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Pagode empacotado para presente

Presença na tevê, maior frequência de shows e novas casas noturnas indicam que vem aí uma nova onda do samba pop – dessa vez, mirando na elite

O Exaltasamba, que comemora 25 anos de carreira: 23 shows em outubro | Divulgação
O Exaltasamba, que comemora 25 anos de carreira: 23 shows em outubro (Foto: Divulgação)
O Inimigos da HP, r epresentante da nova geração: presença na mídia |

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O Inimigos da HP, r epresentante da nova geração: presença na mídia

"Tudo que sobe, desce; tudo que vem, tem volta..." já preconizavam os roqueiros do The Fevers em 1982, no tema de abertura da novela Elas por Elas. A música, assim como a moda e o comportamento, é cíclica – o que hoje é mico, amanhã será "cult". Na cultura pop esses ciclos parecem obedecer à lógica dos 20 anos – cada geração que surge costuma negar a anterior, mas se identifica com o que era moda 20 anos antes. Foi assim nos anos 80 com o revival sessentista; o mesmo se deu nos anos 2000, com a exumação – e a anistia – de toda a estética dos anos 80 (das ombreiras aos sintetizadores). Agora, nesta segunda década do século 21, a bola da vez são os anos 90: no Brasil, com a paulatina reabilitação do chamado "pagode pop", especialidade de grupos como Raça Negra, Exaltasamba, Só Pra Contrariar e outros.

"Bobagem", dirá você. "No Brasil, o que continua bombando é o sertanejo universitário." Fato. Mas os pagodeiros já começam a disputar espaço com os chapeludos nos grandes eventos. Um exemplo é a Festa TDB 2011, em comemoração aos 23 anos da rádio 98 FM, que vai acontecer no próximo dia 16 de outubro no Expotrade Pinhais, com mais de 20 atrações: além de ídolos sertanejos como Bruno & Marrone, Maria Cecília & Rodolfo e Álvaro & Daniel, o line-up inclui nomes conhecidos do pagode, como Exaltasamba, Sorriso Maroto e Pixote.

Outro indício dessa nova onda é a agenda cada vez mais cheia dos grupos de samba pop: o Exaltasamba, por exemplo, que hoje é o maior representante do estilo, está no meio de uma turnê disputadíssima de 25 anos de carreira – só no mês de outubro, o grupo paulista vai fazer 23 shows nos quatro cantos do país. O Sorriso Maroto, surgido no fim dos anos 90 no Rio de Janeiro, também vai se apresentar 18 vezes. Já os Inimigos da HP, que representam a nova geração de pagodeiros paulistas, estão com a agenda um pouco mais tranquila: "só" dez apresentações marcadas para outubro. Há também uma procura cada vez maior por formações como Raça Negra (que se apresentou em Curitiba no mês passado), Só Pra Contrariar, Negritude Júnior e Molejo, entre outros.

Não por acaso, os grupos de pagode também têm sido vistos com mais frequência na televisão – um dia é o Exaltasamba no Faustão, no outro os Inimigos da HP na TV Xuxa, num terceiro é o Sorriso Maroto no Tudo é Possível, e assim por diante. O fenômeno se repete na tevê paga: o Canal Viva, por exemplo, tirou do baú em julho o Som Brasil especial sobre o pagode, exibido originalmente em 1997, que reuniu os grupos Só Pra Contrariar, Molejo, Exaltasamba, Art Popular, Negritude Jr., Raça, Karametade e Katinguelê, entre outros. Foi um sucesso.

As gravadoras, que lucraram muito com os pagodeiros nos anos 90 (só o álbum Depois do Prazer, do Só Pra Contrariar, vendeu mais de 4 milhões de cópias em 1997) e depois lhes viraram as costas, também já começam a resgatar o movimento: este ano a Som Livre lançou a coletânea Pagode Saudade, reunindo 14 sucessos de grupos como Raça Negra, Negritude Júnior, Razão Brasileira, Os Morenos, Molejo, Ginga Pura e Art Popular, e teve excelente resposta nas rádios, tevês e redes sociais.

Casas noturnas

Quem também já começou a farejar essa tendência são os empresários da noite. Este ano, o Grupo Wood’s (que possui baladas sertanejas em Curitiba, Balneário Camboriú, Cascavel, Foz do Iguaçu e São Paulo) se associou com Thiaguinho, ex-vocalista do Exaltasamba, para abrir a WS Brazil – uma casa noturna dedicada ao pagode, mas com ênfase no público das classes A e B. A primeira unidade do empreendimento deve ser inaugurada em breve em Curitiba.

"Há algum tempo, temos visto que o público do Wood’s também gosta de pagode, tanto que costuma frequentar os bares onde tem samba nos sábados e domingos à tarde", conta Bruno Maggi, um dos sócios do Grupo Wood’s. "Só que muitas dessas casas não têm a estrutura que pretendemos oferecer para trazer o público AB, que é o nosso foco."

Mas não há nenhum ar de nostalgia na proposta: "Focamos no público jovem, e o pagode está caindo no gosto dos jovens por causa da aproximação com o sertanejo", teoriza. "Um gênero aprendeu muito com o outro. O pagode de hoje não é mais aquele pagode chorão, só com música romântica, com aquele bando de caras dançando com os óculos na cabeça, atrás dos vocalistas. Ele adotou essa linguagem de ir para a festa, fazer bagunça, que cai como uma luva no gosto do jovem urbano universitário. Tanto é, que as grandes festas e rodeios de hoje voltaram a ter grupos como Exaltasamba e Inimigos da HP na programação."

Para o cientista social Dmitri Cerboncini Fernandes, que se debruçou sobre o tema em sua tese de doutorado na Universidade de São Paulo (USP), o pagode dos anos 90 só pode sofrer esse processo de "glamourização" de duas maneiras: ou pela renovação, ou pela nostalgia. "O Exaltasamba continuou desde aquela época, mas repaginou o grupo inteiro: tinha chamado o Thiaguinho, que é jovem, bonitinho... se chamarem os caras dos anos 90 que envelheceram, talvez não tenha o mesmo apelo", considera. "O outro caminho é a nostalgia: a indústria sempre faz esse movimento de resgatar alguns artistas em determinados períodos, seja como cult ou na forma trash mesmo, como aconteceu com o pessoal dos anos 80. Eu vou porque vai um pessoal da minha idade, que na época nem gostava, mas agora se interessa por uma paródia contrária àquilo que viveu."

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