
"Aos 25 eu apaguei as luzes, porque não conseguia lidar com o brilho dos meus olhos, mas agora estou de volta." Esta é apenas uma das tocantes frases contidas nas canções de That Lucky Old Sun, oitavo disco-solo do ex-Beach Boys Brian Wilson, lançado há poucas semanas e, por enquanto, inédito no Brasil.
Aos 66 anos, o músico norte-americano, gênio da música pop moderna, volta às paradas mundiais com um disco em que resgata um tema comum a todos os itens da discografia dos Beach Boys: as paisagens de sua adorada Califórnia, de garotas surfistas e do mar sempre a brilhar sob a luz do sol.
Para introduzir o tema, Wilson rearranjou a bela "That Lucky Old Sun", canção composta em 1949, hit na voz de Louis Armstrong, que aqui, apesar de não ultrapassar um minuto de duração, já emociona graças aos característicos arranjos vocais e orquestrações que tornaram o músico figura definitiva na história da música do século 20.
Multiinstrumentista, arranjador, produtor e compositor, Wilson marcou sua geração ao introduzir nas canções dos Beach Boys harmonias complexas influenciadas pelo jazz e pela música erudita. Alcançou feitos invejáveis com apenas 22 anos de idade, entre eles, 16 canções na parada norte-americana entre 1962 e 1965. Porém, sua genialidade, combinada a doses massivas e diárias de maconha e LSD, despertaram no músico sintomas de um distúrbio psiquiátrico que até hoje o acompanha: transtorno esquizoafetivo uma combinação de esquizofrenia e depressão.
Os delírios, paranóias e alucinações causados pela doença o levaram a um esgotamento nervoso em 1964. Wilson até tentou dar continuidade à discografia dos Beach Boys, mas surtou durante as gravações de Smile, trabalho que só veio a ser lançado em 2004, após um longo e doloroso tratamento. Nesse meio tempo, Wilson chegou a pesar mais de 130 quilos e passou mais de dois anos isolado, deitado em uma cama.
Estes momentos turbulentos também aparecem em That Lucky Old Sun, à sombra das maravilhas litorâneas. "Como pude ir tão baixo / Estou envergonhado de te contar / Que fiquei deitado naquele velho lugar / E que quase nunca lavava o rosto", ele revela na sincopada "Oxygen to the Brain", na qual o músico também comemora sua recuperação. "Estou enchendo meus pulmões novamente e respirando vida".
Brian Wilson, por questões óbvias, já não é mais o mesmo. Sua voz desafina em alguns momentos do disco e as letras, escritas por ele em parceria com Van Dyke Parks (também letrista de Smile) por vezes soam um tanto quanto infantis. Mesmo assim, não é preciso ser condescendente para apreciar That Lucky Old Sun. A música de Wilson ainda é viva e forte. Continua a impressionar, mesmo quando o sol se põe.



