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Opinião

Personagens interessam mais que mistérios em The Leftovers

Delegado vivido por Justin Theroux traz ecos dos personagens de David Lynch | Divulgação
Delegado vivido por Justin Theroux traz ecos dos personagens de David Lynch (Foto: Divulgação)

Como em Lost, há um enigma instigante, uma reavaliação da vida diante de algo abrupto, além de um quê sobrenatural. Escolado pela má reação ao final de Lost, o produtor Damon Lindelof tem usado entrevistas para alertar espectadores de sua nova The Leftovers, série sobre o desaparecimento sumário de 2% da população da Terra e o tormento de quem ficou, os "leftovers" do título: "Melhor se ater menos ao mistério e mais aos personagens".

A julgar pelo primeiro dos dez episódios, exibido no último domingo, 29, pela HBO, ele tem razão.

Como em Lost, há um enigma instigante, um confronto entre quem crê e quem racionaliza e a reavaliação da vida diante de algo abrupto e inexplicável, além de um quê sobrenatural. Tudo em um cenário à primeira vista verossímil, uma cidadezinha abastada no norte dos EUA.

A premissa da série, baseada no livro homônimo de Tom Perrota (2011), é se os desaparecidos teriam sido alvo do "arrebatamento" esperado por algumas denominações cristãs, quando Jesus levaria os verdadeiramente crentes.

Na trama, os desaparecidos são tão díspares quanto o escritor Salman Rushdie, a ex-secretária de Estado Condoleezza Rice, a cantora Jennifer Lopez e o papa Bento 16.

Mais interessantes do que a repetitiva busca por respostas e a profusão de símbolos – alguém precisa avisar os produtores de tevê para dar um tempo com alces e cervos, por favor –, porém, são mesmo os personagens.

Há o delegado vivido por Justin Theroux, cheio de ecos dos personagens de David Lynch, com sua filha-problema (Margaret Qualley), seu filho crente (Chris Zylka) e a mulher (Amy Brenneman) que o trocou por um culto no qual todos se vestem de branco e fumam para professar fé.

Há o homem que caça cães raivosos e sacou tudo antes (Michael Gaston). Há uma noiva com dúvidas (Liv Tyler). Há a mãe que após perder marido e filhos adota a identidade de vítima em tempo integral (Carrie Coon), e, claro, há um pastor em crise e um guru.

Mistérios à parte, os diretores encheram o primeiro episódio de referências concretas ao pós-11 de Setembro, aquele outro evento repentino que deixou os americanos vagando sem respostas por anos e cujo aniversário é lembrado exaustivamente, muitas vezes para desespero de quem perdeu alguém.

Se enveredar por aí, questionando o fanatismo, explorando a angústia e presa a perturbações do mundo palpável, The Leftovers pode ser bem-sucedida.

Mas se partir para a espiral de divagações lostinescas ou tentar emular os simbolismos de Lynch com o cuidado apenas de trocar uma trilha sonora sinistra por uma melancólica, será melhor rever True Detective.

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