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A característica mais forte da literatura japonesa talvez seja a capacidade de alguns de seus autores mais notáveis exporem suas angustias pessoais e inconfessáveis. É o caso da prosa de Kenzaburo Oe (Prêmio Nobel de Literatura em 1994), especialmente no livro “Jovens de um novo tempo, despertai!”, no qual revela o horror com que recebeu a notícia de que seu filho nascera com uma deficiência mental.

Neste livro é baseado o texto da montagem “OE”, espetáculo solo de Eduardo Okamoto, uma das estreias do Festival de Teatro de Curitiba no teatro do Sesc da Esquina.

Em um cenário enxuto – um tatame, um pequeno banco e uma faca – o ator mistura mitologia, literatura, filosofia oriental e uma narrativa do cotidiano da relação entre o pais e seu “filho eterno”, para fazer pequenas e terríveis confissões, como o desejo primeiro de matar o filho e os delírios que o fazem velho como um monstro ou uma aberração.

Kenzaburo recorria, e o texto da peça mantém, ao poeta e pintor inglês William Blake (1757-1827)para, a partir de seus textos, costurar em capítulos a narrativa.

No palco, porém, em alguns momentos, as imagens poderosas de Kenzaburo soam como platitudes pretensiosas e pseudo-filosóficas e não causam sensação de haraquiri moral que provoca a leitura do livro.

Algo não saiu como esperado na relação entre a cenografia e a interpretação de Okamoto. Algumas soluções cênicas não funcionaram bem e a peça não deslanchou - ainda que tenha bons momentos e que de seu texto se guardem mensagens e aforismos preciosos. Mesmo curta, a montagem acaba por ser um tanto cansativa quando pretendia ser desconfortável.

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