
Celebrada superlativamente como o acontecimento do mercado editorial brasileiro em 2010, a parceria entre as editoras Companhia das Letras e a Penguin se baseia na simplicidade dos clássicos.
À venda a partir de hoje, os quatro primeiros títulos do selo Penguin-Companhia não trazem novidade em si, mas primam pelo design lendário da multinacional britânica, por novas traduções e pelo que no meio livreiro se chama de "aparatos: prefácios, posfácios, intervenções editoriais.
As obras inaugurais são: O Príncipe, de Maquiavel, com prefácio de Fernando Henrique Cardoso e nova tradução de Maurício Santana Dias; Pelos Olhos de Maisie, de Henry James, com fortuna crítica, comentários do autor e tradução revista por Paulo Henriques Britto; O Brasil Holandês e Joaquim Nabuco Essencial, organizados pelo historiador Evaldo Cabral de Melo.
As tiragens iniciais foram de 10 mil a 18 mil exemplares, bem acima da média do mercado, de 2 a 3 mil.
Até dezembro serão outros oito títulos. O plano é lançar 24 por ano, um terço dos quais de autores brasileiros. Por contrato, todas as obras saem também em livro eletrônico e não podem custar mais que R$ 35.
Tal acordo vale por sete anos. A Penguin entra com o catálogo, aparatos editoriais e o know-how e dividirá despesas com marketing e confecção de livros. A receita é dividida igualmente. As partes não revelam a cifra investida.
Detalhes
O filão no qual a multinacional britânica fez fama global títulos de autores consagrados, geralmente em domínio público, em edições baratas mas bem cuidadas parece não ter mistério. É algo que, em tese, qualquer grande editora como a Companhia faria sozinha.
Segundo o diretor do novo selo, Matinas Suzuki Jr., é uma conclusão enganosa. "Parece que é simples assim, mas tem um monte de detalhes nas edições que requerem expertise e estamos aprendendo com eles.
Ele cita um exemplo: antes da introdução de Pelos Olhos de Maisie, há uma advertência de que detalhes do enredo serão revelados naquele texto. "É um cuidado espetacular com o leitor.
Suzuki ressalta também o investimento promocional: "É uma das únicas editoras do mundo que faz trabalho de fixar a marca.
Percebendo que havia no Brasil espaço para explorar essa fatia de mercado, a Penguin procurou o dono da Companhia, Luiz Schwarcz. "Estamos na parceria com o objetivo de aumentar o interesse do público brasileiro por clássicos, disse o executivo-chefe da Penguin, John Makinson que estará na Flip para debater o futuro do livro com o historiador americano Robert Darnton.
Fechado o acordo, Schwarcz e Suzuki foram a Nova York fazer um estágio na Penguin. Para ambos foi uma revelação ver, segundo Schwarcz, "a capacidade que têm de fazer um livro renascer em paperback [capa mole]. É um livro novo.
"É surpreendente o tratamento rejuvenescido que eles dão aos clássicos. Os livros precisam ter uma ideia e uma cara contemporâneas, ser palatáveis aos jovens, completa Suzuki.
Makinson e Schwarcz negam que a parceria seja a prévia para a aquisição da brasileira pela multinacional. Mas não descartam dilatar futuramente a associação. "Como toda parceria, se for bem sucedida ela provavelmente será ampliada, disse o inglês.




