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Especial

O que é que Curitiba tem?

Pontos de interesse na cidade causam diferentes impressões a quem embarca na Linha Turismo. Chuva de verão é atração à parte

No ponto do Jardim Botânico, pessoas se aglomeram para entrar no ônibus que faz a Linha Turismo. Um dos principais cartões-postais da cidade, é o local mais comentado e frequentado dos 24 que integram o trajeto de 44 quilômetros | Marcelo Elias/ Gazeta do Povo
No ponto do Jardim Botânico, pessoas se aglomeram para entrar no ônibus que faz a Linha Turismo. Um dos principais cartões-postais da cidade, é o local mais comentado e frequentado dos 24 que integram o trajeto de 44 quilômetros (Foto: Marcelo Elias/ Gazeta do Povo)
Ônibus da Linha Turismo: trajeto pela cidade dura cerca de 2 horas e 40 minutos |

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Ônibus da Linha Turismo: trajeto pela cidade dura cerca de 2 horas e 40 minutos

Confira o itinerário da Linha Turismo |

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Confira o itinerário da Linha Turismo

O Teatro Paiol é feio. O Jardim Botânico é o ponto turístico mais conhecido de Curitiba. Prédios pichados e o trânsito degringolado causam estranheza a quem tem em mente a imagem de limpeza e organização da cidade, vendida há anos pela capital do Paraná. Andar com a Linha Turismo por duas horas e quarenta minutos, passar por 24 pontos turísticos e desobedecer a ordem de "permanecer sentado" para tentar fugir da chuvarada da última quarta-feira à tarde, que praticamente inundou a jardineira onde estava o repórter, serviu para aprimorar o olhar de um curitibano sobre sua própria cidade e perguntar a quem vem de fora: afinal de contas, o que é que Curitiba tem?

Cinquenta e duas pessoas aguardavam o ônibus na Praça Tiradentes, ponto inicial do percurso de 44 quilômetros. Sotaques se misturavam na fila, que só crescia, ainda sob um sol escaldante. "Curitiba é um sonho de consumo", definiu meio sem jeito o hoteleiro Valmir Gonçalves, que escolheu Curitiba para passar a lua de mel com a mulher, Ana de Castro. O casal de Barbacena (MG) achou a Rua das Flores uma maravilha – inclusive os músicos latinos que hora ou outra por ali se apresentam – e estava ansioso para conhecer o Jardim Botânico, que parece mesmo ser a grande estrela do trajeto.

Tentando se encontrar em um mapa disponível no ponto de ônibus, uma família da Bahia parecia aporrinhada. "A gente tá onde? Onde será que é bom descer?", perguntavam-se o casal e o filho adolescente, que não ti­­nham qualquer informação prévia da cidade. "Vamos ver o que o ônibus nos mostra", disse o autônomo Arceli da Silva, 43 anos, ignorando um otimista vendedor de chapéus de sol.

No andar de cima

Ver Curitiba a cerca de quatro metros do chão é capaz de fazer com que até mesmo um sujeito nascido na cidade se surpreenda. Trafegando pela Avenida Sete de Setembro, na altura do Shopping Estação, três senhoras curitibanas relembravam sua infância. Frases como "Não tinha nada aqui na minha época" eram ouvidas a cada esquina. Maria Inês, uma delas, resolveu embarcar no ônibus por curiosidade, e viajou no tempo já depois de algumas poucas quadras.

Nas proximidades do Teatro Paiol, marco da cultura da capital – foi lá que Vinicius de Moraes tocou, em 1971, na inauguração do espaço –, nada de elogios por quem já conhecia o lugar. "Nun­­ca vi ninguém descer aqui. É feio, não vale a pena", disse a estudante Suzane Oliveira, nascida em Maringá, que recebia uma amiga vinda de São Paulo. Pobre Vinicius.

As primeiras gotas de chuva caiam quando três sujeitos loiros, turistas típicos, com máquinas fotográficas a tiracolo e sandálias confortáveis, subiram na jardineira. Eles deixaram o guia da cidade de lado para observar uma abordagem policial que acontecia na esquina da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Rockfeller. Um sujeito tentou roubar um pneu de um carro estacionado. Os flashes foram voltados para ele. "Ouvi falar dos parques da cidade e da vida cultural agitada", disse Ian Ulriksson, de 25 anos, citando concertos da 29.ª Oficina de Música de Curitiba, que acontece na cidade desde o dia 9.

Todos eles – totalizando 35 dos 48 passageiros que estavam à bordo – desceram no Jardim Botânico. "É diferente, lindo, não sei explicar", disse uma se­­nhora de Maceió, que filmava tudo com uma câmera portátil.

Ele vai voltar em março

Quem subiu no ponto do Jardim Botânico foi o psicólogo Davi Romão, de 26 anos. De férias, aproveitou para visitar Curitiba pela primeira vez. Serão quatro dias por aqui. "Simpática" foi a primeira palavra sobre a cidade que lhe veio à cabeça.

"É grande e há problemas co­­mo em qualquer cidade grande, mas acho que Curitiba consegue resolver isso com criatividade. A ca­­naleta exclusiva para ônibus, por exemplo, é fenomenal", co­­mentou o paulistano – que se en­­cantou com o Museu Oscar Niemeyer. No dia anterior, o rapaz se deparou com o Quinteto de Sopros em apresentação no Paço da Liberdade, dentro da programação da Oficina de Música. E pretende voltar em março, para acompanhar o Festival de Teatro.

Chuva

Quase todo o trajeto ocorreu debaixo de muita chuva. Apesar de ser coberto por um toldo, não há proteção lateral, o que fez com que a maioria dos turistas se levantasse do ônibus e procurasse um abrigo no corredor, amontoados. "Permaneçam sentados", insistia a cobradora, do andar debaixo, à toa. A chuva era tanta que provocou reações diversas. "Com diversão ou sem diversão?", perguntava uma senhora sentada à frente, encharcada. "O que a gente não faz por um filho?", indagou a curitibana Alexssandra Sanches, que tomou o ônibus a pedido da filha Amanda, em férias. "Turista tem que sentir Curitiba na pele", brincou Alexssandra, se referindo ao clima esquizofrênico da cidade. Entre resmungos e risos, criou-se, enfim, um clima de comunhão. Alguns destinos passaram batidos. Outros mereceram destaque mesmo com o risco de se molhar a câmera fotográfica. Coisas de Curitiba.

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