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Pensamento solto no ar

Redescoberta, a Filosofia extrapola o hermetismo da academia e ganha espaço até mesmo na televisão

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Está nos livros de históra. A Grécia antiga era povoada por filósofos. Mas, com o passar dos séculos e o advento da industrialização e da tecnologia, que reduziram o tempo de lazer e, por conseqüência, de reflexão, o homem ocidental foi perdendo a capacidade de parar e se fazer perguntas essenciais como "Qual é o sentido da vida?" ou "Quem somos nós?".

Houve períodos – bem recentes, aliás – em que perguntar demais era, inclusive, perigoso. "A filosofia sumiu dos currículos escolares durante a ditadura militar no Brasil porque havia a preocupação em não formar pessoas que se questionassem demais", diz Edy Gianez Silva. O jovem de 21 anos, que acaba de deixar a faculdade de Filosofia, na UFPR, acompanha o que talvez seja uma nova fase da filosofia, ou seja, escapa do ambiente acadêmico para se aproximar da realidade cotidiana.

Ele coordena os cursos oferecidos pela casa de cultura Café e Arte, que reúne editora, livraria, pão de queijo, café e cursos livres para o público em geral. Na próxima quarta-feira, o espaço passa a abrigar o Café Filosófico, uma série de encontros semanais em que o público travará contato com o pensamento de 12 filósofos, sob a orientação de 12 professores da UFPR. É uma forma de deixar de lado o academicismo, mas sem ser superficial", diz Edy.

A iniciativa é apenas um exemplo do que parece ser uma tendência mundial: a popularização da filosofia. Livros, revistas e programas de TV passaram a discutir temas cotidianos sob o viés deste campo do conhecimento. No Brasil, dois programas da Rede Globo incluíram-na em sua programação: o Fantástico, com a filósofa Viviane Mosé, no quadro "Ser ou Não Ser", e o Saia Justa, da GNT, que incluiu a filósofa Márcia Tiburi entre suas "saias".

Mas, a popularização não pode se transformar em banalização? "Uma ação popular não é necessariamente uma ação fútil. Não é banal querer ser protagonista de sua própria vida, e não simples consumidor de fast-food (cultural, afetivo ou gastronômico) que é rápido, é gostoso (nem sempre é barato), mas tem baixo valor nutricional", considera Sílvia Monteiro.

A atriz, diretor e autora teatral é um exemplo cada vez mais comum de pessoas que procuram nesta área do conhecimento uma forma de aplacar suas inquietudes: Silvia está terminando o curso de Filosofia na UFPR e uma especialização em Ensino de Filosofia para Crianças e Jovens.

"Com o teatro eu criei uma relação com a vida que deu sentido à minha própria identidade como pessoa. As maiores alegrias e as maiores dores também passaram pelo teatro e nele foi gestada a crise que me levaria a buscar, intuitivamente, o 'consolo' da filosofia. Hoje, uma prática alimenta a outra", conta.

Assim como ela, políticos, engenheiros e arquitetos, entre outros profissionais, pautam suas ações em pressupostos filosóficos. "Vejo meus pacientes por inteiro, dentro do que hoje chamamos de visão holística", conta o médico homeopata Cláudio Paciornik. Para ele, a filosofia perpassa suas ações desde que, ao se formar, fez o juramento de Hipócrates (médico que, como bom grego, era também filósofo!).

Formação

A filosofia, por sinal, voltou a ocupar as mentes dos estudantes de Medicina – de onde nunca deveria ter saído. "A inclusão mo currículo do curso é um ganho humano em um tempo em que há uma preocupação com o lado humano e ético da formação", analisa Edy.

A disciplina também retornou aos currículos do ensino fundamental e médio no ano passado. "Considero esse resgate essencial, mas se é boa a forma como está sendo implementado nas escolas só a realidade vai nos mostrar. Muitas delas vão fazer uma opção mercadológica, será uma questão apenas formal", opina o filósofo, teólogo e historiador Adalberto Fávero.

No Colégio Medianeira, onde Fávero atua como vice-diretor, a disciplina é ofertada desde 1970, aos alunos do 2.º e do 3.º ano do ensino médio. A ela se aliaram, no começo da década de 90, as matérias de sociologia e de antropologia. "Trabalhamos a dimensão epistemológica da filosofia, que é ensinar a pensar, a fazer a leitura da realidade. Isso perpassa todas as matérias e cria uma cosmovisão que permite ao aluno fazer uma análise crítica do mundo", explica.

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