Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Festival

Ousadia e polêmica em Veneza

Shame, do cineasta inglês Steve McQueen, participa da corrida pelo Leão de Ouro com história de compulsão sexual

Michael Fassbender interpreta um viciado em sexo no novo filme do diretor Steve McQueen: em Manhattan, há poucas chances de controlar os impulsos | Reprodução
Michael Fassbender interpreta um viciado em sexo no novo filme do diretor Steve McQueen: em Manhattan, há poucas chances de controlar os impulsos (Foto: Reprodução)

Veneza, Itália - O videoartista inglês Steve McQueen, há três anos revelado em Cannes com o primeiro longa, o político, rígido e mais formalista Hunger, está de volta à cena agora em Veneza com o filme até o momento mais ousado da seleção competitiva: Shame. Se em sua estreia o diretor falava de um homem privado da liberdade no cárcere, agora ele conta a história de um homem com toda a liberdade que se pode usufuir no democrático mundo ocidental. Mas o personagem, chamado Brandon (Michael Fassbender, que interpreta Carl Jung em Um Método Perigoso), fez do próprio corpo a sua cela. É um prisioneiro do sexo, praticado nos mais diversos locais com prostitutas, parceiras ocasionais, ao vivo ou via internet.

Morando em Manhattan, ele tem sérios problemas para controlar seus vícios sexuais. Assim, vive sozinho em seu universo carnal cotidiano. Mas esta rotina se altera quando recebe a inesperada visita da irmã, Sissy (Carey Mulligan, de Educação e Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme). Eles dificilmente se entendem. É ela quem dá a única pista sobre a derrota que ronda os dois: "Não somos más pessoas, só viemos de um lugar ruim".

Na coletiva, McQueen, homônimo do ator americano ícone nos anos 1960 e 70, afirmou que "o filme é sobre necessidade, dor e desejo, e seu protagonista usa descontroladamente a atividade sexual para camuflar o sofrimento que carrega em si". Apesar do clima com frequência opressivo, Shame é filme que corre na tela fluido, rigoroso.

Cenas fortes

Em que pesem as aparências cruas das cenas quase explícitas e de um enganoso despudor, Shame é cinema sério e grave, uma história que se equilibra com coragem e honestidade entre o perturbador e a desesperança. É a melhor espécie de filme adulto que se pode (ou não) desejar. A intensa e complexa relação fraternal, sem se valer de inúteis explicações psicológicas, também é bem-vinda. Um ponto a destacar: Carey Mulligan – que não veio a Veneza porque estava doente – cantando "New York, New York" fora do arranjo repetitivo e burocrático que colecionou intérpretes desde sempre, mas como um blues autêntico.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.