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A cortina estava aberta, os filhotes de labrador latiam lá fora e, junto com a claridade e um princípio de mal estar causado pela gripe me fizeram acordar antes das seis. O despertador tocou às 6h30min. A mulher deu um tapa no botão de desliga, o que significa que eu tenho que me ligar, entende. Uma das primeiras coisas que pensei quando recobrei a consciência foi: não acredito que vou ver Patti Smith e Beastie Boys juntos, hoje, e aqui pertinho. E, graças às benesses de ser jornalista, sem pagar nada.

Assista alguns momentos da primeira noite do Tim Festival na reportagem em vídeo. Leia também:Demorou pra chegar, mas valeu a pena

Corta para as 21h e trinta e muitos da noite. Essa vida de jornalista que não escreve sobre música não é fácil. Estava trabalhando e saí mais tarde – esse políticos só atrasam a vida da gente. No busão do Nilo Peçanha, caminho de casa e também da Pedreira, só três pessoas seguiam para o show. Eles desceram antes e eu depois, para deixar em casa os apetrechos de trabalho e voltar andando à vizinha Pedreira. Chegando perto do local, estranhei a ausência de som. Na entrada me pediram a credencial, que eu ainda não tinha. Então chamaram uma fada madrinha oriental para resolver o problema. Enquanto esperava, fiquei ouvindo o rap free-style dos manos da vila. Bem legal. Eles mandam bem e quando chegou a fada com o crachá, me senti culpado por entrar e deixar eles, artistas que deveriam ter prioridade e acesso total, do lado de fora.

Sabe aquele cara chato que chega no show e vai te perguntando: "Que banda é essa? Você conhece?". Exagero, mas estava parecido com isso ao chegar na Pedreira Paulo Leminski, para o Tim Festival, na noite desta terça-feira. Não é que eu não conhecesse, pois as bandas escaladas para a noite são ou foram top do cenário pop-rock mundial. Mas é que eu já fui um jornalista que escrevi sobre música e costumava ler tudo, escutar tudo e ver tudo sobre os músicos antes de chegar a um show. Desta vez, não pesquisei nada e, tenho que confessar, faz tempo que nem CD escuto direito. Mas não foi desleixo meu, não. A princípio pensei que seria só diversão e a concretização de algo impensável há 10, 15, 20 anos, ver um show de Patti Smith e Beastie Boys no Brasil e, melhor, em Curitiba e, melhor ainda, a poucas quadras da minha casa. Mas minha chefa me pediu um texto sobre o show, assim como pediu a outros que você vai ler por aqui também e eles, com certeza, bem melhores preparados do que eu. Portanto, aceitando o desafio e sem nenhum tipo de pesquisa, teria que confiar na minha memória para chegar à pedreira do Polaco e tentar escrever algo que valha a pena você continuar lendo. E minha memória está imprestável depois de três meses respirando política e ouvindo baboseiras. Além do que, para mostrar como sou velho, sou do tempo em que a Patti Smith era gatinha. Ok, exagero de novo, ela nunca foi gatinha, mas era uma das musas punks e eu tinha o LP dela. Ah, você não sabe o que é um LP, então vá estudar, cara.

Com a credencial pendurada no pescoço veio a informação que me deu um grande desgosto e até uma vontade de ir embora, Patti Smith já havia se apresentado. Decepção. Mas quem está no inferno não pode sair sem antes dar um abraço no diabo, então fiquei. Fui conduzido até a área de imprensa, um cercado do lado direito do palco, com visão e som ruins. Então um anjo loiro me conduziu ao camarote vip. Lá, pelo menos tinha comida e bebida de graça. E já havia começado o show dos Yeahs. Entre os vips encontrei as queridas filhas do Leminski. Garotas pedreira! Gente boa.

Como eu disse antes, estou musicalmente desatualizado e só havia escutado uma música da banda que eu lembrava. Não foi problema nenhum. Eles são bons e eu estava a fim de ouvir um pouco de rock. Gostei da banda. Bebe na raiz dos anos 60, 70 e faz um folk heavy honesto, principalmente se a bebida é de graça. Só havia comido algo consistente por volta das 14h, então a bebida subiu rápido. De repente, na minha frente vi uma tatuagem no braço de uma garota que me lembrou algo. Ela olhou para trás e eu reconheci. Era a roqueira baiana Pitty. Então entendi porque várias pessoas gastavam a bateria do celular capturando fotos a meu lado. Ela, a Pitty, também estava curtindo. Fiquei por ali, na minha, e além da cerveja gratuita pintou outras substâncias que alteram o estado do ser. Les fleurs du mal. Mas nem eu nem a Pitty fomos nessa. Já havia superado o spleeen baudelairiano por ter perdido Patti e a parte que me toca dos paraísos artificias ficou só no "Enivre-vous!". Descontando os encontros de amigos, as conversas possíveis e o atraso, o show dos Yeah Yeah Yeahs acabou acabando. Hora então de mais conversa com velhos e novos amigos.

Saindo do balcão do bar, olhei para o palco e um cara de terno entrou sozinho. De longe nem vi quem era. Ele, com ajuda de um suposto mordomo, tirou o paletó e foi para um box. Pequeospê. Era o cara! DJ Mixmaster Mike. E começava o show dos Beastie Boys, os brancos mais maneiros que já apareceram no hip hop. Maravilha. Teve um cara que largou as muletas e começou a dançar na minha frente. Então eu tomei vergonha na cara e fui lá no meio da galera. Showzão bacana. Os rappers estavam em casa e rolou até uma festinha de aniversário em cima do palco. Percebi uma coisa interessante pois em todos os lados que eu ia, tinha uma grande proporção de trintões ou quase trintões. Pessoas que pegaram os Boys no auge. E a cada intervalo ouvia um zum-zum-zum e uma palavra se repetia "Sabotage". Fiquei pensando que ou a galera era mesmo das antigas ou sei lá por que o hit sobreviveu anos e anos até desembarcar na Pedreira. Talvez eu tenho perdido algo ou o século 21 nem tenha começado. Não sei dizer o porquê, mas o fato é que no final, na última música, quando o trio pegou instrumentos e tocou "Sabotage", todo mundo chacoalhou. Eu me arrepiei. O show acabou e eu fui a pé para casa pensando em como é que iria escrever um artigo dizendo que gostei do show se eu nem vi a minha querida véinha Patti Smith, e logo aqui do ladinho de casa? Então, deixo aqui o meu protesto contra a falta de desorganização do Tim Festival. Onde já se viu tudo começar assim, na horinha certa? Onde vamos parar? Isso é "Sabotage".

Veja as imagens da noite

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