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Oficina de Música

Para tocar cada vez melhor

No encerramento da oficina de violão clássico, alunos e professor refletem sobre os desafios para evoluir na carreira de músico erudito

Leonardo (ao violão) e Zanon: é importante “pegar pesado” para ver o que está atrapalhando o desempenho | Fotos: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo
Leonardo (ao violão) e Zanon: é importante “pegar pesado” para ver o que está atrapalhando o desempenho (Foto: Fotos: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo)
Yuri Marqueze, violonista clássico |

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Yuri Marqueze, violonista clássico

"Muito bem tocado. Mas algumas notas estão misturadas. Tente assim..." orienta o professor. O aluno repete o trecho de um dos prelúdios de Bach, seguindo as novas instruções. Aos inocentes ouvidos do repórter, parece perfeito.

Para o professor, não. "Se você posicionasse melhor o violão, ajudaria". O violonista se ajeita e repete as notas até ouvir: "Viu só como sempre dá para tocar melhor? Dá inclusive para tocar sem errar", brinca o paulista Fábio Zanon, uma das figuras mais importantes no cenário internacional de violão clássico, como solista ou camerista.

O aluno é Leonardo Salgado Pires, estudante da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap) e um dos trinta participantes da oficina de violão clássico encerrada ontem – uma das mais concorridas da 31.ª Oficina de Música de Curitiba.

Em uma semana, o maestro Zanon e músicos de origens e formações heterogêneas se reuniram em aulas que geralmente extrapolavam o limite das quatro horas diárias previstas. Nos encontros, muita música tocada e "conversada", em temas que foram desde a melhor maneira para entalhar um violão até a burocracia exagerada dos cursos de música das universidades brasileiras.

Diagnóstico

Mais importante: os aspirantes à carreira de músico erudito receberam um "diagnóstico" de seus potencias e limites. "O principal é vir alguém para dizer o que cada um precisa melhorar. Aquele ponto que exige concentração, pois está realmente atrapalhando a evolução", observa Zanon.

Para o músico argentino Marcos Pablo Dalmácio, é um privilégio conviver e aprender com um professor de um nível tão alto e com uma carreira construída em cima de muito estudo, mesmo em um tempo tão curto. "Ele consegue uma abordagem mais humana, ao contrário de alguns músicos que foram ‘meninos prodígios’ e não têm tanta paciência", disse.

"Eu já fui pior, já fui mais honesto, mas tem algumas coisas com que é preciso pegar pesado ou a pessoa não leva a sério", avalia Zanon, veterano da oficina como professor desde o ano passado e como aluno desde a metade da década de 1980. Dez anos depois, ele saiu do país para se tornar uma referência em seu instrumento na Inglaterra.

"Estudar fora não é só encontrar um bom professor. É uma questão de querer mudar a vida. Criar outra base. Você se torna ‘duas pessoas’ quando viaja e para um músico isso é muito bom", incentiva.

Compromisso

A certeza de que a busca pela excelência inclui sacrifícios e impõe dedicação total foram assimiladas pelo músico londrinense Yuri Marqueze.

Para o violonista de 23 anos, que está iniciando a carreira de concertista (fez apresentações em Portugal e no leste europeu), as aulas da oficina acabam sendo um estímulo e uma reflexão anual para a centena de músicos que "precisam decidir até que ponto querem levar o comprometimento com a música".

"Quem escolhe esta carreira sabe que não é como um dentista, que sai da faculdade e entra no mercado de trabalho em uma semana. É preciso sentir a música, estudar sempre e às vezes tomar decisões difíceis", avalia.

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