
Dedé rouba o leite. Mussum rouba o pão. Zacarias rouba o jornal. E quando Didi chega para roubar a parte que lhe cabe, uma grande confusão se inicia na frente de uma pequena casa, em uma cidade (cenográfica) do interior. Revoltados com os ladrões, os moradores começam uma briga. Após muitos socos e pontapés Mussum é o que se sai melhor, passando rasteiras a torto e a direito três são presos. Apenas Didi escapa. Refugia-se no alto de um prédio antigo e ao ser descoberto pelos valentões da vizinhança, passa a arremessar uma série de alimentos em cima da multidão: água, ovos, farinha e tomates. No fim das contas, todos fogem assustados. Didi tinha um revólver e muita munição.
Pode ser que você não se lembre ou que, baseado num passado recente, não acredite que um dia Os Trapalhões já foram os reis do humor politicamente incorreto. Para tirar a prova real são necessários uma televisão, um aparelho de DVD e 11 horas disponíveis. Esta é a soma da duração dos três discos que compõem a recém-lançada caixa Os Trapalhões Momentos Inesquecíveis do Quarteto (Som Livre, R$ 49,90), que se propõe a compilar as principais esquetes do programada, exibido pela Rede Globo de 1977 a 1992.
Não faltam elementos circenses e humor pastelão nos quadros selecionados para os DVDs em uma entrevista, nos extras, Didi revela que assistia aos filmes de Oscarito repetidamente e que essa inspiração o levou a abandonar o curso de Direito quando ele estava prestes a concluí-lo. No entanto, as esquetes que mais surpreendem e fazem rir são aquelas em que Didi, Dedé, Mussum e Zacarias apostam na espontaneidade, deixando de lado o compromisso com o formato que um programa televisivo voltado ao público infantil deveria ter.
Não são poucos os momentos em que os integrantes fazem piadas de cunho racial, que hoje seriam consideradas um ultraje por grande parte dos telespectadores: Mussum constantemente chama Didi de "paraibinha", apelido que Didi devolve ao colega, chamando-lhe de "bronzeadinho". Também não faltam referências que, certamente, não eram compreendidas pelas crianças que tanto adoravam o quarteto. Em uma das esquetes, Didi faz um apelo a Zacarias, para que este não permita o casamento de sua filha com Marlon Brando, a fim de evitar que a pobre garota tenha o mesmo destino de Maria Schneider: a manteiga uma referência à clássica cena de sexo anal presente em Último Tango em Paris (1972), filme até hoje não indicado a menores de 14 anos.
Uma pena a ausência completa de qualquer informação técnica sobre os quadros (por exemplo, o ano em que foram exibidos) no encarte ou nos próprios discos. Os quadros não estão organizados em ordem cronológica e são agrupados de maneira que apenas o ícone presente no menu não ajuda na localização do conteúdo de cada seção em que os DVDs são divididos. A seleção das esquetes também não é das melhores, visto que muitos dos quadros mais vistos pelos fãs dos Trapalhões no site YouTube não foram incluídos na compilação. Os extras também reservam poucos momentos memoráveis, entre eles, uma matéria sobre a estréia do programa, de 1977, em que os humoristas falam de suas origens, e erros de gravação, já exibidos em um programa especial na época e disponíveis há alguns anos na internet. GGG



