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Literatura

Pedagogo do universo

Obra apresenta parte das ideias do escritor russo Liev Tolstoi sobre educação infantil

Tolstoi: influência de Michel de Montaigne | Sergey Prokudin Gorsky/Library of Congress
Tolstoi: influência de Michel de Montaigne (Foto: Sergey Prokudin Gorsky/Library of Congress)
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Em 1849, Liev Tolstoi (1828-1910), depois de ter residido em Moscou e Kazan e frequentado dois cursos universitários – Línguas Orientais e Direito –, ambos abandonados apesar das boas notas, fundou uma escola na pequena propriedade rural de Iásnaia Poliana, onde havia nascido.

A questão escolar na Rússia foi uma preocupação constante de Tolstoi a ponto de ter afirmado, numa de suas cartas, que poderia morrer em paz se duas gerações de crianças russas aprendessem as primeiras letras nas cartilhas que escrevera, das quais receberiam também as primeiras lições poéticas.

Considerado por Stephan Zweig o "pedagogo do universo", o escritor russo não só elaborou o projeto de uma publicação pedagógica, chamada Revista da Escola de Iásnaia Poliana, como dedicou ao tema cerca de 629 trabalhos.

No fim de 2013, a Ateliê Editorial lançou Contos da Nova Cartilha: Segundo Livro de Leitura – Vol. 1, na tradução de Aurora Bernardini e Belkiss Rabello, com ilustrações contemporâneas feitas por crianças russas. Com esse livro, o leitor brasileiro passará a conhecer parte das ideias pedagógicas de Tolstoi e poderá confrontá-las com Contos da Nova Cartilha: Primeiro Livro de Leitura, obra publicada em 2005 pela mesma editora.

O autor das Cartilhas foi também grande leitor de Michel de Montaigne e parece ter incorporado dele algumas ideias sobre educação, principalmente aquelas contidas no ensaio intitulado "Sobre a Educação das Crianças", de 1580, no qual o ensaísta francês afirma que o preceptor deve fazer com que tudo passe pelo próprio crivo da criança e que nada "se aloje" na sua cabeça por simples autoridade ou confiança. Esse pensador acreditava que não se devia pedir aos pequenos "contas somente das palavras de sua lição, mas do sentido e da substância". Para Montaigne, o educador devia ora abrir caminho para o seu aluno, ora deixá-lo caminhar por si mesmo.

Liberdade

Pode-se perceber que o russo foi um ferrenho defensor da liberdade no processo educacional, pois acreditava que somente ela é capaz de desenvolver a personalidade do aluno, o seu lado criativo e de fazê-lo tornar-se até mesmo o próprio tutor. Isso se harmoniza com o que diz Montaigne ao tratar justamente da relevância da liberdade de pensamento na educação: "tanto nos submeteram às andadeiras que já não temos os passos soltos: nosso vigor e nossa liberdade se extinguiram", e, citando Sêneca, conclui: "não estamos sob um rei, que cada um disponha livremente de si mesmo".

Na opinião de Tolstoi, tão importante quanto conhecer as narrativas históricas, é conhecer as lendas e as narrativas ficcionais, pois são essas que apresentam as "leis fundamentais que regem a vida do povo". Por isso, suas Cartilhas são compostas de histórias maravilhosas, contos, fábulas, as quais visam a estimular as crianças e fazê-las refletir e filosofar. Aliás, sem filosofia toda educação é inócua, dizia Montaigne, mestre de Tolstoi.

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