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Literatura

O que dizem os cadernos de Camus

Anotações feitas pelo então jovem escritor mostram projetos e angústias literárias de um futuro vencedor do prêmio Nobel

Notas sobre o absurdo da existência humana, viagens e observações da natureza estão nos cadernos de Albert Camus | Imagens: Divulgação
Notas sobre o absurdo da existência humana, viagens e observações da natureza estão nos cadernos de Albert Camus (Foto: Imagens: Divulgação)
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O escritor franco-argelino Albert Camus (1913-1960) cultivou por toda a vida o hábito de escrever em pequenos cadernos. Camus anotava reflexões diárias, aforismos e impressões sobre a vida e a literatura. Três deles acabam de ser lançados pela primeira vez no Brasil pela editora Hedra.

Estas edições brasileiras são diferentes das originais francesas. Lá, os cahiers foram divididos em três volumes que compreendem três períodos da vida do autor (de 1935 a 1942; de 1942 a 1951; e de 1951 a 1959).

Aqui a Hedra optou por dividir o primeiro volume em três livros. As publicações mostram uma faceta nova do autor laureado com o prêmio Nobel de Literatura em 1957, pois, além de inéditas no Brasil, trazem um conjunto de ideias e notas de leitura que viriam compor o universo literário do autor.

Os três volumes foram escritos por Camus entre os 22 e os 29 anos. Cobrem o período de juventude de um escritor que está conhecendo a si mesmo e suas próprias ideias e posições.

As viagens pelo Mediter­­­râneo e pela Europa, a admiração pela riqueza natural das paisagens do norte da África, o absurdo da existência humana e, finalmente, a perplexidade que toma conta de Camus com o início da segunda Guerra Mundial: esses temas tão caros ao autor aqui ainda guardam o frescor da descoberta.

Entre aforismos curtíssimos e fragmentos relativamente longos de prosa, é possível acompanhar de perto o processo de amadurecimento pessoal e intelectual do autor. Os cadernos já contêm trechos inteiros que viriam a integrar seus primeiros livros – inclusive o esboço de um romance chamado A Morte Feliz, que Camus chegou a concluir, mas depois descartou – aproveitando posteriormente a ideia principal e o protagonista para compor seu célebre romance O Estrangeiro.

Nos textos descompromissados, Camus se sente à vontade para mergulhar e falar do próprio ofício: "em lampejos literários recheados da mesma potente atualidade."

Descobertas

Esperança do Mundo é o primeiro caderno, escrito entre os anos de 1935 e 1937. Entre insights literários, destacam-se as anotações pessoais, numa espécie de descoberta de si e do mundo.

A Desmedida na Medida é o segundo. Entre aforismos ("Levar sua lucidez até o êxtase") e instruções criativas também sintéticas ("Fazer anteceder o romance de fragmentos de jornal"), ganham espaço comentários de suas leituras filosóficas e fragmentos de prosa, depois aproveitados em suas principais obras. Ainda mais do que os livros, é o próprio escritor que aqui toma forma ante os olhos do leitor.

A Guerra Começou, Onde Está a Guerra? é o terceiro caderno de anotações de Camus, que registra o início de seu amadurecimento pessoal, intelectual e literário, cobrindo o período dramático entre 1939 e 1942, em que a Europa é tomada pela Segunda Guerra Mundial. É nessa época que Camus inicia sua vida de exilado e sua consagradora carreira literária.

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