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Pesquisadora grava skatistas na Praça do Gaúcho, em Curitiba: som dos skates deslizando sobre a pista fazem parte do mapa sonoro da cidade. | Adriano Elias/Divulgação
Pesquisadora grava skatistas na Praça do Gaúcho, em Curitiba: som dos skates deslizando sobre a pista fazem parte do mapa sonoro da cidade.| Foto: Adriano Elias/Divulgação

Pelo menos desde o fim dos anos 1960 há gente dedicada a registrar e estudar as chamadas “paisagens sonoras”. É como os estudiosos chamam os conjuntos de sons, agradáveis ou infernais, que nos rodeiam.

O campo, no entanto, ganhou outra dimensão em tempos digitais: “mapas sonoros”, em que é possível acessar pelo computador registros de sons de vários lugares, se multiplicaram na internet – vários deles interativos e abertos a contribuições dos usuários. Em projetos colaborativos como o Radio Aporee, é possível ouvir desde os sons triviais de uma pedreira em Madagascar até os sons da mata às margens de um rio no Amazonas.

Em abril, Curitiba ganhou seu mapa sonoro colaborativo. O projeto é da musicista e pesquisadora Lilian Nakahodo, que começou a estudar cartografias sonoras em 2012, para o mestrado em música na UFPR.

A ideia inicial era fazer um inventário com sons que seriam uma espécie de patrimônio imaterial de Curitiba. Mas acabou tomando outro rumo quando ela começou a ouvir moradores da cidade, selecionados como ponto de partida do mapeamento.

Virou uma “cartografia afetiva”, que passa pela memória de 29 pessoas com perfis diferentes – idades de 30 a 105 anos, de todas as “regionais”.

Mapa Sonoro Cwb: Uma cartografia afetiva de Curitiba

À venda na Livrarias Curitiba e diretamente pelo site do Mapa Sonoro. R$ 40

“Normalmente o que os mapas sonoros fazem é reunir uma gama enorme de amostras de som, sem direcionamento”, diz Lilian. “O enfoque afetivo foi uma tentativa de dar um sentido para os sons.”

Sons de Curitiba

O resultado dos depoimentos gerou surpresas. Vários mencionaram o canto dos sabiás; poucos se lembraram dos sinos da Catedral. Lilian foi a campo para registrar alguns dos mais significativos. Gravou o barulho da operação dos ônibus biarticulados; o trem de carga cruzando bairros como o Hugo Lange; o famoso grito da vendedora da loteria Teresinha dos Santos anunciando a “Borboleta 13” no Calçadão da XV. O recorte foi reunido num “livreto-CD” que pode ser comprado no site do projeto, onde os registros também podem ser ouvidos.

Conheça a dona da voz do ônibus de Curitiba

Quase três milhões de pessoas pegam ônibus todos os dias na capital paranaense. E muitos escutam as mensagens gravadas por uma mesma voz. Conheça Angela Molteni, a voz do ônibus e de mais outros muitos trabalhos que você já pode ter ouvido.

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Oficinas

A proposta dos idealizadores do mapa sonoro é de que o projeto continue. Lilian espera receber colaborações de qualquer um que queira enviar suas gravações e depoimentos para o mapa (é preciso entrar em contato por meio do site). E quer continuar a organizar “oficinas de mapeamento sonoro”, que leva a campo os próprios moradores que quiserem mapear suas regiões.

Funciona assim: a musicista discute com moradores a percepção que eles têm do som no bairro, explica o que é mapa sonoro e mostra técnicas de gravação. Em seguida, todos saem em uma “caminhada sonora”.

Oficinas no Pinheirinho e na Cidade Industrial de Curitiba foram feitas como contrapartida social do projeto (viabilizado por meio da lei municipal de Incentivo à Cultura). Mas se tornaram um dos desdobramentos mais interessantes do Mapa Sonoro CWB, segundo Lilian. “[A oficina] acaba mudando a percepção do lugar, trabalhando algo que é periférico, trazendo uma experiência diferente”, conta.

Conheça outros projetos de cartografia sonora pelo mundo

Radio Aporee

Provavelmente o mapa sonoro de maior escala – tem registros em todos os continentes, chegando a milhares na América do Norte, Europa e Ásia. É aberto para colaborações sem mediação. Reproduz automaticamente uma rádio 24 horas que toca gravações do mundo todo.

Sound Seeker

Foi criado em 2006 por membros da New York Society for Acoustic Ecology (NYSAE), usando o Google Maps. A proposta é reunir sons de Nova York.

Montréal Sound Map

Também baseado no Google Maps da cidade canadense.

Belfast Sound Map

Feito para a capital da Irlanda do Norte, este mapa pretende “engajar as comunidades locais” na captura dos sons.

The London Sound Survey

Idealizado por Ian Rawes, reúne registros sonoros de Londres.

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