Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Artes

Pavão escancarada

De volta a Curitiba, a artista Fernanda Pavão “doma e solta suas feras” em uma ousada performance audiovisual de pintura com o corpo

 | Eleuthério Netto/Divulgação
(Foto: Eleuthério Netto/Divulgação)
Amagoa: usando o corpo como instrumento, Fernanda Pavão pinta em verde as mágoas e as angústias de amuderecer |

1 de 2

Amagoa: usando o corpo como instrumento, Fernanda Pavão pinta em verde as mágoas e as angústias de amuderecer

 |

2 de 2

"Aqui é como na ‘gira’. Cinco minutos antes, já estou na pilha. Vamos começar de uma vez", decide Fernanda Pavão. Depois de aumentar o volume do som, a artista tira a roupa.

VÍDEO: Assita ao vídeo da primeira sessão de pintura de amagoa de Fernanda Pavão

E se entrega à quarta sessão – última do ano, realizada numa tarde da semana retrasada – do trabalho que produz desde junho, quando voltou à capital paranaense após uma temporada de três anos em Nova York.

Intitulada amagoa a obra é uma união audaciosa de performance, pintura com o corpo e multimídia. Um diário pessoal e artístico.

"São 34 anos de mágoa, de coisas que eu posso trazer para aquele momento ali", aponta o chão e as paredes cobertas de lona preta do ateliê na sala ampla do apartamento de último andar, no Bigorrilho.

No centro do espaço, Pavão estica uma tela de aproximadamente 15 metros quadrados e dispõe, com estratégia e intuição, os baldes e bacias com diferentes densidades de "tinta guache y outras cositas más".

Usando o instrumento em que transformou o próprio corpo, nua ela desliza e dança sobre a tela. Golpeia-a, às vezes, se enrola e se deixa parar sobre a tela.

Usar o corpo foi uma decisão que Pavão põe na conta do amadurecimento, da artista e da mulher. Algo que percebeu quando voltou a Curitiba.

Depois de três anos e meio estudando arte e tecnologia na Parsons – The New School for Design, e trabalhando no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) onde conheceu artistas como Marina Abramovic e Yoko Ono, Pavão precisou voltar e ficar.

Veio o convite para dar aulas no Centro Europeu. Faltava achar a direção na encruzilhada da arte. "Resolvi pegar a estrada que sou eu mesma. Se eu vou ser objeto, que seja o meu próprio objeto e de mais ninguém", resolveu.

Ela diz que não despreza as formas tradicionais de pintura. Adora a cor. "Ali estão; a luz, a escala tonal. A linha me interessa também. Mas entre a linha e a cor, no meu mundo hoje, só um desenho é muito pouco", avalia.

Para ela, era tempo de eliminar os intermediários. "Sempre tive um – o pincel a espátula, a paleta de cores. Agora eu não quero mais alguma coisa entre eu e o objeto, eu e a tela, entre eu e você, entre eu e eu mesma", teoriza, em seu expansivo estilo de se expressar.

Toda a performance é registrada em vídeo e foto – digital e polaroide. O resultado, ainda parcial, é um impressionante conjunto multimídia

Nas telas já finalizadas, após um longo processo de maturação e secagem, a gramatura das cores entre o espesso e o fluido são cortes e cicatrizes. Manchas de sangue e cores de paixão, ressentimento e perdão. Para seus amores, arte e aldeia.

Nos vídeos e fotos já editados vê-se com mais clareza a amplitude do trabalho: do vigoroso ao delicado, do intuitivo à técnica sofisticada.

"Não tem mais subterfúgio. Amadurecer é ter autocontrole, autoconsciência, auto várias coisas. Sublimo e não trago os bichos para a rua, para as minhas relações", diz, a respeito do momento pessoal.

Pavão sabe, no entanto, o que terá de fazer para terminar amagoa. "Eu trago os meus bichos para cá Entro no meu f* inner self, lá dentro mesmo. E depois, eu abro tudo o que tenho" confessa.

CADERNO G | 1:48

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.