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Polêmica para pautar grandes discussões

Christopher Hitchens ficou famoso pelo discurso antirreligioso, mas o conjunto de sua obra é maior e mais relevante do que a militância no ateísmo

O autor inglês, naturalizado norte-americano, escreveu que queria “encarar a morte de forma ativa, e não passiva” | Divulgação
O autor inglês, naturalizado norte-americano, escreveu que queria “encarar a morte de forma ativa, e não passiva” (Foto: Divulgação)

O escritor britânico Christopher Hitchens ganhou notoriedade nos últimos anos pela militância no ateísmo e por suas críticas às religiões, mas essa fama reduz demais o escopo da obra que deixou após a sua morte, ocorrida na última sexta-feira, aos 62 anos, em decorrência de uma pneumonia causada por complicações de um câncer no esôfago. Intelectual que se dedicava com a mesma verve a debates sobre literatura e política, Hitchens acreditava na polêmica e no desentendimento como elementos essenciais da vida pública.

"Se você se preocupa com o consenso e a civilidade", escreveu no livro Cartas a um Jovem Contestador (Companhia das Letras), "é bom estar equipado com argumentos e combatividade, porque do contrário o ‘centro’ será ocupado e definido sem que você tenha ajudado a determinar onde ele fica". Essa combatividade foi a principal marca de uma carreira de quatro décadas que atravessou gêneros (do ensaio literário à reportagem de guerra) e credos políticos (do socialismo da juventude à aproximação com os neoconservadores americanos depois dos atentados de 11 de Setembro).

As investidas contra o que chamava de "islamofascismo" (outra guinada provocada pelo 11 de Setembro em sua atividade pública) e a indignação com o Vaticano por sua leniência com os recorrentes escândalos sexuais envolvendo membros da Igreja o levaram a escrever Deus Não É Grande: como a Religião Envenena Tudo (Ediouro), que se tornou um improvável best-seller.

As provocações antirreligiosas lembraram atos anteriores de Hitchens, que já tinha defendido a prisão, por crimes contra a humanidade, de Henry Kissinger, secretário de Estado americano durante a Guerra do Vietnã, e escrito um livro em que "desmascarava" Madre Teresa de Calcutá.

Modelo

Autor de um importante livro sobre George Orwell, seu modelo intelectual (A Vitória de Orwell, Companhia das Letras), Hitchens foi também interlocutor dos principais escritores de sua geração na Grâ-Bretanha, como Ian McEwan, Salman Rushdie e Martin Amis.

Em tempos de Europa em crise cujo epicentro está na Grécia, não deixa de ser curioso lembrar que o escritor começou sua carreira em obras que tratavam daquela região. Logo após publicar sua obra de estreia – Cyprus (1984), sem tradução no Brasil, em que abordou a invasão da ilha de Chipre pela Turquia –, Hitchens escreveu Imperial Spoils: The Curious Case of the Elgin Marbles, livro-reportagem de 1987 em que defendia a devolução de ruínas gregas em posse do Reino Unido ao seu país de origem.

Sobre a continuidade no trabalho mesmo no fim da vida, Hitchens escreveu na biografia Hitch-22: "Quero encarar a morte de maneira ativa, e não passiva. E estar lá para olhá-la nos olhos e fazer algo quando chegar minha vez".

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