"O que não me contam eu escuto atrás das portas. O que não sei, adivinho e, com sorte, você adivinha sempre o que, cedo ou tarde, acaba acontecendo". Dalton Trevisan é considerado um dos maiores contistas brasileiros. A Sutil Companhia de Teatro adaptou 18 contos do "vampiro de Curitiba", apelido do recluso Dalton Trevisan, para criar o espetáculo "Educação sentimental do vampiro", que iniciou temporada na quarta-feira (11) em São Paulo.
- Este é o espetáculo mais tocante que a Sutil Companhia de Teatro já fez. É uma obra capaz de mudar uma chave na percepção do espectador - avalia o diretor do grupo Felipe Hirsch, que apesar de carioca, viveu a maior parte de sua vida em Curitiba.
O diretor explica que o fato de passar em frente à casa de Trevisan em sua juventude e viver na mesma cidade que foi cenário de sua precisa e pontiaguda obra serviu de ponto de partida para a adaptação.
- Fui muito jovem para Curitiba e acompanhei a sua era Lerner - diz o diretor, referindo-se à urbanização da cidade. Hirsch explica que apesar da cidade ter sido projetada, calculada, sempre existiram as bordas, os becos e as margens, tais quais retratadas pela obra de Trevisan.
A cenografa Daniela Thomas repete a parceria com a Sutil Companhia de Teatro. Compõe o elenco estão Erica Migon, Guilherme Weber, Jorge Emil, Luiz Damasceno, Magali Biff, Maureen Miranda e Zeca Cenovicz. Falta pouco para a companhia completar 15 anos de carreira.
- Chegou a hora de fazer um espetáculo mais doloroso tanto no processo quanto no resultado - diz o diretor.
Os contos de Trevisan adaptados para criar "Educação sentimental do vampiro" foram: "Uma vela para Dario", "Noite da paixão", "Lição de anatomia", "Três tiros na tarde", "A filha perdida", "Haikai", "Debaixo da ponte preta", "Morre desgraçado", "37 noites de paixão", "Onde estão os natais de antanho"?, "O almoço de natal", "Balada das mocinhas do passeio", "Paixão e agonia da cigarra", "Abigail", "Senhor", "Bichos da noite" e "O plano".
- O que liga todos os contos é o conceito de educação sentimental entre os personagens e a idéia de Sartre de que o inferno são os outros - explicou Hirsch.
Mas e se o próprio vampiro de Curitiba resolvesse sair de seu esconderijo e aparecesse para assistir o espetáculo, como ele reagiria?
- Se Dalton Trevisan viesse ver a peça, ele viria como um anônimo qualquer. Chegaria no escuro e sentaria no fundo, sem se fazer notar. Mas acredito que ele gostaria de ver como tratamos sua obra, o choque expressionista, sua mitologia trágica e nosso respeito pela delicadeza de seus personagens - imaginou o diretor.
O espetáculo está em cartaz no Teatro Popular do SESI, na capital paulista, até 18 de novembro.
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