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O dramaturgo Mário Bortolotto | Paola de Orte
O dramaturgo Mário Bortolotto| Foto: Paola de Orte

"Pareciam cenas de um filme B", descreve a atriz Martha Nowill, ao falar do momento em que o dramaturgo Mário Bortolotto reagiu à tentativa de assalto no bar do Espaço Parlapatões, na Praça Roosevelt, no Centro de São Paulo, na madrugada deste sábado (5). O ator, diretor e autor de teatro foi atingido por três tiros e está internado em estado grave na Santa Casa de Misericórdia.

Horas antes do crime, que aconteceu às 5h50, segundo a polícia, Martha havia atuado no espetáculo "Brutal", escrito por Bortolotto. O autor havia assistido à performance da atriz no palco, por volta das 2h, e confraternizava com atores e a equipe da montagem no bar que fica num anexo ao teatro.

Na tarde deste sábado (5), atores, diretores e escritores, como Marcelo Rubens Paiva, fazem vigília em frente ao Pronto Socorro da Santa Casa, aguardando notícias sobre o estado de saúde do dramaturgo.

Segundo o ator Raul Barreto, médicos informaram que Bortolotto foi atingido por quatro tiros, sendo dois no tórax, um no pescoço e outro no braço. Segundo a assessoria de imprensa da Santa Casa de Misericórdia, onde ele foi internado, Bortolotto levou três tiros. Um novo boletim deverá ser divulgado depois das 19h.

Reação ao assalto

Martha Nowill contou que os homens invadiram o espaço cultural por volta das 5h30. Ela não soube especificar quantos eram.

"Eu vi dois; um deles estava armado. Mas o pessoal disse que tinha mais. Do jeito que eles entraram ali, pareciam bem loucos. Quem aparecesse pela frente, eles assaltariam. Lá dentro só tinha pessoas amigas. A peça acabou às 2h e ficamos ali tomando cerveja e conversando", contou.

Bortolotto teria reagido, de acordo com a atriz. "Ele foi numas de querer defender todo mundo, dizendo: ‘Aqui vocês não vão assaltar ninguém’". Em seguida, na versão de Martha, o dramaturgo se atracou com um dos homens que estava armado.

"Eu não vi quem atirou porque me abaixei e me rastejei para trás de uma geladeira para me proteger. Fiquei ouvindo a gritaria atrás do balcão. Só ouvi os tiros. Mas quem atirou deve ter sido o mesmo que eu vi armado", relembra.

Outra atriz que estava no local, Guta Ruiz, foi agredida por um dos assaltantes. "Levei uma coronhada na cabeça e caí no chão. Só vi que o agressor estava de camisa verde", contou. Segundo ela, a ação foi muito rápida.

"Vi quando o Mário reagiu e rolou no chão com um deles. Depois dos tiros, os bandidos fugiram". Em frente ao hospital, à espera de notícias do amigo, Guta resumiu toda a sua aflição: "Estou em estado de choque".

O ilustrador Henrique Figueiroa, de 30 anos - que costuma assinar seus trabalhos sob o pseudônimo de Carlos Carcarah - estava em companhia do dramaturgo e também foi atingido pelos disparos. Segundo a assessoria de imprensa do hospital Sírio Libanês, onde ele deu entrada, os ferimentos foram leves, o ilustrador está em um quarto sob observação e passa bem. Ainda não há previsão de alta.

Circuito interno de câmeras

A assessoria do Espaço Parlapatões informou que o circuito interno de câmeras do bar filmou a tentativa de assalto. Ainda não há informações se foi possível identificar os criminosos pelas imagens registradas. Nenhum deles foi preso.

A polícia esteve no espaço neste sábado para realizar a perícia. Segundo a Secretaria de Segurança Pública, um vigilante que trabalha no local contou que dois bandidos o abordaram e o levaram para o andar superior do bar, onde fica o camarim do teatro. Enquanto isso, outros dois criminosos ficaram na entrada.

Em dado momento, o vigilante ouviu disparos vindos do andar inferior. O bando fugiu levando o paletó do porteiro e o molho de chaves. Quando o vigilante desceu, encontrou as duas vítimas baleadas.

Trajetória de sucesso no teatro

Nascido em Londrina, no Paraná, Mário Bortolotto é um dos mais respeitados dramaturgos da cena teatral brasileira, autor de cerca de 27 montagens. Com textos modernos, que misturam elementos do rock, dos quadrinhos e do cinema, já foi premiado pelo conjunto de sua obra pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), além de ter recebido o prêmio Shell de Teatro pelo espetáculo "Nossa vida não vale um Chevrolet", em 2008.

Bortolotto também é escritor e já lançou quatro livros: a coletânea de poesias "Para os inocentes que ficaram em casa" e os romances "Mamãe não voltou do supermercado", "Bagana na chuva" e "Atire no dramaturgo". Este último, lançado em 2006, reúne os textos que ele escreve em seu blog homônimo há 5 anos.

O autor também costuma se apresentar na noite paulistana com sua banda de rock, a Saco de Ratos Blues, que mistura poesia e canções pouco conhecidas de artistas como Itamar Assumpção e Cazuza.

Atualmente, no Espaço Satyros, na mesma praça Roosevelt, há uma peça de Bortolotto em cartaz, "A lua é minha". Com direção de Luis Eduardo Frin, o espetáculo conta a história de um artista plástico em crise e sua relação com uma jovem que se apresenta como musa.

O dramaturgo também é autor da peça "O natimorto", adaptação do romance de Lourenço Mutarelli, "A frente fria que traz a chuva" e "Getsêmani".

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