O texto poderia ter sido escrito hoje para retratar o clima de tensão vivido no país com relação à expressão das relações homossexuais nas artes. Mas a peça A Gaiola das Loucas (confira o serviço completo do espetáculo), de Jean Poiret, estreou em 1973, em Paris, e continua sendo retomada por artistas de peso que atraem plateias numerosas. É o caso da versão de Miguel Falabella que chega a Curitiba no próximo fim de semana, com três apresentações no Teatro Guaíra.
A trama toca em uma questão ainda hoje delicada: a criação de crianças por casais gays. Georges, dono do cabaré La Cage aux Folles ("a gaiola das loucas"), em Saint Tropez, cria o filho Lourenço, fruto de uma relação heterossexual com uma corista de cabaré. Ele forma um casal com Albin que, nos palcos, onde atua como vedete, atende como Zazá. Lourenço decide se casar, mas tem o azar de encontrar um sogro homofóbico e ainda mais presidente do partido Família, Tradição e Moralidade, que tem entre suas plataformas a expulsão dos homossexuais de toda a Riviera Francesa.
A identificação brasileira com a dobradinha "polêmica mais comédia" é uma das explicações para o país ter recebido uma adaptação da obra logo no ano seguinte à estreia parisiense. O casal gay foi vivido por Jorge Dória, hoje com 90 anos, e pelo humorista Rodolfo da Rocha Carvalho, o Carvalhinho, morto em 2007.
A dupla soube dotar de profissionalismo a peça, então "escandalosa". Em crítica sobre o espetáculo publicada pelo Jornal do Brasil, o polonês radicado no Rio de Janeiro e morto em 1990 Yan Michalski es creveu que os dois atores brasileiros "curtem seus papéis com uma alegria contagiante, grande riqueza de detalhes e uma graça altamente valorizada pelo fato de não se tratar de uma mera exibição de trejeitos afeminados e sim de composições estudadas e completas".
A ressonância da obra entre plateias internacionais também é potente, a julgar pelo número de adaptações: além das duas versões em longa-metragem a mais conhecida, de 1996, é estrelada por Robin Williams e Gene Hackman e duas sequências, a história virou musical na Broadway, que este ano parte em turnê.
No Brasil, Miguel Falabella estreou em 2010 sua versão do musical, com ele e Diogo Vilela no papel da dupla gay e apresentações no Rio e em São Paulo.
Como não seria possível viajar com a parafernália do musical, a versão que chega ao Guaíra no sábado é a adaptação da própria peça, e tem Sandro Christopher como Albin. Completam o elenco Jorge Maya (com Jacó), Davi Guilhermme (Lourenço), Carla Martelli (Anne), Eliana Rocha (Xavière), Carlos Leça (o sogro, Dieulafoi), Keila Bueno (Madame Dieulafoi) e Gustavo Klein (Francis, Mercedes e Cagelles).
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Serviço:
A Gaiola das Loucas (confira o serviço completo do espetáculo). Teatro Guaíra (Praça Santos Andrade, s/nº), (41) 3304-7900. Dias 12 e 13, às 21 horas, e dia 14, às 20h15. Ingressos a R$ 196 (plateia, filas A a K), R$ 176 (filas L a V), R$ 156 (1º balcão) e R$ 136 (2º balcão). Meia-entrada para estudantes, professores, pessoas com mais de 60 anos, deficientes físicos e doadores de sangue. Assinantes da Gazeta do Povo e associados do Clube Curitibano contam com 20% de desconto na compra de até um bilhete por titular. Classificação indicativa: 12 anos.



