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Homenagem

O primeiro luto paranaense

O compositor parnanguara Brasílio Itiberê, morto há 100 anos em missão diplomática em Berlim, foi homenageado com o maior cortejo fúnebre de seu tempo

 | Ilustração: Robson Vilalba
(Foto: Ilustração: Robson Vilalba)
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O cortejo fúnebre partiu da ferroviária... |

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O cortejo fúnebre partiu da ferroviária...

... passou pela Rua Barão do Rio Branco... |

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... parou na Catedral, onde aconteceu um ofício fúnebre... |

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... parou na Catedral, onde aconteceu um ofício fúnebre...

E seguiu em direção ao Cemitério Municipal.

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E seguiu em direção ao Cemitério Municipal.

"A toilette será preta, de rigor, para os homens, as senhoras não levarão chapéus, indicando o luto apenas por um crepe (...) Sendo esse dia de luto oficial, não funcionarão as casas de diversão."

SLIDESHOW: Confira imagens do cortejo fúnebre de Brasílio Itiberê

Assim, o jornal paranaense A Republica, que circulou de 1888 a 1930, noticiou há 100 anos, no dia 23 de setembro de 1913, como seria o concerto no Teatro Hauer em homenagem a Brasílio Itiberê da Cunha (1846-1913), que morrera em agosto.

Embalsamado, o corpo do diplomata e compositor paranaense já estava a caminho de Paranaguá, vindo de Berlim, com uma passagem pelo Rio de Janeiro. Depois de ser velado na cidade natal, seria sepultado em Curitiba, terra que escolheu para repousar.

Itiberê era Ministro Plenipotenciário do Brasil na Prússia, cargo que equivaleria ao de embaixador hoje. Ele morrera no dia 11 de agosto, durante uma cirurgia, depois de adoecer após assistir durante horas a um desfile militar sob sol escaldante.

O cortejo fúnebre partiu da ferroviária pela Rua Barão do Rio Branco, virou na Rua 15 de Novembro e na Marechal Floriano e parou na Catedral, onde aconteceu um ofício fúnebre. De lá, seguiu em direção ao Cemitério Municipal.

"Nunca Curitiba viu um cortejo fúnebre dessa magnitude", afirma o pesquisador do grupo de estudos de música paranaense da Unespar Gehad Hajar. "Quantos governadores e militares já haviam morrido? O povo não se identificava. Talvez, Itiberê tenha sido o primeiro paranaense que causou furor identitário. Talvez, tenha sido a primeira vez em que o paranaense olhou para um ícone simbólico e se viu nele", diz.

Itiberê era um paranaense ilustre, e assumiria a embaixada em Portugal quando os dois países reatavam seus laços. "Isso deu a ele uma exposição muito grande", diz Hajar.

"Também se noticiavam os saraus que ele fazia na Europa. Sabia-se da sua amizade com Franz Liszt (1811-1886) [que tocou "A Sertaneja" em concerto] e Anton Rubinstein. Essas histórias voltavam", diz Hajar, para quem Itiberê não deve ser lembrado como diplomata, apesar da longa carreira a serviço do país.

"Não podemos olhá-lo pelo viés diplomático. Ele era, de fato, um músico", diz o pesquisador, ressaltando que a nomeação de Itiberê para o corpo diplomático do país foi uma forma de o imperador Dom Pedro II custear os estudos musicais do parnanguara na Europa.

Esquecimento

A importância do evento, no entanto, não impediu que Brasílio Itiberê caísse no esquecimento. Tanto nos dias de hoje – o centenário de sua morte parece ter passado batido em Curitiba, conforme alertaram à Gazeta do Povo os músicos e pesquisadores Tiago Portella e Marília Giller – quanto em seu próprio tempo – poucos anos depois de seu enterro no Cemitério Municipal, seu corpo foi enviado para o Rio de Janeiro; a nova viagem póstuma do compositor aconteceu a pedido da família porque o governo do Paraná não construiu um mausoléu em homenagem a Itiberê, conforme havia prometido.

"Ele queria ser enterrado na terra em que nasceu. Doía a ele não estar no Paraná", diz Hajar. "O Estado não fez a dotação para isso. Porque estava em vigor na época uma lei que bania os nomes históricos. Quem morreu subsequente a isso foi automaticamente esquecido", explica.

"Existe um descuido com a nossa história. Se Brasílio Itiberê, que foi o que foi, não foi lembrado, imagine os músicos de hoje", diz Marília. "É o mausoléu, que ainda não fizeram."

Cortejo fúnebre

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