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Literatura

Obra de Neil Young inspira HQ

Greendale, álbum do roqueiro sobre os habitantes de uma cidade fictícia, vira história em quadrinhos nos EUA

O músico Neil Young esperou o tempo que foi preciso – cerca de um ano e meio – para conseguir o desenhista que queria... | Kiko Huesca/Efe
O músico Neil Young esperou o tempo que foi preciso – cerca de um ano e meio – para conseguir o desenhista que queria... (Foto: Kiko Huesca/Efe)
Capa da HQ inspirada no disco |

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Capa da HQ inspirada no disco

...Greendale, de 2003: graphic novel de 160 páginas impressa em papel reciclável |

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...Greendale, de 2003: graphic novel de 160 páginas impressa em papel reciclável

Nova York - Neil Young criou o povoado fictício de Greendale, na Carolina do Norte, e seus habitantes em um disco de 2003 com o mesmo nome. Então decidiu franquear a ideia em um filme e muito mais. Agora, ele revisita o vilarejo em uma graphic novel. "Estou satisfeito que a história esteja sendo contada; acredito que ela valorize principalmente as adolescentes", diz Young em uma entrevista por telefone.

Neil Young’s Greendale, o título oficial da HQ, foi publicada na semana passada nos Estados Unidos pela Vertigo, divisão da DC Comics. Escrita por Joshua Dysart, tem ilustrações de Cliff Chiang e cores de Dave Stewart. A história gira em torno da jovem Sun Green, bisneta do fundador do povoado de Greendale. A partir da protagonista, os artistas contam uma história que fala de responsabilidade pessoal, guerra e meio ambiente, temas familiares para Young. "Ainda soa bastante atual," afirma ele.

Os habitantes de Greendale ganharam vida pela primeira vez em 2003, no álbum conceitual de dez faixas gravado por Young acompanhado da banda Crazy Horse. O disco rendeu uma turnê, um filme e um livro com as letras das músicas, ilustrações e informações adicionais sobre os personagens, inclusive acerca da relação especial que as mulheres da cidadezinha têm com a natureza.

Os quadrinhos são resultado das várias encarnações do povoado e das sugestões feitas por Young. "O disco soa mais como um típico grito rock-and-roll," afirma Dysart em entrevista por telefone. "Já a graphic novel é uma fábula americana com fortes elementos sobrenaturais."

Parceria

Young trabalhou em conjunto com Dysart desenvolvendo o enredo da história e foi incrivelmente paciente quanto ao artista que ele gostaria que a ilustrasse. "Levei cerca de um ano e meio para conseguir que Cliff Chiang trabalhasse conosco", conta Young.

Após ser informado de que Chiang estaria envolvido em outros projetos por algum tempo, Young decidiu ele mesmo tentar convencer o ilustrador. "Descobri seu site e enviei um e-mail dizendo que eu esperaria o tempo que fosse necessário", relembra o músico.

Chiang recorda ter recebido o e-mail durante o Superbowl, a final do futebol americano, em 2008, no intervalo do jogo. A mensagem estava assinada simplesmente pelas iniciais "NY". "Levei algum tempo até me dar conta de que ‘NY’ era, na verdade, Neil Young", conta Chiang durante entrevista por telefone de sua casa no Brooklin. "Achei que eles já estivessem trabalhando com outro artista no projeto."

Não. "Tinha que ser Cliff", diz Young, que observa ter apreciado o estilo limpo e aberto do ilustrador. Chiang tem sido o responsável pela arte da série Human Target para a Vertigo e também ilustrou edições de Arqueiro Verde e Canário Negro para a DC. Seu site inclui imagens de super-heróis em capas de trilhas sonoras consagradas: Batgirl no lugar de Prince em Purple Rain e os Jovens Titãs como os personagens do filme Clube dos Cinco, entre elas.

Chiang passou cerca de dois anos trabalhando nas 160 páginas da graphic novel, da concepção visual dos personagens até o desenho final da história, que é impressa em papel reciclável. Entretanto, fora a troca de e-mails inicial, ele teve pouco contato com Young.

O que não aconteceu com Dysart. "Toda vez que ele estava em Los Angeles, nós nos reuníamos", lembra Dysart. Encontros que renderam a chance de ir ao backstage do show que Young fez no Hollywood Bowl, com Crosby, Stills e Nash.

Houve várias discussões sobre o enredo e inúmeras revisões, mas Dysart descreve Young como um "colaborador fenomenal" – bem diferente de sua experiência com a cantora canadense Avril Lavigne no mangá Make 5 Wishes, que ele roteirizou para a editora Del Rey. Dysart diz ter enviado várias ideias, e após uma delas ter sido aceita, não houve mais nenhum outro tipo de contato ou colaboração.

"Por um lado, tivemos liberdade para fazer o que quiséssemos com o mangá", lembra. "Por outro, me deixou com uma impressão negativa sobre Avril Lavigne. Bem diferente de Neil."

Referências

Young tem sido tão prolífico com Greendale que certos elementos tiveram que ser condensados ou omitidos da graphic novel. Entretanto, "sabendo que haveria inúmeros fãs ardilosos de Young lendo o volume, quis colocar nele referências que apenas esses fãs entenderiam", conta Chiang. Uma das músicas no disco menciona um gato preto; na HQ, um gato preto aparece na primeira cena que mostra o quarto da protagonista Sun. Uma banda mencionada tanto no álbum como no filme, chamada The Imitators, também faz uma breve apresentação em uma cena que se passa num bar.

Dysart enxergou em Jed Green, o problemático jovem que tem um encontro desastroso com a lei, e no misterioso (e malevolente) estranho que chega ao povoado, dois lados da mesma moeda: o manipulado e o manipulador.

Ambos os personagens também se parecem fisicamente com Young. "Gostaria de poder inventar uma explicação intelectual que elucidasse por que eu fiz isso, mas a verdade é que me pareceu a coisa certa a se fazer", confessa Dysart.

Outros elementos que fazem referência a Young ficam evidentes em uma cena em que uma sombria procissão mostra um gigantesco carro funerário Buick Roadmaster. "Esse foi o primeiro carro de Young, apelidado de Mort", conta Chiang. O veículo foi eternizado na canção "Long May You Run", do músico. Atrás de Mort está um Linc-Volt, um Lincoln Continental de 1959, que Young tem tentado modificar para que consuma menos combustível. "Ele é um dos poucos que reconheceriam esse carro imediatamente", diz Chiang.

E existem ainda reais chances de que Greendale não seja a última vez que os leitores vejam Sun Green. "Há muita coisa que nós pensamos em fazer que não entrou nesse volume, que tem a ver com o próximo episódio da vida da personagem e sua história", afirma Young. "Esses personagens foram criados para durar um bom tempo."

Serviço:

Neil Young’s Greendale, de Joshua Dysart (roteiro) e Cliff Chiang (arte). Vertigo, 160 págs., preço médio: R$ 50 (importado).

Tradução de Miguel Nicolau Abib Neto.

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