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Festival de Teatro

Peças adaptama obra do sueco Ingmar Bergman

Dois espetáculos no Teatro da Reitoria partem de textos do cineasta de Persona, tratando de relações íntimas

Atráves do Espelho: versão teatral para um filme cultuado. | Fotos: João Caldas Filho/Divulgação
Atráves do Espelho: versão teatral para um filme cultuado. (Foto: Fotos: João Caldas Filho/Divulgação)

Como ocorreu em anos anteriores, o Festival de Teatro traz dois espetáculos ligados intimamente por um tema ou pessoa; nesse caso, pelo cineasta Ingmar Bergman (1918-2007) e seus textos calcados no diálogo.

Através de um Espelho é uma versão para o teatro do roteiro que se tornou um dos filmes mais cultuados do artista. Depois do Ensaio, um texto escrito por Bergman para teatro e montado pela primeira vez no Brasil.

A atriz Gabriela Duarte fazia um de seus programas típicos em Nova York – ir ao teatro às duas da tarde – quando se surpreendeu com um espetáculo muito mais emocionante do que esperava. “De Bergman a gente já espera algo forte, mas não esperava aquela força do texto”, contou à Gazeta do Povo. A experiência a levou a fazer uma produção própria no Brasil.

Ela considera a trama simples: Karin, sua personagem, acaba de sair de uma clínica psiquiátrica e deseja reagregar a família após a morte da mãe. Chegando ao balneário onde todos estão, porém, as coisas não saem como ela espera. Ou saem? De acordo com Gabriela, é o público quem terá de decidir se tudo “deu certo” ou não.

Como é a marca da obra do cineasta, a peça é baseada em diálogos, mas, conforme a atriz, não são apenas as palavras que comunicam a crise familiar, mas também a forma como os personagens se olham e se tratam.

O texto adaptado pela inglesa Jenny Worton torna o enredo mais passional – nada da frieza sueca, promete Gabriela. Montado no Brasil, ele ganhou ainda mais paixão pelas mãos de Ulysses Cruz, convidado pela atriz para a direção. “Ele quis fazer algo com que os brasileiros se identificassem.”

A velha sedução

Depois do Ensaio usa uma tradução direta do sueco para o português de um dos textos escritos para o palco por Bergman. Nele ressurge um tema típico da ficção e da vida real entre artistas, que é a atração entre uma jovem atriz e seu diretor. Neste caso, as coisas não são tão claras, já que Bergman homenageia a “escrita em forma de sonho” criada por outro sueco, August Strindberg, ou seja: surgem devaneios a ponto de se confundir a imaginação com a realidade. Isso porque ele conversa também com a mãe da atriz, com quem se relacionou no passado –, mas que já morreu.

“Esteticamente, é como não saber se aquilo é sonho ou aconteceu mesmo, que era a proposta do Bergman”, contou à Gazeta do Povo o ator Leopoldo Pacheco, que interpreta o protagonista Henrik Vogler.

As atrizes Sophia Reis e Malu Bierrenbach fazem, respectivamente, filha e mãe. Para piorar, a filha Anna está interpretando o mesmo papel feito pela mãe anos atrás, na peça O Sonho, de Strindberg.

Essa é considerada a obra de Bergman que mais disseca as relações internas do métier artístico do qual fazia parte. “A peça fala de processo de criação e paixão. É uma grande declaração de amor pelas mulheres com quem ele trabalhou”, opina Pacheco.

A diretora Mônica Guimarães brinca com o fato de o texto “falar de nada”. “É sobre as relações pessoais que se confundem com a vida profissional... enfim, não é nenhum Fanny e Alexander, em que você saia do teatro com aquele peso que a gente atribui a Bergman. Mas tem uma profundidade legal”, explicou à reportagem.

O cenário, como não poderia deixar de ser, é um palco onde O Sonho está sendo ensaiada, com coxias aparentes: amantes do teatro se sentirão em casa.

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