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Cena local

Parceiros que se entendem na criação

Audiovisual passa por um processo de facilidade de acesso similar ao vivido pela produção musical. Não por acaso, estão juntos

O videomaker e músico Vitor Moraes (à esq.) está gravando a pré-produção do primeiro disco do Lemoskine, de Rodrigo Lemos | Felipe Rosa/Gazeta do Povo
O videomaker e músico Vitor Moraes (à esq.) está gravando a pré-produção do primeiro disco do Lemoskine, de Rodrigo Lemos (Foto: Felipe Rosa/Gazeta do Povo)
O projeto Tubo de Ensaio, da produtora de vídeo Destilaria: clipes permitem mais experimentação |

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O projeto Tubo de Ensaio, da produtora de vídeo Destilaria: clipes permitem mais experimentação

Vinicius Nisi, que dirigiu

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Vinicius Nisi, que dirigiu

Quando, na metade do ano passado, até Chico Buarque foi convencido a ter os bastidores da gravação de seu novo disco divulgados diariamente na internet, ficou claro que o casamento entre os músicos e o vídeo tinha dado certo. O esquema profissional de um dos nomes mais tradicionais da MPB estava refletindo uma tendência que bandas independentes e novos cineastas também dominam há tempos, e que vem gerando produtos cada vez mais interessantes na cena local. De um lado, muitos músicos com material de qualidade para apresentar em seu principal meio de divulgação: a internet. Do outro, gente com câ­­meras melhores e mais baratas disposta a experimentar.

Mesmas plataformas

Uma destas parcerias pode ser vista agora. Tal qual o velho Chico, o músico Rodrigo Lemos está mostrando o processo de pré-produção do primeiro disco de seu projeto solo, o Lemoskine, por meio das lentes do também músico e videomaker Vitor Moraes – que há pouco lançou um documentário com o show de lançamento do mais recente CD da banda ruído/mm e já gravou artistas como Passo Torto, de São Paulo. A ideia é documentar a produção e aproximar o público. "É legal, porque as pessoas se veem dentro do disco", explica Lemos.

O destino destes chamados "teasers" de pequena duração é a internet – talvez a principal responsável pelo casório entre música e vídeo. "A facilidade que se tem, tanto para fazer músicas como para se produzir vídeos, mais as plataformas de divulgação em comum, como o YouTube e o Vimeo, acabaram juntando os dois", diz Moraes. Os meios democratizados também acabaram promovendo uma busca por qualidade. "Pela facilidade, também tem muita coisa ruim na internet. Isso gera a necessidade de tentarmos fazer coisas mais interessantes", explica o videomaker, que tem como uma de suas principais referências o francês Vincent Moon, do projeto Blogothéque, que produz vídeos de bandas tocando ao vivo. "Ele se relaciona com o momento em que a coisa está acontecendo, com o músico. Não é só a questão de registro, mas de se relacionar com o que está vendo e filmar de maneira mais próxima", diz Moraes.

Qualidade

Dos registros ao vivo aos clipes, que exigem uma produção mais complexa, uma das razões do sucesso da parceria entre bandas e produtores de vídeo é justamente a possibilidade de sofisticação estética. "A principal relação do vídeo com a música está na liberdade de criar, que é maior que em outros materiais", diz Arnaldo Belotto, da produtora Destilaria Audiovisual (leia mais no quadro abaixo). "Acho que 99% das bandas curitibanas ou brasileiras não têm dinheiro para pagar a produção destes vídeos. A maioria do material é de pequenos produtores que têm interesse de mostrar o trabalho", diz o cineasta, para quem o cenário vem gerando uma evolução na qualidade técnica e criativa do cinema paranaense.

De igual para igual

Se o dinheiro é escasso, não se pode dizer o mesmo da compreensão que os músicos vêm demonstrando sobre o audiovisual, de acordo com Belotto. "Algumas bandas já têm conceito de vídeo e foto bem avançado. É possível conversar de igual para igual, discutirmos referências, edição, estrutura, linguagem", diz. "Na maioria dos casos, os trabalhos com os músicos são uma criação coletiva. Tem o lado autoral do criador do vídeo, a linguagem da edição. Mas muito do conceito vem da banda", diz Belotto.

Tanto é que, não raro, os próprios músicos se encarregam de seus vídeos. Miguel Thomé, da Crocodilla, além dos clipes do próprio grupo, dirigiu "Tardes em Guadalajara" para a banda Anacrônica. O baterista da Sabonetes, Alexandre Guedes, há anos produz dezenas de vídeos para o grupo – incluindo a montagem e edição do mais recente clipe da banda, "Descontrolada", além de participar de outras produções.

Se este último é um caso à parte (Guedes se profissionalizou em cinema), o caso de Vinicius Nisi, tecladista da Banda Mais Bonita da Cidade, é um exemplo de como a música e o audiovisual vêm se complementando naturalmente. Em "Oração", que ainda deverá ser lembrado por bastante tempo, o ponto de partida foi a gravação da música. "Tanto a música quanto o vídeo têm nuances e entendimentos que acontecem. Mas não dá para você prever isso."

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