir no palco de algum bar. É como o teste do pezinho para os bebês ou o exame da próstata para aqueles que caminham em direção à meia-idade. Não tem como escapar. Naturalmente, a experiência pode agradar a gregos e franzir o cenho de baianos.
Em Curitiba, o cachê varia de R$ 7 a R$ 500, mas a média está entre R$ 100 e R$ 150 por quatro horas de exibição os R$ 7 seriam o valor de uma única entrada, no caso de o local hipotético receber durante a noite apenas um cliente. O cachê médio, algo em torno de R$ 125, é nas palavras do saxofonista Hélio Brandão a realidade e o espelho da cultura da cidade e de como os curitibanos não valorizam o trabalho de um músico.
Brandão, no entanto, não reclama. Durante as últimas três décadas, período em que atua como profissional, ele sempre procurou, e encontrou, oportunidades para se apresentar pelo menos uma vez por semana em algum bar da cidade. Atualmente, é atração fixa às quartas-feiras, no Blues Velvet (R. Trajano Reis, 314), e aos sábados, no Original Beto Batata (R. Prof. Brandão, 678). O músico diz sentir necessidade de tocar ao vivo, para "manter a forma" e pelo contato com o público.
João Egashira, a exemplo de Hélio Brandão, gosta de fazer música ao vivo em bares e não faz do cachê do bar a sua única fonte de renda. Egashira dá aulas de violão, participa de projetos variados, arranja e grava álbuns com outros artistas e não reclama do dinheiro que recebe quando toca chorinho nos bares curitibanos.
A remuneração pelas apresentações em bares foi um dos motivos que fez com que Fábio Elias investisse em uma carreira-solo. Depois de duas décadas à frente da Relespública, respeitada banda de rock de Curitiba, ele suspendeu as atividades do conjunto e radicalizou. No dia 9 de julho, Elias sobe ao palco da Vanilla (R. Mateus Leme, 3.960) para, pela primeira vez, apresentar em Curitiba o show inspirado no álbum de repertório sertanejo Me Dê um Pedaço Teu, que levou mais de 20 mil pessoas a apresentações em Ponta Grossa, Cascavel e Foz do Iguaçu. Agora, o cachê (que ele não revela) é bem maior do que quando se apresentava com a Reles.
Burburinhos
Brandão observa que, atualmente, Curitiba tem restaurantes para todos os gostos e bolsos, mas, lamenta, a mesma variedade e diversidade não dizem respeito à música. A população aumentou sim. Hoje, a grande Curitiba soma quase 2 milhões de habitantes. Mas, apesar disso, o músico constata, desanimado, que não há qualquer bar em que o público possa apenas sorver música.
"Tem gente que diz: A música no bar estava boa, dava até pra conversar. É um absurdo. Ninguém vai ao cinema e diz: O filme é bom, dava até para conversar", reclama, referindo-se ao fato de que a música costuma ser um "acessório" ou "pano de fundo" para paquera e ingestão de bebida alcoólica.
Brandão verbaliza o que muitos músicos, como Egashira e Elias, prezam: respeito.
Ou seja, não é apenas o valor do cachê que motiva, mas as condições gerais de trabalho. "Tem bar em que o cachê é de R$ 400, mas o dono desrespeita o músico, não oferece água e faz cara feia. Prefiro me apresentar até por um valor menor se o tratamento for digno", afirma.
O experiente músico analisa que cachê de bar é algo mais real, comparado, por exemplo, com verbas de editais e de leis de incentivo. "Por que o cachê de bar é dinheiro que sai do bolso de quem quer escutar, passa pelo dono do negócio e chega ao músico", argumenta.
Elias, por sua vez, lembra que toda vez que é publicada matéria em jornal, "principalmente na Gazeta do Povo", no dia seguinte já "chove" propostas para shows e não é incomum aumentar o valor do cachê. "Tomara que a nossa segunda-feira (amanhã) seja próspera", dizem os três, com sorrisos nos rostos.
Interatividade:
Você frequenta bares para ouvir música ou para namorar e beber? Já se incomodou com o burburinho e as conversas durante uma apresentação musical em um bar?
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