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Cinema

O universo de Francisco Brennand

Documentário, em cartaz no Espaço Itaú de Cinema, estabelece diálogo entre a vida do artista e sua obra, a partir de diários por ele escritos desde os 22 anos

Francisco Brennand se mostra especialmente entusiasmado ao falar de sua obra de pintura | Divulgação
Francisco Brennand se mostra especialmente entusiasmado ao falar de sua obra de pintura (Foto: Divulgação)
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Desde menina, a hoje cineasta Marianna Brennand Fortes frequentava a usina criativa de seu tio-avô, o artista pernambucano Francisco Brennand, construída nas ruínas de uma velha fábrica de cerâmica da família, instalada no bairro de Várzea do Capibaribe, nos arrabaldes de Recife. O lugar, que mais se assemelha a um templo, a fascinava, por conta da profusão de cores, formas e texturas materializadas em esculturas, desenhos e pinturas.

Em entrevista concedida ontem por telefone, de Brasília, onde acabara de participar de uma exibição de Francisco Brennand, documentário que dirigiu sobre o tio, Marianna conta que a Oficina Brennand despertava seus sentidos, sua curiosidade infantil, muito por conta da aura de mistério que as obras do tio evocam, da ambientação algo surreal que elas criam no local, onde integram, organicamente, a arquitetura.

"Mas eu nunca tive com Brennand um vínculo mais familiar mesmo, de convívio. Sempre o vi esporadicamente. Ele é irmão do meu avô, mas eu não o conhecia exatamente como pessoa, apenas como artista", diz a cineasta que decidiu realizar um filme sobre Brennand em 2002, logo após se formar em Cinema pela Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara, de onde se mudou direto para o Recife com o firme intuito de tocar o projeto.

A ideia inicial era dedicar entre um e dois anos ao filme, mas, à medida em que ela adentrou o complexo universo da obra e da vida do tio-avô, que na verdade lhe era pouco mais do que desconhecido, percebeu que a tarefa seria muito mais árdua, mas também estimulante. Especialmente porque Marianna não tinha interesse em realizar um documentário tradicional, de caráter histórico, em tom didático, sobre o artista.

A pretensão da cineasta era bem maior: estabelecer um diálogo vivo, pulsante entre a obra e a biografia de um homem, cuja vida também é envolta por uma aura de mistério, uma vez que, desde o início dos anos 70, ele fez da Oficina Brennand não apenas um local de trabalho e museu permanente de suas obras. Mas também um refúgio, onde, de certa maneira, ele se isolou do mundo exterior, e criou um universo paralelo todo próprio, povoado por muitas modelos, livros e também por visitantes, cujo acesso irrestrito a muitas áreas da oficina nunca foi motivo de incômodo para ele.

Diários

A chave para essa dimensão criativa, e para o entendimento de seu protagonista em seus aspectos mais íntimos, foi o acesso, liberado pelo próprio Brennand a seus diários, escritos por ele, quase ininterruptamente, desde que tinha 22 anos – hoje ele tem 85 e, durante as gravações do documentário, os retomou com vigor criativo.

Filha do ex-senador Heráclito Fortes e de Ma­riana Brennand (filha de Cornélio, irmão de Francisco), Marianna encontrou nas mais de 2 mil páginas digitalizadas dos diários do tio chaves fundamentais para a compreensão de seu personagem. Ainda assim, ela confessa que, por vezes, enfrentou dificuldades em estabelcer pontos entre o homem que se desnudava, intelectual e emocionalmente nos diários, e o sujeito bem mais racional e reservado, ainda que bem-humorado e eloquente que se apresentava a sua câmera.

A diretora conta ter lido cinco vezes os textos que, com o passar dos anos, se tranformam na medida em que Brennand, no início um jovem artista romântico e arrebatado, vai se transformando com a maturidade. A ideia, agora, é organizar os escritos para publicação, em volumes. Da catalogação da obra, Marianna já se ocupou, no livro O Universo de Francisco Brennand, que tem prefácio e posfácio de Ferreira Gullar e texto e notas de Alexei Bueno.

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