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Música

Páginas cantadas da História

Livro mostra relação entre a canção popular e a política brasileira do fim do Império aos dias de hoje

Nana Caymmi e Gilberto Gil protestam contra a ditadura: período auge da canção política | Divulgação
Nana Caymmi e Gilberto Gil protestam contra a ditadura: período auge da canção política (Foto: Divulgação)
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Agnaldo Rayol gravou uma coletânea com as preferidas do ditador Costa e Silva |

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Agnaldo Rayol gravou uma coletânea com as preferidas do ditador Costa e Silva

"Meu irmão se liga/ No que eu vou lhe dizer/ Hoje ele pede seu voto/ Amanhã manda os ‘home’ lhe prender", alerta o samba "Candidato Caô Caô", de Pedro Butina e José Carlos, consagrado na voz de Bezerra da Silva (1927-2005).

INFOGRÁFICO: Veja como os caminhos da música se cruzam com os rumos da política no Brasil

Em períodos de campanha eleitoral, este samba é sempre lembrado como um instantâneo de como o imaginário popular enxerga a classe política do país. E serve também de amostra do quanto a música popular se ocupa dos temas republicanos nas letras de suas canções, uma tradição bastante antiga, desde o tempo em que as polcas animavam os últimos bailes imperiais no final do século 19.

Essa história está muito bem narrada no livro A Republica Cantada – Do Choro ao Funk, A História do Brasil Através da Música, que os pesquisadores cariocas André Diniz e Diogo Cunha acabam de lançar.

O texto é um retrato da História do Brasil, da queda da monarquia ao governo Dilma, a partir de mais de 200 canções. Do surgimento do choro ao batidão do funk, o livro é uma bem-humorada viagem no tempo pela vida musical e política do país.

"Este livro trata da relação entre a nossa República sofredora e a música popular, com uma qualidade rara: o livro canta, nos faz cantar com ele...", crava o compositor Aldir Blanc na apresentação da obra.

Blanc, aliás, é um dos personagens perfilados no livro, autor que é, em parceria com João Bosco, de algumas das mais importantes canções políticas da história, como "O Bêbado e a Equilibrista", que descreve o período da anistia política no final dos anos 1970, e "Mestra Sala dos Mares", um samba exaltação ao marinheiro João Cândido (1880-1969), conhecido como "Almirante negro", que liderou a Revolta da Chibata, em 1910.

A dupla de autores faz justiça à geração de Blanc, forjada nos festivais de música durante a ditadura militar com o auge da canção política no país. Conseguem demonstrar, contudo, que de alguma forma os compositores sempre refletiram em suas letras o que estava acontecendo no país.

Atire a primeira pedra

Um exemplo é o pianista Sinhô (1888-1930), um dos precursores do samba. Ele teve problemas quando compôs, por exemplo, "Fala Baixo", em 1921, satirizando a figura do então presidente Artur Bernardes (1875-1955).

Mostra também como a geração do rock nacional foi porta-voz dos anseios da juventude no período de redemocratização do país, na década de 80.

Outro mérito do livro é apresentar personagens marcantes e histórias curiosas, como a dos discos que costumavam ser lançados com as músicas preferidas dos presidentes da República. Ou o caso do soldado que, durante a campanha brasileira na Segunda Guerra, na Itália, se aproximou em uma madrugada de neblina da entrada da base brasileira e não foi reconhecido pela sentinela. Para provar que era mesmo um soldado brasileiro, o praça boêmio cantarolou o samba "Atire a Primeira Pedra", de Mário Lago e Ataulfo Alves: "Covarde sei que me podem chamar ..."

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