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Estreia

Pi e o felino

As Aventuras de Pi aposta na fé e no deslumbramento possibilitado pela narrativa

Pi Patel (Suraj Sharma): luta pela sobrevivência em alto-mar | Divulgação
Pi Patel (Suraj Sharma): luta pela sobrevivência em alto-mar (Foto: Divulgação)

As Aventuras de Pi, que chega nesta sexta-feira aos cinemas, não é um filme para céticos. O diretor taiwanês Ang Lee, vencedor do Oscar de melhor direção por O Segredo de Brokeback Mountain, conseguiu realizar o que muitos julgavam ser impossível: transpor para o cinema o premiado romance A Vida de Pi, do canadense Yann Martel, cuja obra, por sua vez, teria buscado inspiração no livro Max e os Felinos, do autor gaúcho Moacyr Scliar (1937-2011).

Pi Patel (Suraj Sharma), o protagonista do filme e do livro que o inspirou, é um garoto indiano fascinado por religiões, às quais devota uma curiosidade ao mesmo tempo obsessiva e generosa, que em plena adolescência sofre um revés definitivo. E que serve de mote para o filme de Lee, capaz de traduzir em imagens uma narrativa que muitos julgavam infilmável, tamanha a sua subjetividade. Porque discute, em sua essência, a fé, não por um deus em especial, mas no embate miraculoso de forças ao qual damos o nome de vida.

Quem não se juntar a essa viagem do personagem, sairá frustrado do cinema, portanto.

Em companhia da família, Pi e os animais do zoológico de sua propriedade embarcam rumo ao Canadá, em busca de melhores condições de vida. Em meio à longa travessia rumo ao continente norte-americano, uma tempestade faz o navio naufragar. Somente o menino e alguns poucos bichos conseguem sobreviver. Entre eles, um tigre de bengala chamado Richard Parker, com o qual o garoto dividirá um bote por muito tempo – meses supõe-se – à deriva no oceano.

Pode parecer entediante a ideia de que boa parte da ação de As Aventuras de Pi se passe em alto-mar, e tenha como foco essencial o convívio em tese inviável entre Pi e a fera, para a qual o garoto é sempre uma potencial presa. Mas o filme é tudo menos chato, contanto que aceitemos o já citado contrato filosófico proposto pela narrativa.

Ang Lee, um habilidoso e sensível contador de histórias, que sempre está a discutir os limites entre o dever e o desejo, cria um espetáculo deslumbrante, que não economiza efeitos visuais (o tigre, espetacular, é criado digitalmente) e busca, sim, o deslumbramento, a beleza, em escala quase irreal. Afinal, o filme discute os limites da crença, e o poder da história, tal como ela é narrada anos mais tarde, quando Pi já é um homem adulto.

No cerne de As Aventuras de Pi está a ideia de que tudo é possível na imaginação de quem conta a história. Se você decidir entrar nesse barco, vai assistir a um dos filmes mais emocionantes do ano. GGGG

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