
Chegar perto e garantir uma foto ao lado do mestre do samba Jorge Aragão já seria um ótimo negócio para os parnanguaras Francisco Espíndola, de 11 anos, e Gabriel Correa, de 10, que descobriram cedo o talento e a paixão pela sonoridade contagiante do cavaquinho. Mas, além de um carinhoso registro fotográfico, eles ganharam o privilégio de dividir o palco com o sambista carioca, no show realizado em Paranaguá, no último sábado antes do carnaval. E não decepcionaram o público, dando show no instrumento e arrancando aplausos dos presentes.
Os dois "pratas da casa", como definiu o sambista carioca ao convidá-los ao palco, fazem parte da nova geração de pequenos amantes do choro, do samba e do carnaval, que vão para a avenida e provam que talento não tem idade.
Alexia Mariana Aparecida tem apenas 10 anos e vai desfilar pelo terceiro ano consecutivo como rainha de bateria da Escola de Samba Leões da Estradinha. "Vou sair de guerreira espacial", conta empolgada, tirando de letra a responsabilidade de conduzir a bateria no desfile do grupo especial. Ela começou a desfilar no carnaval de Paranaguá aos 4 anos de idade e já está acostumada à rotina puxada de ensaios nos dias que antecedem a entrada na avenida. No ano passado a escola foi campeã do grupo de acesso e, neste ano, a responsabilidade aumentou. Nada, porém, que tire o sono da jovem Mariana.
Antonina
Antonina também tem seus jovens talentos do samba. Eles têm entre oito e 12 anos e são integrantes do Bloco Boi do Norte, que desfilou sexta-feira. Apesar dos braços miúdos e da aparente falta de força, os cinco membros mais jovens da bateria do bloco não decepcionam na hora de tocar o instrumento. Com a proximidade do desfile, eles não queriam perder nenhum minuto do último ensaio, realizado na sexta-feira, na avenida do samba. Weslei Machado, 12, Victor Hugo Gonçalves, 9, Matheus Fernandes, 9, e o caçula do grupo, Kauã Gonçalves, 8, comandam as batidas do surdo. Douglas Cesar Cassilha, de 9 anos, assumiu a responsabilidade de conduzir a caixa.
A pouca idade também não impediu Francisco, de Paranaguá, de se transformar no Chicão do Cavaco. O primeiro contato com o instrumento foi aos 6 anos, na escola onde estudava, por intermédio do cavaquista Nei de Souza, ex-integrante do grupo "Os Originais do Samba", que já teve diferentes formações. "Ele mal tinha força nos dedinhos miúdos para controlar as cordas, mas, percebendo o seu interesse, compramos um cavaquinho para incentivá-lo", conta a mãe, Sônia de Campos.
As aulas continuaram na Casa da Música de Paranaguá, onde Chicão participou do grupo de choro "Chorando baixinho". Lá, além do conhecimento e da técnica para dominar o instrumento, ele ganhou também um parceiro: Felipe Vieira Marques, de 14 anos, o Felipe do Pandeiro, que, junto com Chicão e seu pai, Fábio Espindola, fazem apresentações em Paranaguá e região.
Professor de cavaquinho dos meninos Gabriel e Chicão, Nei de Souza aproveita sua experiência para ensinar as técnicas e manhas do cavaco na Casa da Música de Paranaguá. "Acho que o cavaco chama a atenção porque é um instrumento para solo. Basta apenas uma pessoa e um cavaquinho para fazer um som bacana", diz ele, que tem alunos de todas as idades. "A maioria é criança e jovem, mas tenho uma aluna de 75 anos que é fera", conta Souza.
O professor explica que é possível perceber rapidamente quem tem talento para o samba. "São pessoas que têm intimidade com o instrumento, apreendem rápido e, muitas vezes, até sozinhas", explica. "Talento sem trabalho, no entanto, não leva a lugar algum", ressalta.



