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 | Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau Abib Neto/Especial para a Gazeta do Povo

Philip Roth costurou vida e obra de um jeito que é impossível analisar uma sem abordar a outra. Faz sentido a escritora Claudia Roth Pierpont (o sobrenome é uma coincidência) pinçar fatos da vida dele para discutir toda a obra do homem no livro Roth Libertado, publicado agora pela Companhia das Letras. O escritor vivo mais importante dos Estados Unidos – e raramente “mais importante” é usado com essa propriedade –, Roth, de 81 anos, falou sobre tudo que importa ao longo de 50 anos de carreira: amor, sexo, casamento, política, doença, velhice, morte e mais. Ele escreveu dezenas de livros, uma lista que termina com Indignação (2008), A Humilhação (2009) e Nêmesis (2010, ano em que anunciou sua aposentadoria). Claudia – que trabalha para a revista New Yorker – respondeu algumas perguntas para a Gazeta do Povo, por e-mail. Na opinião dela, o tipo de livro que Roth escreve é “provocador, agressivo e intenso”.

Roth Libertado

Claudia Roth Pierpont. Tradução de Carlos Afonso Malferrari. Cia das Letras, 480 pp., R$ 52,90.

Por que você decidiu escreveu sobre Philip Roth?

Admiro a obra de Roth desde que li O Escritor Fantasma em 1979. Depois disso, li todos os livros à medida que foram publicados e procurei todos os outros que saíram antes disso. Para mim, ele é o mais estimulante dos escritores modernos: ele faz pensar, ele faz rir, e você continua pensando e rindo muito tempo depois de ter terminado de ler. A epígrafe do meu livro é uma frase que Roth pegou de Kafka: “Acredito que só devemos ler os livros que nos atormentam e que nos causam dor. Se um livro que estamos lendo não nos atinge com um golpe na cabeça, qual é a razão de ler?”. É esse o tipo de livro que Roth escreve: provocador, agressivo, intenso. Não há nada complacente nos livros dele e eles não permitem que o leitor seja complacente. É por isso que quis escrever sobre ele.

Ao escrever sobre a vida que inspirou a ficção de Roth, qual foi seu limite?

Nunca houve um limite em relação ao que seria abordado sobre a vida de Roth. Como eu estava escrevendo principalmente sobre os livros, quis incluir aspectos da vida dele que pudessem iluminar os textos. O relacionamento dele com a família, as opiniões políticas, os dois casamentos: ele escreveu sobre todas essas coisas de um jeito ou de outro, e imaginei que seria interessante para o leitor ter acesso a esse tipo de contexto – interessante não pela informação em si, mas porque esses fatos ajudam a ver como ele transformou os eventos de sua vida em literatura. Para mim, o verdadeiro fascínio da biografia de qualquer artista é descobrir como a vida foi usada, como o processo de transformação artística funciona e o que foi que alimentou a imaginação.

Livros deixam evidente o duelo de Roth com os temas que o interessam

Aprendi algumas coisas lendo os livros do Philip Roth. Que envelhecer não é necessariamente se tornar mais sábio. Que a vida não fica mais simples por causa da experiência acumulada com o tempo. Que o acaso é uma peça importante na máquina que move a vida. Isso tudo pode soar deprimente, mas ler Roth funciona – ao menos para mim – como um tipo de a

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Estudos literários afirmam que não faz diferença saber a respeito da vida do escritor para apreciar a obra, mas existem provas de que informações assim podem enriquecer a experiência de leitura.

Não tenho dúvida de que os livros dele se sustentam sozinhos, sem necessidade de um contexto biográfico. Nós ficamos entusiasmados com o que lemos, envolvidos pelos textos, independentemente de qualquer coisa que a gente saiba sobre a vida de um escritor. Para citar um exemplo óbvio: veja como sabemos pouco sobre a vida de Shakespeare. Isso faz diferença? Saber quase nada sobre a vida do escritor, com certeza, não diminui a obra nem o significado que ela tem para nós. Mas, claro, nossa curiosidade é grande e queremos saber mais sobre um escritor que é importante para nós.Mas quis escrever um tipo de livro híbrido, fazendo três coisas ao mesmo tempo: analisar de perto os livros de Roth, usar informações biográficas para ampliar nossa compreensão e também usar os comentários pessoais de Roth sobre sua vida e obra. Meu objetivo foi abordar os livros das maneiras mais variadas possíveis, dar um panorama completo.

Depois de ter trabalhado com Roth, você teve ideia do motivo por que ele parou de escrever?

Acredito que ele parou de escrever porque, se aproximando dos 80 anos, ele percebeu que os livros estavam ficando mais finos e mais difíceis de serem concluídos. Ele já comentou sobre como, com a idade, se tornou mais difícil manter um romance extenso na cabeça, algo fundamental para um escritor ao retomar o trabalho todos os dias. Vários dos romances tardios são mais curtos e menos complicados que os trabalhos de fôlego dos anos 1990 – embora cada um deles tenha um poder próprio – e eles exigiam um número maior de esboços. Ele quis sair de cena sem perder a força.

Há uma obra para cada tipo de leitor

Se conversasse com alguém que não soubesse nada sobre Roth, Claudia Roth Pierpont diria que os livros dele são “extraordinariamente vivos, intensos e engraçados, e tão repletos de ideias que deixam sua mente a mil”.

“Mais que tudo, diria que são muito prazerosos de ler”, diz Claudia.

Se você nunca leu nada de Roth e se pergunta por onde começar, a escritora diz que a indicação depende de cada pessoa. “Para começar fácil, com um livro lírico, perturbador e também muito engraçado: O Escritor Fantasma. Para uma pessoa que gosta de grandes romances russos e franceses: Pastoral Americana. Para alguém que realmente gosta de sagacidade e engenhosidade formal: O Avesso da Vida. E para uma alma destemida que não tem medo de ser desafiada e que não se importa com o politicamente correto (mas se importa com textos incríveis): O Teatro de Sabbath”.

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