
Quando o guitarrista e produtor norte-americano Ry Cooder foi convidado por um amigo do selo World Circuit, de Londres, para ir a Cuba gravar um disco de música camponesa daquele país, em 1996, ele não tinha ideia de que poderia juntar tantas preciosidades em um só projeto. Cooder conseguiu criar um fenômeno, o Buena Vista Social Club, que reacendeu o interesse do público pela rica cultura musical cubana após o lançamento do CD homônimo, em 1997. Em turnê pelo Brasil neste mês, a Orquestra Buena Vista se apresenta em Curitiba, no próximo dia 22, junto com a cantora Omara Portuondo, integrante da formação original do grupo.
Não é difícil entender por que a vocalista de 80 anos, que ganhou um Grammy pelo seu disco solo mais recente, Gracias (2008), continua sendo citada pela crítica como uma artista para quem os "anos não passam". Em entrevista por telefone à Gazeta do Povo de sua casa, em Havana, são perceptíveis, mesmo com as interferências e baixo volume da ligação, a energia e empolgação em sua voz ao falar de como é fazer turnês pelo mundo, sobretudo no Brasil. "Estivemos em vários países encantadores, mas o Brasil é um dos meus países preferidos. Não estou mentindo! [risos]. Somos [os cubanos] muito parecidos com os brasileiros, com um temperamento e uma cultura que têm bastante em comum."
Omara rapidamente recordou de quando veio para Curitiba, em 2005, dividir o palco com Maria Bethânia. "É uma bela cidade. Espero que o show seja muito bom novamente e que todos gostem das músicas." Entre os sucessos, "Chan Chan", "Candela"e "Guantanamera" estão garantidos, prometeu a artista.
Tradição
Outra canção que deve entrar no set list é "Veinte Años". "É uma música que conheço desde pequena, que cantava com meu pai", conta Omara, que começou no ofício ainda menina. O pai, um dos primeiros jogadores de beisebol em Cuba, costumava ensinar para ela diversas melodias tradicionais do país. "Foi assim que surgiu o meu amor pela música", explica. Passou a ser solista em 1967 e afirma que "sempre soube" que a vocação de sua vida fosse cantar. "Gosto muito de arte, de pintar, mas jamais conseguiria. Não tenho condições para isso. A música me fascina. Desde pequena todos falavam que eu seria uma grande artista e representaria meu país e minha cultura. E, bem, acho que consegui", completa.
Além da cantora, o Buena Vista conta atualmente com outros dois artistas da formação original, conhecidos principalmente pelo documentário do alemão Wim Wenders (também homônimo, lançado em 1999): o trompetista Guajiro Mirabal e o trombonista Jesús "Aguaje".
Fenômeno
Antes de Ry Cooder chegar em Cuba e resgatá-los do esquecimento, o grupo não era nem mesmo formal, mas uma mistura de talentos que se uniam para tocar juntos espontaneamente. O álbum vendeu mais de 8 milhões de cópias em todo o mundo, e se tornou um ícone. No documentário de Wenders, Cooder, que trabalha como produtor há 35 anos e já tocou com Rolling Stones e Eric Clapton, relata que a gravação do álbum foi algo que ele esperou "a vida toda". "Quando voltei para Los Angeles, me dei conta do que havia realizado e imediatamente comecei a pensar em um show", declara no filme.
Anos depois do estouro do projeto Buena Vista Social Club, mesmo com a grande notoriedade da crítica e do público, a banda precisou passar por uma situação lamentável: foram proibidos de se apresentar nos Estados Unidos, em 2003, durante o tenso governo de George W. Bush. O "jejum" durou sete anos, até o grupo iniciar uma turnê no país em agosto de 2010.
Serviço:
Orquestra Buena Vista Social Club com Omara Portuondo. Teatro Positivo Grande Auditório (R. Pedro Viriato Parigot de Souza, 5.300), (41) 3317-3000. Dia 22, às 21h. R$ 254 (filas 01 a 15) e R$ 204 (filas 16 a 28). Há meia-entrada para os dois valores. Assinantes Gazeta do Povo, portadores do cartão fidelidade Disk Ingressos e do Programa de Benefícios Teatro Positivo têm 50% de desconto em um bilhete por titular.




