Encontre matérias e conteúdos da Gazeta do Povo
Audiovisual

Pela “brasilidade” na televisão por assinatura

Um novo projeto de lei, que ainda precisa ser sancionado pela presidente, prevê mais produção nacional nas grades de programação e gera discussões

 | Felipe Lima / Gazeta do Povo
(Foto: Felipe Lima / Gazeta do Povo)

A aprovação do Projeto de Lei Constitucional 116/2010 no fim do mês passado cria um novo marco legal para o mercado de tevê por assinatura, mas traz também um ponto que tem gerado discussão entre o meio cinematográfico e as empresas do setor: as cotas de conteúdo nacional obrigatórias. O projeto, que tramitou em regime de urgência e precisa ser sancionado pela presidente Dilma Rousseff, é restrito aos canais pagos, e não inclui as televisões abertas.

Caso entre em vigor, todos os canais de um pacote de televisão por assinatura deverão veicular até três horas e meia de programação regional e nacional por semana, em horário nobre – e a regulamentação caberá à Agência Nacional de Cinema (Ancine).

Para a presidente da Associação Brasileira de Cineastas (ABD), Solange Lima, a lei ajudará a criar o que ela chama de uma "cota de socialização". "É chegada a hora de pensar que o país é grande. O projeto começa a dissolver as barreiras no Brasil na área do audiovisual e valoriza a cultura brasileira." Segundo ela, o fato de o projeto prever que parte das horas obrigatórias devam ser feitas por empresas independentes pode resultar na descentralização da produção, hoje concentrada no eixo Rio-São Paulo, e incentivar o trabalho em estados ainda pouco inseridos no mercado. "Há coisas maravilhosas sendo feitas no Acre, em Rondônia, e ninguém vê. É superbom ver um documentário de um cineasta de renome e também ter acesso a quem começou agora", opina.

Das empresas de televisão paga procuradas pela reportagem, a única a se pronunciar sobre as cotas foi a Sky, que enviou um comunicado por meio de sua assessoria de imprensa. Segundo a companhia, o consumidor não terá benefício com a medida (que determina também que um terço dos canais que compõem os pacotes devam ser brasileiros). "A imposição de cotas apenas restringe a liberdade de escolha do assinante, à medida que ele adquire um pacote com conteúdo imposto pela lei e não pelo mercado", diz a carta.

Para a Sky, a nova lei também poderá gerar aumento de preço nas assinaturas e as cotas irão "proteger poucos agentes da indústria de produção audiovisual brasileira". Além disso, a regulação pela Ancine aumentaria a burocracia. Contatada para explicar como deverão ficar as novas regras, a agência não respondeu as perguntas até o fechamento desta edição.

Grandes redes de televisão norte-americanas, lembra o cineasta, crítico e professor da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Moriconi, compram programas de produtoras independentes, o que gera uma diversidade maior na grade. Ele crê que as cotas podem ajudar a levar também mais filmes nacionais para a televisão, abrindo janela de exibição para produções mais modestas, que dificilmente conseguem estrear nos circuitos comerciais do cinema. "As cotas serão fundamentais para ajudar a desmistificar certos preconceitos ainda existentes sobre o cinema brasileiro."

Televisões

A Associação Brasileira de Programadores de TV por Assinatura (ABPTA) encaminhou na semana passada uma carta à Presidência da República e à Casa Civil questionando a constitucionalidade das medidas. A entidade não divulgou a carta, mas manifestou-se por meio de nota, defendendo mudanças no projeto de lei. "Em respeito aos mais de 11 milhões de assinantes de tevê paga no país, os quais esta entidade também representa, a ABPTA coloca-se contrária ao sistema de cotas, que viola a propriedade autoral e a liberdade de comunicação e expressão – e pode descaracterizar a tevê por assinatura como hoje é conhecida", afirma a ABPTA.

Interatividade:Você é a favor ou contra as cotas de conteúdo nacional na televisão paga?

Escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Principais Manchetes

Receba nossas notícias NO CELULAR

WhatsappTelegram

WHATSAPP: As regras de privacidade dos grupos são definidas pelo WhatsApp. Ao entrar, seu número pode ser visto por outros integrantes do grupo.