
Há quem acredite que, em música erudita, tudo o que poderia haver de belo já foi feito, e os seus criadores já não estão entre nós há tempos. Outros, como o compositor e professor do departamento de Artes da UFPR Maurício Dottori, têm percepções que vão na contramão desta postura chamada de "mentalidade clássica" pelo crítico norte-americano Alex Ross. Para Dottori, os concertos que atraem mais público em Curitiba são, surpreendentemente, os de música contemporânea.
"É mais difícil fazer encher de público um concerto de música clássica tradicional", diz o diretor artístico da primeira Bienal Música Hoje, que traz concertos nacionais e internacionais de gêneros contemporâneos à cidade entre os dias 29 de agosto e 4 de setembro (veja a programação abaixo).
Diversidade
A ideia da Bienal, de acordo com Dottori, é atender a esse público com uma programação intensiva, uma vez que os concertos de música contemporânea em Curitiba são esporádicos. "A ideia era colocar Curitiba no mundo da música de hoje", diz Dottori, que contou com a direção executiva do maestro assistente da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP), Márcio Steuernagel, e com parceiros como a Fundação Cultural de Curitiba, Sesc Paraná, Goethe-Institut, Escola de Música e Belas Artes do Paraná e PUCPR.
As apresentações incluem música eletroacústica (como o Duo FlaÏ; e 2dB Duo), concertos de percussão com transformação de sons em tempo real e até interação com outras mídias e expressões artísticas (como o Ensemble Cross.Art) sempre com a produção dos novos compositores em evidência. "Eu queria que a Bienal não fosse em uma direção só, mas que desse uma ideia da enorme multiplicidade que há hoje. Quem viu um concerto em um dia não terá visto o que acontecerá no dia seguinte", diz Dottori. "Ela sempre aponta para mundos sonoros novos, diferentes. É uma música que aponta para o que não estou habituado e não conheço. É uma surpresa sempre."
Música nova
Dottori diz que o público de Curitiba costuma ser aberto para a música contemporânea, apesar do estigma de música "difícil" que costuma acompanhá-la. O afastamento, de acordo com o músico, é menos uma realidade brasileira que europeia e norte-americana locais onde o sentimento dos pós-Segunda Guerra Mundial fez com que a vanguarda a negasse a cultura tradicional que levara a humanidade ao conflito. "Eles queriam fazer coisas que impedissem o público de entendê-los. Era para ser desnorteador mesmo", diz Dottori. Aqui, a reação aconteceu com o nacionalismo, mas a música contemporânea brasileira que teve como um de seus expoentes o maestro Rogério Duprat (1932-2006) e o movimento que passou a chamá-la de "música nova" a partir dos anos 1960 se voltou mais para o universal que para o confronto.
"Existe o que é difícil, existe o chocante, mas também existe o que é de fácil fruição", diz Dottori. "A centralidade da curadoria da Bienal foi essa: não é para agredir o público. É para encantá-lo por estar percorrendo um mundo novo dos sons."



