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Incentivo

Portas abertas para o gospel

Lei reconhece música com mensagens religiosas como manifestação cultural, o que deve diminuir questionamentos sobre a captação de recursos via Ministério da Cultura

Fabiano, Ednilton Felix, Felipe e Fernando Desselmann, dos Campeiros de Cristo, de Ponta Grossa, compraram o primeiro ônibus, fazem 20 shows por mês e têm planos para gravar um DVD ao vivo | Josué Teixeira / Gazeta do Povo
Fabiano, Ednilton Felix, Felipe e Fernando Desselmann, dos Campeiros de Cristo, de Ponta Grossa, compraram o primeiro ônibus, fazem 20 shows por mês e têm planos para gravar um DVD ao vivo (Foto: Josué Teixeira / Gazeta do Povo)

Com letras que exaltam a fé cristã e com arranjos emprestados de outros gêneros musicais, como o rock e o funk, a música gospel ou religiosa tem alcançado os primeiros lugares entre os CDs mais vendidos e as canções mais executadas nas rádios. A Associação Brasileira de Produtores de Discos (ABPD) não tem números oficiais sobre o segmento, mas divulga que os padres-cantores Marcelo Rossi e Fábio de Melo estiveram no topo da lista dos discos mais vendidos nos anos de 2006 a 2008, batendo cantores populares como Ivete Sangalo e Roberto Carlos e também duplas sertanejas como Victor & Leo. No último ano, os artistas gospel ficaram atrás de nomes como Paula Fernandes e Luan Santana, mas continuaram ocupando posições de destaque nas paradas do país. A tendência de crescimento do setor é agora reforçada pela lei n.º 12.590, publicada neste mês, que reconhece a música gospel como manifestação cultural e abre caminho para que músicos e eventos do gênero recebam patrocínio pela Lei Rouanet.

Por meio da nova regra, a iniciativa privada pode apoiar o segmento e ter abatimento no Imposto de Renda (6% para pessoas físicas e 4% para empresas). Em 2011, somente projetos na área de música captaram R$ 266,3 milhões em recursos no país. A assessoria de imprensa do Ministério da Cultura informa que a lei não amplia o número de beneficiários porque a música gospel já era entendida como manifestação cultural nas análises dos projetos.

O autor da nova lei e ex-deputado federal, Robson Rodovalho, aponta que, apesar da inclusão anterior do gênero na Lei Rouanet, sempre apareciam questionamentos do Ministério Público atentando para o fato de que o Estado é laico e não poderia estar vinculado a eventos religiosos. "Com a lei, nós fechamos essa brecha, mostrando que a música gospel ou sacra é uma manifestação da nossa cultura, tanto quanto o carnaval ou o rock", lembra. Para o advogado Paulo Fernando Melo, redator da lei e integrante da Frente Parlamentar Católica, a lei pode ampliar os patrocínios.

Interesse

A música religiosa começou a ganhar a mídia com o padre Zezinho, há cerca de 40 anos, mas começou a viver um boom apenas na última década. O coordenador do curso de licenciatura em Música pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Rogério de Brito Pergold, acredita que o grande número de denominações religiosas que compraram horários nas grades das emissoras de televisão fomentou a criação do público para a música gospel.

As gravadoras reconheceram esse potencial. Em 1991, foi criada a Line Records, especializada em música religiosa, e nos últimos anos gravadoras tradicionais aderiram ao gênero. A Sony, por exemplo, é a gravadora do padre Marcelo Rossi e a Som Livre, do padre Fábio de Melo. O padre Reginaldo Manzotti, de Curitiba, também grava pela Som Livre. Manzotti ficou conhecido como o "padre que arrasta multidões". Em outubro do ano passado, um show na praia de Iracema, no Ceará, reuniu 1,4 milhão de pessoas, ou seja, quase uma Curitiba inteira (1,76 milhão de habitantes).

Para o bispo Rodovalho, a música gospel tende a ganhar ainda mais ouvintes. "Ela vai crescer em qualidade, especialmente porque ela é feita pelo coração, não tendo em vista a parte econômica, mas o movimento cristão", diz.

RádiosGênero tem 21% da preferência de ouvintes

O que não faltam são rádios para executar canções gospel. Em Curitiba, há pelo menos nove emissoras entre católicas e evangélicas. A Gospel FM é uma delas e está no ar há quatro anos. "Nós cobrimos 70 cidades no Paraná e 20 em Santa Catarina. Já tivemos 3 milhões de acessos na página da rádio na internet. Nosso diferencial é não sermos ligados a nenhuma igreja e assim termos ouvintes de todas as religiões", argumenta.

Uma pesquisa feita em 2010 pelo Instituto Ibope identificou que a música religiosa é o oitavo gênero musical mais pedido pelos 50 milhões de ouvintes das rádios brasileiras. O setor tem 21% de preferência. O sertanejo é o primeiro colocado, com 40%. A procura pelo segmento também provocou o crescimento de lojas especializadas em artigos religiosos. A comerciante Cleusa de Fátima Guerlinguer abriu há dois anos uma loja no centro de Ponta Grossa que vende desde camisetas a CDs com temas cristãos. "Eu tinha o costume de presentear as pessoas com bíblias e daí surgiu a ideia de montar uma loja. Vendo para padres, freiras e pastores evangélicos", diz.

Tevê

A demanda e a possibilidade de atração de anunciantes também têm chamado a atenção. A TV Globo exibiu em dezembro o musical Promessas, com cantores evangélicos, e já divulgou o interesse em manter um programa semanal nesse estilo na sua grade. Até o cantor Latino, depois do hit "Festa no Apê", anunciou que pretende lançar um CD gospel, mesmo sem ter se convertido para nenhuma nova denominação cristã.

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