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A californiana Kathryn Bigelow tem chances concretas de ser a primeira cineasta a vencer o Oscar de melhor direção por Guerra ao Terror | Fotos: Divulgação
A californiana Kathryn Bigelow tem chances concretas de ser a primeira cineasta a vencer o Oscar de melhor direção por Guerra ao Terror| Foto: Fotos: Divulgação

O charme e o apelo das atrizes maduras

Bette Davis tinha 42 anos quando estrelou A Malvada, de Joseph L. Mankiewicz, um dos maiores sucessos de sua carreira. Havia chegado ao auge de sua carreira e exuberância como mulher. Em 1962, quando fez O Que Teria Acon­­­tecido a Baby Jane?, outro êxito de bilheteria, estava com 54 e condenada a papéis de velhas, bruxas, vilãs. Nunca mais a heroína, a mocinha.

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Doçura e virilidade em cena

Tata Amaral. Suzana Amaral. Ana Muylaert. Lúcia Murat. Laís Bodanszki. Daniela Thomas. Uma rápida repassada e vários nomes de diretoras vêm à mente. Se há poucas décadas, uma ou outra mulher se destacava entre os cineastas, hoje elas se multiplicam em funções até então consideradas de domínio dos homens.

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  • A peruana Claudia Llosa: Urso de Ouro e pré-indicação ao Oscar
  • A dinamarquesa Lone Scherfig: elogios por Sedução

A britânica Laura Mulvey, no artigo "O Prazer Visual e o Ci­­nema Nar­­rativo" (1975), considerado um dos textos fundamentais da teoria feminista na área, fez uma afirmação contundente, ainda que para muitos passível de questionamento.

Para a estudiosa, a produção clássica norte-americana, um paradigma até quando é subvertido ou desconstruído, inevitavelmente coloca o espectador em uma posição masculina, independentemente de seu sexo. E a figura da mulher, quando na tela, lá está com uma única função: tornar-se objeto de desejo.

Entre os anos 30 e 50, considerados a era de ouro do cinema hollywoodiano, os espectadores (eles ou elas), afirma Laura Mul­­vey, eram encorajados a se identificar com o protagonista, que quase sempre era um homem. Me­­lo­­dramas centrados na figura feminina, como Estranha Passa­­geira (1942), estrelado por Bette Davis, e Stella Dallas (1937), com Barbara Stanwyck, eram exceção.

Já nas décadas de 60 e 70, as personagens eram construídas para serem vistas, "degustadas" pe­­los homens – são exemplos Elizabeth Taylor (em Cleópatra), Jane Fonda (Bar­­barella) e Audrey Hepburn (Bone­­quinha de Luxo). A teoria sugere que haveria duas modalidades de olhar masculino: o voyeurista, que enxergaria a mu­­lher como prostituta; e o fetichista, que deseja vê-la como santa.

Embora Laura Mulvey tenha uma visão um tanto ortodoxa, pouco matizada, há inúmeros argumentos consistentes que sustentam sua tese. O mais forte deles é o de que, desde seus primórdios, a indústria cinematográfica americana (senão mundial) quase sempre esteve nas mãos de homens. Pro­­dutores, roteiristas, diretores.

Pesquisas apontavam, até muito recentemente, que quando um casal ia ao cinema, a escolha do filme era quase sempre dele. Comédias românticas, dramas de amor ou centrados em personagens femininas poderiam até fazer muito sucesso. Mas tinham – e ainda têm – um público em sua grande maioria formado por mulheres. Essa história, no entanto, começa a ganhar novos contornos.

A veterana Meryl Streep (leia reportagem na página 2), que ano passado completou 60 anos, se tornou uma campeã de bilheterias improvável: encadeou quatro grandes sucessos de bilheteria: O Diabo Veste Prada (2006), Mamma Mia! (2008), Julie & Julia (2009) e Simplesmente Complicado(2009). Os três últimos foram dirigidos por mulheres.

Guerra

Em mais de oito décadas de Oscar, apenas três mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção: Lina Wert­­mül­ler, por Pasqualino Sete Belezas (1975); Jane Campion, por O Piano (1993); e Sofia Coppola, de Encontros e Desencontros(2003). Nenhuma delas venceu, embora Jane e Sofia tenham levado a estatueta de melhor roteiro original por seus respectivos filmes. Em 2010, essa história de exclusão pode ter um novo e histórico capítulo.

A californiana Kathryn Bi­­ge­­low, aos 58 anos, tem chances concretas de ser a primeira cineasta a vencer o prêmio. Levou muitos dos principais prêmios da crítica, unânime ao festejar o vigor e a originalidade com que conduziu o excepcional drama bélico Guerra ao Terror, que retrata o dia a dia de um esquadrão encarregado de desarmar bombas na ocupação norte-americana do Iraque.

Longe de ser uma patriotada, o longa tem a audácia de, ao mesmo tempo que pode ser visto como um eletrizante filme de guerra, também dissecar a dor física e psicológica a que todos, soldados e a população do país, são submetidos. Ninguém sai ga­­nhando.

Muitos críticos vem elogiando o trabalho de Kathryn, sobretudo por ter se aventurado em um gênero cinematográfico masculino por excelência. Já comparado a clássicos como Apocalipse Now (1979), de Francis Ford Coppola, e Nascido para Ma­­tar (1987), de Stanley Ku­­brick, te­­ria como trunfo, além de contar uma grande história de forma original, mergulhar fundo na subjetividade dos personagens, todos homens.

Quem acompanha a filmografia da diretora, que inclui fil­­mes como Caçadores de Aven­­tu­­ras (1991) e Estranhos Prazeres (1995), sabe que essa preferência por gêneros teoricamente pouco fe­­mininos não se trata de uma novidade.

Mas Kathryn não é a única mulher a fazer sucesso por trás das câmeras nesta temporada de prêmios. A dinamarquesa Lone Scherfig (de Italiano para Prin­­cipiantes, de 2000) tem boas possibilidades de ver seu mais recente trabalho, Sedução, entre os dez indicados ao Oscar de melhor filme, embora suas chances de figurar entre os cinco candidatos na categoria de melhor direção sejam menores. Mas, no Bafta, prêmio máximo do cinema no Reino Unido, ela figura, ao lado de Kathryn Bigelow, entre os concorrentes.

Sedução, ao contrário de Guer­­ra ao Terror, tem como personagem central uma mulher. O fil­­me, roteirizado por Nick Horn­by, mostra a transição da jovem Jenny (Carey Mulligan, forte candidata a uma indicação ao Oscar de melhor atriz) da adolescência à idade adulta, na Grã-Bretanha do início dos anos 60, na passagem do período ultrarrígido que se seguiu à Segunda Guerra Mundial para os tempos liberais que viriam a seguir, com a contracultura e a revolução sexual.

Ela é uma aluna brilhante dividida entre estudar para conseguir uma vaga em Oxford ou seguir pela alternativa mais excitante oferecida por um homem mais velho e carismático (Peter Sarsgaard). Portanto, uma história com fortes toques feministas.

Do Peru

O cinema latino-americano feito por mulheres também está em boa fase. No Brasil (leia reportagem na página 2), há um número substancial de diretoras em atividade, como Laís Bodanszky e Tata Ama­­ral. Da Argentina, Lucrecia Martel, de Pântano e A Mulher sem Cabeça (ainda inédito no circuito comercial brasileiro), já é um nome consolidado e uma referência internacional. Mas veio do Peru o melhor longa-metragem produzido no continente em 2009: o brilhante e poético A Teta Assustada, de Claudia Llosa, vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim e um dos nove pré-indicados ao Oscar de melhor filme es­­trangeiro (o brasileiro Salve Geral ficou de fora).

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