
Sentada num restaurante no bairro de Los Feliz, em Los Angeles, Morena Baccarin fala com um sotaque carioca tão impecável que é como se a praia de Ipanema e não o frio do inverno americano estivesse aguardando do lado de fora da porta. É claro que, vez ou outra, uma palavra escapa: "Esse meu português às vezes trava. Desculpe, é que eu moro aqui há muito tempo", diz a atriz para, logo depois, fazer seu pedido à garçonete num inglês que não carrega qualquer entonação estrangeira. Essa facilidade com as duas línguas reflete um pouco da personalidade de Morena que, hoje em dia, se sente brasileira e americana ao mesmo tempo. Parte do elenco de Homeland que ganhou, no domingo passado, o Globo de Ouro de melhor série dramática, e cuja segunda temporada foi encerrada ontem, ela teve que superar o fato de ser "diferente" no início da carreira em Hollywood.
"Hoje, o fato de ser brasileira é uma coisa mais hip, mais bacana. Mas no início eu tinha que lutar contra, porque meu nome era diferente e, ao mesmo tempo, eu não tinha sotaque. Então eles não entendiam muito bem de onde eu era. Meu lado brasileiro nunca vai embora, é quem eu sou. Claro que tenho uma sensibilidade americana, porque cresci aqui. Mas as pessoas falam que sentem uma coisa diferente em mim. Acho que é o calor humano, esse jeito de falar com as mãos, de ter mais afeto", explica.
Aos 7 anos, Morena saiu do Rio de Janeiro rumo a Nova York com os irmãos, a mãe, a atriz Vera Setta, e o pai, o jornalista Fernando Baccarin, que havia sido transferido para lá. Durante a adolescência, vivida ali pela área da 12th Street com a Sixth Avenue, Morena pensou em seguir uma série de carreiras diferentes. Gostava de escrever, fotografar... Mas foi no primeiro dia de aula do ensino médio que encontrou sua vocação.
O teatro foi a primeira paixão de Morena, mas a vida não estava fácil para atrizes recém-saídas da faculdade. Até Julia Roberts, e outros "superfamosos", ela conta, estavam fazendo teatro em Nova York. Depois de um período frustrante como substituta em alguns espetáculos, ela decidiu ir a Los Angeles, onde rapidamente entrou na série Firefly.
Apesar de ter durado apenas uma temporada, a série virou um clássico cult entre os fãs de ficção científica, transformando Morena numa musa sci-fi. Não foi à toa que ela ainda atuou em séries como Stargate SG1 e V antes de chegar a Homeland.
Na primeira temporada, a personagem de Morena, Jessica, se esforça para reambientar o marido o soldado Nicholas Brody (Damian Lewis) em sua volta para casa após 8 anos de cativeiro no Iraque. Mas, neste segundo ano, ela se coloca de maneira mais forte, seja nos assuntos políticos do marido ou não aceitando as mentiras que ele conta. Após um primeiro ano impecável, Homeland enfrentou críticas nesta segunda leva de episódios. Mas, para a atriz, o resultado foi mais do que satisfatório.
Para a terceira temporada, a única certeza é que, em junho, o elenco segue para a Carolina do Norte, onde fica durante cerca de cinco meses gravando.



